![]() A inflação de bens em categorias essenciais nos Estados Unidos começou a mostrar os esperados eleitos da incerteza trazida pela nova política tarifária da administração de Donald Trump. Segundo economistas, bancos e casas de investimentos, os sinais de elevação ainda são incipientes e localizados, mas suficientes para inflar tanto as expectativas indicador do consumo (PCE) quanto para reforçar apostas de que o Fed vai continuar algum no modo “espera” antes de começar a cortar os juros. O CPI de junho divulgado hoje veio em 0,3%, ligeiramente abaixo das expectativas, enquanto o núcleo da variação de preços foi de 0,23% na comparação mensal. Em 12 meses, a inflação ao consumidor está em 2,7%, enquanto o núcleo está em 2,9. Em sua análise, a equipe do Morgan Stanley comenta que, como esperado, o núcleo dos bens voltou ao território positivo, mostrando nítidos sinais de um impulso tarifário nos preços. Mas o banco de investimentos pondera que ainda há bens que serão fortemente tarifados e que não têm sinais de pressões significativas até o momento, como os carros. “Esperamos mais aceleração no restante do verão, com leituras mensais atingindo o pico em agosto”, prevê. Para o banco, as projeção de leituras de inflação mais fortes pela frente e uma taxa de desemprego relativamente baixa no restante do ano vão atrasar os cortes de juros pelo Fed até 2026. “Esperamos que o Fed comece a cortar as taxas em março de 2026. No entanto, pode se inclinar para cortes mais cedo se a inflação estiver mais contida durante o restante do verão”, pondera. O Morgan Stanley comenta ainda que as tarifas serão muito mais evidentes na divulgação do PCE, a inflação do consumo. “Incorporando dados do CPI, agora projetamos que a inflação do núcleo do PCE aumentou 0,35% mês a mês em junho, levando o ritmo de 12 meses para 2,81% ano a ano. Para Scott Helfstein, chefe de estratégias de investimentos da Global X ETFs, esse é um tipo de relatório de inflação perfeito para o Fed, e quente o suficiente para justificar a política de manter as taxas estáveis, porém sem refletir preços descontrolados. “A questão agora é se o mercado de trabalho se manterá firme durante o verão, e provavelmente se manterá. Se vierem resultados corporativos fortes no segundo trimestre, as previsões de crescimento para os EUA podem ser revisadas para cima”, comenta. Na opinião de Andressa Durão, economista do ASA, esses primeiros sinais de pressão inflacionária associados às tarifas, ainda que incipientes, ocorrem em um contexto de economia sólida e mercado de trabalho ainda resiliente, cenário que reduz a necessidade imediata de cortes de juros. “Por outro lado, permanece o risco de deterioração nos próximos dados, especialmente diante do retorno da incerteza política nas últimas semanas”, afirma, com a estimativa de que o Fed manterá a taxa inalterada em julho e seguirá monitorando atentamente os indicadores de inflação e atividade até a reunião de setembro. Seema Shah, estrategista-chefe da Principal Asset Management, por sua vez, comenta que a capacidade do Fed para cortar as taxas de juros dependia fortemente da inflação de hoje. “Com os dados mais suaves do que o esperado pelo quinto mês consecutivo, pode parecer que ainda há poucos sinais do impacto das tarifas para a inflação que o Fed vinha esperando. No entanto, com os aumentos em categorias como setor imobiliário doméstico, lazer e vestuário, as taxas de importação estão impactando os bens essenciais.” Ele faz a ressalva que os impactos aduaneiros demoram normalmente vários meses para chegar aos dados da inflação e que, e embora qualquer aumento da inflação induzido por tarifas seja provavelmente de curta duração, seria sensato que o Fed aguardasse durante mais alguns meses antes de pensar em reduzir os juros. Olho no empregoEsse é o mesmo raciocínio de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “Embora os dados tenham vindo dentro do esperado, o qualitativo ligeiramente pior mantém a postura cautelosa do banco central norte-americano. Vale destacar que o índice já reflete, mas não completamente, os efeitos das novas tarifas comerciais impostas em abril. Os impactos dessa política comercial devem ser sentidos com mais força nos próximos meses”, reforça. Nesse contexto, a Suno avalia que o banco central norte-americano terá espaço mais limitado para cortar juros. “Acreditamos que a inflação pesará mais no balanço de riscos do que a desaceleração da atividade econômica. Passado o choque das tarifas, esperamos o primeiro corte na taxa de juros no final de 2025”, diz. Por outro lado, caso o mercado de trabalho mostre sinais mais claros de enfraquecimento, indicando uma perda de dinamismo da economia, Sung diz que o Fed poderá intensificar os cortes de juros ao longo do ano. Para o Bradesco, o movimento de aceleração da inflação de bens mostra os primeiros sinais de pressão de preços ao consumidor proveniente das tarifas de importação e deve se amplificar nos próximos meses. “Esperamos aceleração dos preços dos veículos usados em julho, considerando os valores observados nos leilões. Para o Fed, o dado divulgado hoje apenas reforça a necessidade de manutenção dos juros enquanto aguarda novas informações e avalia o impacto das tarifas sobre a inflação”, comenta. Na opinião de Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, a perspectiva de uma inflação mais alta à frente deve manter o Federal Reserve cauteloso, à espera de sinais mais claros sobre os impactos da nova política comercial para definir os rumos da política monetária. “Diferentemente do consenso do mercado, não descartamos a possibilidade de os juros serem mantidos no patamar atual, de 4,25% a 4,5%, até o fim de 2025.” |
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