 A coalizão governista do Japão provavelmente perderá sua maioria na câmara alta, segundo pesquisas de boca de urna, um resultado que enfraqueceria ainda mais a liderança do premiê Shigeru Ishiba, atualmente em dificuldades, e potencialmente desestabilizaria os mercados. Uma pesquisa da emissora pública NHK mostrou que a coalizão governista deve conquistar cerca de 32 a 51 das 125 cadeiras em disputa na eleição de domingo, provavelmente ficando abaixo das 50 necessárias para manter a maioria na câmara. A NHK afirmou que o bloco governista enfrenta “uma situação difícil” para manter o controle absoluto do órgão de 248 membros. O jornal Asahi estimou que o Partido Liberal Democrata (PLD) de Ishiba venceria cerca de 34 cadeiras e seu parceiro de coalizão menor, o Komeito, obteria cerca de sete, totalizando aproximadamente 41 cadeiras. O Nikkei disse que o bloco deve perder um número significativo de cadeiras, sem dar uma estimativa. Um segundo revés eleitoral para Ishiba, após o resultado ruim na câmara baixa em outubro passado, colocaria sua agenda política em maior desordem, complicaria as negociações comerciais com os EUA e poderia custar-lhe o cargo. Os últimos três primeiros-ministros do PLD que perderam a maioria no Senado renunciaram em até dois meses. Ishiba não planeja renunciar ao cargo mesmo se o bloco governista perder a maioria no Senado, informou o jornal Sankei no domingo, sem citar fontes. A reportagem disse que o PLD continuaria a deter o maior número de cadeiras em ambas as câmaras e que Ishiba planeja continuar governando com o apoio dos partidos de oposição. Investidores têm acompanhado de perto a campanha eleitoral por receio de que o Japão, que tem a maior dívida pública do mundo desenvolvido, afrouxe sua disciplina fiscal. Participantes do mercado expressaram preocupação crescente sobre a capacidade dos legisladores de conter os gastos, um fator que ajudou a elevar os rendimentos da dívida japonesa aos níveis mais altos em mais de duas décadas. Os mercados de ações e títulos estarão fechados na segunda-feira devido a um feriado nacional no Japão. O iene será negociado desde cedo, oferecendo uma primeira indicação de como os investidores estão digerindo o resultado da eleição. As urnas fecharam às 20h no horário local após uma campanha eleitoral centrada no descontentamento crescente com a alta dos preços. Os salários não acompanham a inflação em uma nação que não experimentava aumento real de preços há mais de uma década, levando a um aumento dos votos para partidos menores — incluindo um partido de direita emergente que defende uma agenda “Japão Primeiro”. A câmara alta, menos poderosa, não pode nomear o primeiro-ministro, realizar voto de desconfiança ou impedir a aprovação do orçamento. Mas pode atrasar ou bloquear outras legislações, potencialmente levando a um impasse no processo de formulação de políticas. Enquanto quase todos os partidos de oposição defendem a redução do imposto sobre vendas para aliviar a pressão sobre as famílias, o governo de Ishiba afirmou que pagamentos únicos em dinheiro são melhores porque têm menor impacto nas finanças do país. A perda da maioria o deixaria dependente do apoio dos partidos de oposição para aprovar leis, pressionando-o a fazer alguma concessão sobre o imposto sobre vendas. A disputa sobre os gastos ocorre enquanto o Japão enfrenta o prazo de 1º de agosto para fechar um acordo com o presidente dos EUA, Donald Trump, antes que as tarifas gerais sobre exportações para os EUA subam de 10% para 25%. Tal medida reduziria o Produto Interno Bruto (PIB) do Japão em 0,9% no médio prazo, segundo a Bloomberg Economics. O Japão também enfrenta pedidos de Trump para aumentar ainda mais os gastos com defesa. A pesquisa de boca de urna da NHK mostrou que o principal partido de oposição, o Partido Democrático Constitucional, deve conquistar entre 18 e 30 cadeiras, provavelmente mais do que as 22 que tinha antes da eleição. O partido defende a isenção do imposto sobre vendas para alimentos por até dois anos. As mesmas pesquisas indicam que o pequeno Partido Democrático pelo Povo deve ganhar entre 14 e 21 cadeiras, contra quatro atualmente, atraindo eleitores mais jovens que buscam maior renda líquida. O partido de direita Sanseito, que explorou o sentimento anti-imigrante, pode conquistar entre 10 e 22 cadeiras, um salto enorme em relação à única cadeira que tinha antes. © 2025 Bloomberg L.P.
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