O IPCA-15, prévia do principal índice de inflação do Brasil, em dezembro, veio com uma alta de 0,40% na base mensal, acima dos 0,27% projetados pelo mercado. O IGP-M, por sua vez, subiu 0,74% no mesmo mês, ante projeção de 0,66%. Apesar das médias consideravelmente acima do consenso do mercado, especialistas não as enxergam impactando as próximas decisões monetárias do Banco Central. No caso do IPCA-15, Claudio Moreno, economista do C6 Bank, diz que a principal explicação para o avanço da inflação no último mês do ano veio dos preços das passagens aéreas, que subiram 9,2%, “muito superior às projeções”. O banco tinha a perspectiva de que o segmento traria um recuo de 5% dos preços na comparação com novembro. “A composição do IPCA-15 de dezembro mostra um resultado mais benigno do que a surpresa dos 0,40% sugere. A inflação de serviços se mostrou um pouco mais resiliente, mesmo excluindo o impacto da alta das passagens aéreas. Já a inflação de bens industriais (-0,26%) veio abaixo do esperado, enquanto a dos núcleos do Banco Central ficou em linha com nossa previsão (0,28%)”, afirma o especialista. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje, ao comentar o IPCA-15, que apenas a questão do aumento dos preços das passagens aéreas é fonte de preocupação dentro do índice. “Só um item, o de passagens aéreas, está nos preocupando no IPCA”, disse o ministro durante entrevista coletiva. De acordo com ele, os preços subiram 65% nos últimos quatro meses. “Já estavam cara e subiram 65%”, reforçou. Inflação dos alimentosO time macro da BGC Strategy vai na mesma linha afirmando que a forte inflação registrada para passagem aérea ofuscou alguns detalhes favoráveis da divulgação, como, por exemplo, a inflação de alimentos. “O número não foi tão ruim igual a surpresa altista sugere”, aponta Rafael Costa, analista e integrante da equipe. “A forte inflação registrada para passagem aérea ofuscou alguns detalhes favoráveis dessa divulgação, como na inflação de alimentação.” Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, também destaca a performance desse último grupo. Segundo ela, o grupo, que teve alta de 0,82% no mês, ante 0,54% em novembro, trouxe uma dinâmica positiva apesar da alta. “Mostra que o El Niño não pressiona acentuadamente o indicador por meio da redução da oferta de frutas, tubérculos e hortaliças, cuja inflação desacelerou no período que é sazonalmente crítico”, contextualiza. Preços voláteisNa avaliação da Kinitro Capital, apesar de o IPCA-15 ter vindo muito acima da mediana, a abertura do dado não deve ser interpretada como ruim, tendo em vista que a maior parte dos desvios foram em itens voláteis e que não compõem os núcleos e as medidas subjacentes. No conjunto de preços livres, com alta de 0,34%, eles apontam que houve o impacto das passagens aéreas, mas Bens industriais apresentaram deflação de 0,26% e Alimentação no domicílio, de 0,55%. “Olhando os Serviços subjacentes, o dado veio em linha com o esperado, com alta de 0,39%. Ele exclui dentre outros itens, as passagens aéreas, reforçando a leitura de que a surpresa do headline no mês se deu ao desvio desse item volátil”, reforça a equipe da gestora, encabeçada por João Savigno. “Apesar da surpresa de alta, o dado não deve alterar o rumo da política monetária. A taxa Selic está em patamar bastante restritivo e há espaço para os cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom”, afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter. AluguelNo caso do IGP-M, André Cordeiro, economista-sênior do Inter, explica que o resultado foi fruto de maior pressão no índice de preços ao produtor (IPA), que avançou 0,97%, que refletiu forte pressão de alimentos in natura, que avançou 6,20% em dezembro. Além disso, commodities também contribuíram para o resultado, com as matérias-primas brutas avançando 3,06% no mês, refletindo as altas de 4,63% no minério de ferro, de 11,3% no milho, e de 2,03% na soja. “De modo geral, vemos um comportamento benigno do índice de preços ao consumidor, em linha com o observado no IPCA. As pressões vêm do lado do produtor, com as commodities acelerando, o que eventualmente pode se traduzir em pressões aos consumidores. Apesar do resultado mais forte que o esperado, o IGP-M encerrou 2023 com queda de 3,18%, a menor taxa registrada no encerramento de um ano em toda a série histórica”, diz. Apesar das interpretações, a curva de juros brasileira subia em bloco, por volta das 12h. Os vencimentos para 2025 sobem 0,060 pp, a 10,050%; em 2027, +0,105 pp, a 9,750%; em 2029, +0,080 pp, a 10,090%; e em 2031, +0,060 pp, a 10,270%. |
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