 O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou nesta terça-feira (10) o julgamento sobre o suposto plano de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 30 réus. Na sequência dos depoimentos, a Corte ouviu Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal durante os ataques de 8 de Janeiro de 2023. Torres, que permaneceu preso por quatro meses após os ataques às sedes dos Três Poderes, manteve a estratégia de se distanciar de qualquer narrativa golpista, negando ter participado de articulações para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Celular perdido durante férias nos EUAUm dos pontos mais controversos do depoimento foi a explicação de Torres sobre o desaparecimento de seu celular. O ex-ministro afirmou que perdeu o aparelho enquanto passava férias nos Estados Unidos em janeiro de 2023. Na época, Torres atuava como secretário de Segurança do Distrito Federal e teve a prisão decretada após os atos violentos de 8 de Janeiro. Ele retornou ao Brasil sem o celular e forneceu apenas a senha do backup dos arquivos na nuvem. A ausência do aparelho é considerada pela investigação um obstáculo importante para o acesso a conversas e registros que poderiam esclarecer o envolvimento de Torres nos eventos que culminaram nos ataques aos Três Poderes. Live sobre urnas eletrônicasEm seu depoimento, o ex-ministro confirmou ter sido convocado por Bolsonaro para participar de uma transmissão ao vivo sobre as urnas eletrônicas em 2022, quando ainda comandava o Ministério da Justiça. Torres alegou, no entanto, que não possuía conhecimento técnico sobre o assunto e que se limitou a ler relatórios produzidos por sua equipe sobre o sistema eleitoral. “Não temos nada que aponte fraude nas urnas”, afirmou categoricamente. O ex-ministro manteve a versão apresentada anteriormente em depoimento à Polícia Federal, sustentando que os relatórios recebidos por ele apenas sugeriam melhorias à segurança dos dispositivos eleitorais, sem questionar a integridade do processo. “Todos vão se f*” se Bolsonaro perderUm dos momentos mais tensos do interrogatório ocorreu quando Torres foi questionado sobre sua fala em uma reunião ministerial, na qual teria dito que “todos vão se f*” caso Bolsonaro perdesse as eleições. “Faltei com a polidez”, reconheceu o ex-ministro, tentando minimizar o impacto de suas palavras. “O que queria era pedir empenho a todos”, justificou, afirmando que estava apenas preocupado com a continuidade dos programas de governo instituídos na gestão bolsonarista. Contradições apontadas por MoraesO ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, confrontou Torres sobre declarações feitas em reunião ministerial em julho de 2022, na qual o então ministro da Justiça manifestou preocupações com a segurança das urnas e citou a live de que havia participado com Bolsonaro. Moraes destacou que a narrativa golpista sobre fraudes nas eleições envolve um inquérito da Polícia Federal citado pelo ex-presidente na transmissão, colocando em xeque a afirmação de Torres de que “nunca questionou a lisura do processo eleitoral”. “Nunca questionei a lisura do processo eleitoral”, insistiu Torres, em aparente contradição com suas próprias declarações anteriores e com sua participação na estratégia de comunicação do governo Bolsonaro sobre o tema. Próximos depoimentosApós Torres, serão ouvidos, por ordem alfabética: Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI; Jair Bolsonaro, ex-presidente da República; Paulo Sergio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022. O depoimento de Bolsonaro é aguardado como um dos momentos mais importantes do julgamento, especialmente após as revelações feitas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, que confirmou o envolvimento direto do ex-presidente na elaboração de documentos para embasar um golpe de Estado.
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