 Durante ato na avenida Paulista no último domingo (31), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu a seus apoiadores que elejam 50% da Câmara dos Deputados e do Senado nas eleições de 2026. A fala marca uma guinada estratégica do ex-chefe do Executivo, que mira a conquista do Congresso como caminho para retomar protagonismo político, avançar pautas ideológicas e enfrentar o Supremo Tribunal Federal (STF). A mobilização para ampliar a base parlamentar bolsonarista é vista como uma tentativa de enfraquecer contrapesos institucionais e proteger aliados diante do cerco judicial crescente. Bolsonaro responde a ações penais no STF e é réu por tentativa de golpe de Estado. “Me deem 50% da Câmara e do Senado que eu mudo o destino do Brasil. Nem eu preciso ser presidente”, declarou o ex-presidente, ao sugerir que o poder legislativo pode ser o novo centro de gravidade do bolsonarismo. Congresso forte, Executivo opcionalDesde a promulgação do orçamento impositivo, em 2015, o Congresso Nacional ampliou seu poder de barganha e passou a ter maior protagonismo na agenda política nacional. A fala de Bolsonaro reconhece esse novo equilíbrio de forças, reposicionando o Legislativo como peça-chave para implementar sua agenda mesmo sem voltar ao Palácio do Planalto. Um dos focos é a anistia dos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro, que até agora não avançou por resistência no Congresso e rejeição popular. Com uma base fiel e majoritária, o ex-presidente acredita que poderá aprovar o perdão aos condenados e facilitar o impeachment de ministros do STF, tema recorrente entre seus apoiadores. Senado em disputaEm 2026, 54 das 81 cadeiras do Senado estarão em disputa, o que representa uma janela estratégica para alterar o equilíbrio de forças na Casa. Para que um impeachment de ministro do STF seja aprovado, são necessários 54 votos favoráveis — ou seja, a eleição de ao menos 39 senadores alinhados à pauta bolsonarista. A movimentação já acende alertas em setores do Judiciário, que veem na ofensiva uma forma de institucionalizar o embate com o STF por meio de maioria legislativa. Lideranças políticas avaliam a renovação no Senado como decisiva para o futuro da relação entre os poderes. Nas redes sociais, Bolsonaro alegou que seu objetivo é “ampliar a representação de uma maioria silenciosa” que, segundo ele, estaria “sistematicamente excluída dos espaços institucionais”. O ex-presidente também negou ter qualquer pretensão de “atuar fora dos marcos legais e democráticos”. A retórica aponta para a tentativa de consolidar a imagem de porta-voz de um eleitorado supostamente ignorado, ao mesmo tempo em que articula uma bancada legislativa ideológica e combativa.
|