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Judiciário

Após atrito com Padilha e primo exonerado, Lira abre espaço para oposição na Câmara

- 17/04/2024 9 Visualizações 8 Pessoas viram 0 Comentários
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Em meio à tensão crescente entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a oposição parece ter uma oportunidade para ganhar força no Poder Legislativo − o que pode colocar em risco o andamento de projetos de interesse do Poder Executivo.

De acordo com reportagem publicada pelo jornal O Globo, Lira comunicou a líderes partidários, na terça-feira (16), que abrirá espaço para adversários do governo, que apostam em medidas com alto potencial de desgaste à atual administração. Um desses movimentos envolve, inclusive, a instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) sobre assuntos indesejados pelo Palácio do Planalto.

O movimento de Lira ocorre em meio aos choques crescentes com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), classificado pelo próprio parlamentar como “incompetente” e “desafeto pessoal”.

As novas críticas de Lira a Padilha, feitas na semana passada, ocorreram no dia seguinte à manutenção da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em março de 2018.

O governo se envolveu diretamente nas discussões e orientou a base aliada a não defender a soltura do congressista − direção oposta às articulações feitas pelo deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), aliado de primeira hora de Lira e cotado como um dos favoritos para sucedê-lo no comando da Câmara dos Deputados a partir de 2025.

Nos bastidores, o episódio foi visto como uma derrota do grupo político de Lira − o que gera tensão em razão da proximidade da disputa pela presidência da casa legislativa, processo sobre o qual Lira tenta manter influência direta.

Questionado se teria ficado “enfraquecido” com o episódio, o parlamentar disparou: “Essa notícia de hoje, que você está tentando verbalizar porque os grandes jornais fizeram, foi vazada pelo governo, e, basicamente, pelo ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, incompetente”.

“Não existe partidarização. Eu deixei bem claro que ontem a votação é de cunho individual, que cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver”, completou Lira, na ocasião.

O presidente da Câmara e o articulador político do governo junto ao Congresso já vinham em rota de colisão desde o início do governo. Lira acusa Padilha de não cumprir acordos firmados com os parlamentares e critica a condução política do governo e a dificuldade no processo de liberação de emendas aos deputados.

O incômodo do parlamentar só cresceu com o veto de Lula à distribuição de R$ 5,6 bilhões em emendas para as comissões permanentes das duas casas legislativas. Havia expectativa de uma sessão conjunta do Congresso Nacional nesta semana, que poderia culminar na derrubada do dispositivo, mas o encontro foi adiado, dando tempo para o Poder Executivo costurar uma saída para o impasse (que poderá passar pela aprovação de projeto de lei que trata da volta do antigo DPVAT).

5 CPIs simultâneas

Na conversa com os líderes partidários, segundo O Globo, Arthur Lira teria indicado que pretende autorizar a instalação de 5 CPIs simultâneas, o que acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto. De acordo com o regimento da casa legislativa, este é o número máximo de comissões desta natureza que podem funcionar ao mesmo tempo.

Entre os requerimentos apresentados que já alcançaram o número mínimo de assinaturas necessárias para a instalação de CPI, estão investigações sobre o suposto abuso de autoridade do Poder Judiciário, o crime organizado, o avanço do crack no país, o tráfico infantil e a exploração sexual. Temas delicados que podem dar projeção a parlamentares de oposição e desviar o foco de proposições de interesse do governo em um ano de agenda mais curta, por conta das eleições municipais.

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Em choque com governo Lula, Arthur Lira vê primo ser exonerado de cargo no Incra

Wilson César de Lira Santos, primo do presidente da Câmara, foi exonerado do cargo de superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas

Primo de Lira exonerado e MST na mira

Lira decidiu, ainda, pautar em plenário a urgência de um projeto que estabelece sanções administrativas e restrições a invasores de terra. A medida foi tomada em meio ao chamado “abril vermelho”, encampado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tradicional aliado de Lula e do PT.

Trata-se do mês durante o qual o MST leva a cabo a Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária, com uma série de invasões em todo o país. O grupo relembra os mortos no massacre de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, em abril de 1996.

Para aumentar o clima de tensão, ontem (16), foi publicada no Diário Oficial da União, a exoneração Wilson César de Lira Santos, primo de Arthur Lira, do cargo de superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas. Nos bastidores, o parlamentar se queixou da ausência de aviso prévio. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), por sua vez, disse que Lira poderia indicar nomes que tivessem perfil de diálogo com o MST.

No domingo (14), o MST anunciou a reocupação de uma fazenda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Petrolina (PE), a cerca de 700 quilômetros de Recife (PE). Outras duas propriedades no estado também foram ocupadas – uma da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), cedida à Embrapa, e outra da falida usina Maravilha, que está em desapropriação.

Essas terras da Embrapa já haviam sido invadidas duas vezes no ano passado, o que gerou atritos com o governo Lula. As lideranças do MST alegam que o governo federal não cumpriu com a promessa de assentar as mais de 1,3 mil famílias acampadas na região. O grupo pedia a saída do primo de Lira do cargo no Incra.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário, ao qual o Incra está subordinado, informou que a saída de Wilson César de Lira Santos já estava prevista e não tem nenhuma relação com o embate entre o presidente da Câmara e o ministro Padilha. Até o momento, nem o Incra nem o próprio Arthur Lira se manifestaram sobre o assunto.

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Reação contra investigações de parlamentares

Em outra frente, o presidente da Câmara pretende incentivar a criação de um grupo de trabalho que vise a reagir diante de investigações contra parlamentares. Operações recentes da PF tiveram como alvos os deputados oposicionistas Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ). A prisão de Chiquinho Brazão também desagradou a Lira e aliados.

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