 Com os mercados globais saindo de um período de aparente calmaria, o Bradesco BBI vê o Brasil como a principal escolha para investidores em mercados latino-americanos. Em relatório divulgado nesta segunda-feira (4), os analistas do banco avaliam que a combinação de uma economia doméstica pouco integrada às dinâmicas globais, um ciclo de negócios próprio e um duplo desconto, tanto no câmbio quanto na avaliação das ações, torna o país atraente em meio à reprecificação dos ativos globais. Nos Estados Unidos, os sinais de desaceleração econômica têm se acumulado. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano (2T25) veio abaixo do esperado, enquanto o mercado de trabalho começa a perder fôlego. O S&P 500, principal índice das bolsas americanas, registrou na semana passada seu pior desempenho desde abril. Ainda assim, o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, tem mantido uma postura flexível, com o mercado apostando em um corte de juros já em setembro. A redução da atividade nos Estados Unidos tende a redistribuir os fluxos globais de capitais, e nesse contexto os analistas do Bradesco BBI veem os países latino-americanos bem posicionados. O Brasil, segundo o banco, se destaca por não estar diretamente vinculado aos efeitos da desaceleração americana, em parte por sua economia mais fechada e menos dependente do comércio exterior. O país, segundo o relatório, ainda se beneficia de dois vetores internos: o ciclo de queda da taxa de juros e as eleições municipais previstas para o segundo semestre. Os analistas também chamam atenção para a atratividade das ações brasileiras sensíveis à taxa de juros e das estatais. Na visão do BBI, mesmo que a atividade doméstica perca força, isso pode ser interpretado como um sinal benigno, por indicar maior espaço para cortes adicionais na Selic, a taxa básica de juros, que atualmente está a 15% ao ano. A possibilidade de valorização do real amplia a atratividade dos ativos locais. Com os cortes de juros ganhando espaço nos bancos centrais ao redor do mundo, em uma proporção de quatro reduções para cada alta, e com o dólar americano perdendo força frente a outras moedas, o Brasil, na leitura do BBI, é visto como um porto relativamente seguro. A posição neutra do índice DXY (Dollar Index, que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas) e a incapacidade de romper sua média móvel de 100 dias são interpretadas como sinais de que o “excepcionalismo americano” está sendo reavaliado. Outro países emergentesA leitura positiva sobre os mercados emergentes não se restringe ao Brasil. O Chile, por exemplo, aparece como uma segunda escolha do Bradesco BBI com recomendação de overweight (acima da média). Os analistas apontam a recuperação da economia chinesa como mais relevante para o país do que a desaceleração americana, e destacam o ambiente eleitoral como um fator-chave para os próximos meses. A atenção está voltada aos bancos, considerados bons representantes do comportamento do mercado local. O México, por sua vez, é avaliado com recomendação neutra, por ter forte ligação econômica com os Estados Unidos. Ainda assim, o país tem conseguido se destacar com empresas que possuem alto poder de precificação e um mercado acionário com desempenho superior ao de seus pares, segundo os estrategistas. As oportunidades no México, segundo o relatório, devem ser buscadas em setores como os de oligopólios locais e companhias ligadas à estratégia de nearshoring (realocação de cadeias de produção para regiões mais próximas dos consumidores finais). Já a Argentina permanece com recomendação underweight (abaixo da média). A combinação de instabilidade cambial, exposição ao preço internacional do petróleo e incertezas políticas em um ano de eleições legislativas leva os analistas a adotar uma postura mais cautelosa. Para piorar o quadro da Argentina, o recuo recente do petróleo Brent para abaixo de US$ 70 por barril e o aumento da produção por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) adicionam pressão sobre as receitas do país. Por ora, o banco segue à margem dos ativos argentinos, aguardando melhor relação entre risco e retorno. O relatório do Bradesco BBI também reforça que os fluxos de capital em direção à América Latina continuam em ritmo estável, mesmo após períodos de volatilidade. Os analistas observam que a criação de ETFs (Exchange Traded Funds, fundos de índice) focados na região se manteve firme tanto na correção do primeiro trimestre quanto nas últimas semanas, indicando interesse estrutural dos investidores. Isso se soma a um patamar de valuation ainda abaixo da média histórica e à expectativa de valorização cambial nos próximos meses.
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