 Em ensaio publicado no The Wall Street Journal, na sexta-feira (24), Bill Gates, cofundador da Microsoft e filantropo, compartilhou reflexões pessoais sobre sua infância e admitiu que, se crescesse hoje, provavelmente teria sido diagnosticado no espectro do autismo. Ele descreveu como, durante sua adolescência, apresentava comportamentos que hoje são associados à neurodivergência, como obsessão por projetos específicos, dificuldades em perceber pistas sociais e momentos de inadequação social sem perceber o impacto nos outros. “Eu era meio monomaníaco em relação a algumas coisas e não sabia bem como me conectar com as outras pessoas. Hoje, acho que me colocariam em algum tipo de espectro”, disse Gates. Gates destacou o papel fundamental de seus pais, Bill e Mary Gates, em oferecer o equilíbrio certo de apoio e pressão para que ele se desenvolvesse. “Eles me deram espaço para crescer emocionalmente e criaram oportunidades para eu desenvolver minhas habilidades sociais. Em vez de me permitir me voltar para dentro, eles me empurraram para o mundo”, revelou. Segundo ele, os pais o incentivaram a participar de atividades como escoteiros e esportes, além de promoverem interações com adultos, o que ajudou a expandir suas habilidades sociais. Ele reconheceu que, na época, não havia compreensão sobre neurodivergência, mas seus pais intuitivamente souberam como guiá-lo. “Mesmo com a influência deles, meu lado social demorou a se desenvolver, assim como minha consciência do impacto que posso ter sobre outras pessoas. Mas isso veio com a idade, com a experiência, com os filhos, e sou melhor por isso. Gostaria que tivesse vindo mais cedo, mesmo que eu não trocasse o cérebro que recebi por nada”, disse. O bilionário também falou sobre como sua paixão por programação, iniciada na adolescência, foi uma forma de explorar o mundo de maneira particular. Ele relembrou momentos em que se perdia em pensamentos sobre códigos durante longas caminhadas, usando o ritmo das trilhas para resolver problemas complexos. A capacidade de imersão em temas específicos, segundo ele, foi importante para seu sucesso na criação da Microsoft. Além das memórias pessoais, Gates abordou temas atuais, como seu encontro recente com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Eles discutiram questões de saúde pública, um tema que tem sido central na atuação da Fundação Bill e Melinda Gates. O empresário ressaltou a importância de políticas eficazes para combater doenças e promover o acesso global a tratamentos e vacinas. Gates também comentou sobre as tensões entre os EUA e a China, enfatizando a necessidade de cooperação internacional em áreas como saúde e tecnologia. Ele defendeu que, apesar das divergências políticas, o trabalho conjunto ajuda a enfrentar problemas globais, como pandemias e mudanças climáticas. Sobre suas memórias, o empresário expressou gratidão pelas oportunidades que teve e pela influência de seus pais em sua trajetória. Ele reconheceu que, embora tenha demorado a desenvolver plenamente suas habilidades sociais, essas experiências o tornaram quem é hoje. A entrevista encerrou com Gates refletindo sobre o futuro, afirmando que continua focado em projetos de longo prazo, como avanços na saúde global e no combate à pobreza, mas admitiu que, com a idade, passou a valorizar mais o exercício de olhar para trás e compreender como suas experiências moldaram sua vida e seu legado.
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