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A fortuna “evaporada” do maior acionista minoritário da Americanas (AMER3)

- 23/08/2024 6 Visualizações 6 Pessoas viram 0 Comentários
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Por conta de um ato burocrático exigido pela lei que rege as empresas listadas na Bolsa de Valores no Brasil, o empresário do setor de educação, em Pernambuco, Inácio de Barros Melo Neto virou notícia nacional e assunto no mercado financeiro. Não era por menos. Ele havia se transformado em um dos maiores acionistas minoritários da Americanas (AMER3) – a polêmica varejista que entrou em recuperação judicial, no começo do ano passado, após anunciar um rombo contábil bilionário.

Acima de Melo Neto, no quadro dos maiores acionistas, estavam os pesos-pesados da 3G Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira – alguns dos homens mais ricos do país, com participações relevantes em gigantes como AB InBev, controladora da AmBev, Burger King, entre diversas outras.

A “fama repentina” aconteceu porque, em meados de julho, a Americanas (AMER3) divulgou um comunicado ao mercado – o que é obrigação quando algum acionista atinge uma participação acionária relevante, acima de 5% – informando que Melo Neto detinha 113 milhões de ações ordinárias da companhia. Isso equivalia a uma participação de 12,52% de todo o capital da empresa.

“Meu objetivo com a participação não é alterar a composição de controle ou a estrutura administrativa, mas sim ganhar capital em uma venda futura”, escreveu, em uma carta anexa, que acompanhava o comunicado.

No dia 12 de julho, o preço da ação da Americanas valia R$ 0,69. Ou seja, o valor de mercado destes papéis, pertencentes a Melo Neto, equivalia à cifra aproximada de R$ 77,970 milhões.

Entre as diversas entrevistas concedidas, nos dias seguintes “à fama”, Melo Neto contou que chegou a adquirir ações cotadas a R$ 0,40 – mas sem revelar, exatamente, qual era o preço médio de sua posição em AMER3. À Reuters, ele afirmou que estudava sobre renda variável há algum tempo e que confiava na capacidade financeira do trio de bilionários da 3G.

Ação desaba e fortuna “evapora”

O sonho, porém, de “ganhar capital em uma venda futura” pode ter virado pesadelo, desde a semana passada, quando a Americanas, finalmente, divulgou seu balanço financeiro com os números de 2023 e da primeira metade deste ano. E o buraco foi ainda mais profundo do que o esperado: um prejuízo de R$ 1,4 bilhão de janeiro a junho deste ano e outros R$ 2,27 bilhões, referentes a 2023.

Como consequência, no pregão seguinte ao balanço, o preço da ação chegou a desabar mais de 70%. Além do prejuízo bilionário, a empresa decidiu cancelar as previsões de desempenho publicadas no final do ano passado, para “reavaliar a expectativa de desempenho futuro em razão da divulgação dos resultados”.

Mas o mercado não perdoou. Desde então, o preço da ação da empresa só cai. Nesta quinta-feira (22), AMER3 terminou cotada a R$ 0,07.

Assim, considerando que, entre o anúncio da posição, em 12 de julho, e o pregão da véspera, o preço da ação desabou 89,85%, pode-se concluir que a “fortuna” de Melo Neto, em termos de valor de mercado, em AMER3 tenha sido “evaporada” em cerca de R$ 70 milhões.

O outro lado

Procurado pelo InfoMoney, Melo Neto preferiu não confirmar a sua posição atual em ações da Americanas, embora tenha respondido que “segue confiante” na varejista.

Eu acredito que a empresa vá mudar de patamar. Se o valor da ação baixar, eu posso comprar ainda mais”, disse Melo Neto, na mesma entrevista à Reuters, em julho, quando o preço da ação da Americanas beirava os R$ 0,70 – dez vezes mais do que agora.

Aumento de capital

Uma oportunidade de comprar novas ações e garantir sua participação veio pouco depois. Em 26 de julho, o conselho de administração da Americanas homologou um aumento de capital aprovado no início do ano. O movimento foi parte do plano de recuperação judicial definido pela companhia após a crise deflagrada em 2023.

Das mais de 18,8 bilhões novas ações emitidas pela companhia, investidores de referência e credores subscreveram praticamente metade cada um. Quem não estava em nenhum destes dois grupos viu sua participação somada no negócio cair para 3,2%.

O potencial de diluição do aumento de capital – isso é, quanto a mesma quantidade de ações proporcionalmente cairia na comparação ao capital total – foi superior a 90%.

Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, os acionistas de referência, subscreveram 9.437.503.566, equivalente a 49,2%. Outras 9.369.000.523 foram subscritas pelos credores, trocando dívida por participação em um somatório de 47,6% do total.

Pouco mais de 9 milhões de ações ficaram com demais acionistas, embora seja possível que alguns investidores institucionais também estejam no grupo de credores, como fundos de investimento.

Dada essa distribuição, as 113 milhões de ações de Melo Neto representariam, atualmente, uma participação próxima a 1% do capital da Americanas.

Grupamento de ações

Se o que está ruim não bastasse, já que as ações da companhia amargam desvalorização de 92% em 2024, novas quedas podem estar por vir.

Com a ação valendo atualmente R$ 0,07 – quantia que não se compra nem uma bala “nas Lojas Americanas” – o papel é o com o menor valor listado na Bolsa, entre as mais de 400 empresas.

À frente de AMER3 estão ações como a da Trevisa (LUXM3), que estavam cotadas a R$ 0,12, nesta quinta-feira (22), PDG (PDGR3), a R$ 0,17; e Infracommerce (IFCM3), a R$ 0,18.

E, como a empresa irá fazer um agrupamento de ações, na proporção de 100 para 1, novos espaços para queda se abrem. A operação será efetivada no dia 26 de agosto, passando a valer a partir do dia seguinte.

No grupamento de ações, também conhecido como inplit, a quantidade de papéis em circulação diminui, mas sem alteração do capital social ou o valor na carteira do acionista.

Em resumo, o investidor que tem 100 ações de Americanas a R$ 0,07, possui uma posição em carteira de R$ 7. Após o grupamento, ele terá apenas 1 ação, mas valendo R$ 7.

Mais quedas

O problema do grupamento de ações é que, embora ele possa aumentar o preço unitário das ações e melhorar a negociação, pode gerar uma percepção negativa entre investidores.

Isso porque investidores podem interpretar o aumento do preço como uma tentativa da empresa de mascarar o baixo valor das ações, o que pode afetar a confiança no papel.

Além disso, a redução da quantidade de ações em circulação pode diminuir a liquidez, tornando as ações menos negociáveis.




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