Uma das prioridades do governo federal na área da sustentabilidade, a proposta de criação do Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões (SBCE) deve ter dificuldades para ser aprovada até a COP28, por um impasse entre o próprio governo e o agronegócio. A falta de consenso ficou evidente na sexta-feira (27), em um evento na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Representantes de entidades como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) se reuniram com Renata Miranda, secretária de inovação, desenvolvimento sustentável, irrigação e cooperativismo do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Também participaram dos painéis o embaixador André Aranha Corrêa do Lago, secretário de clima, energia e meio ambiente do Ministério de Relações Exteriores, e também o diplomata Roberto Azevedo, ex-diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). A COP28 será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a partir de 30 de novembro, e representantes do agronegócio veem com resistência o plano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de apresentar um texto de regulamentação para o SBCE — mais conhecido como mercado de carbono. Apesar da resistência do agro, o Planalto acredita que a aprovação de uma proposta que regulamente o mercado de carbono no Brasil em menos de um mês, antes da COP28, é um movimento essencial para inserir o país na vanguarda do debate sobre sustentabilidade entre a comunidade internacional. Para o agronegócio, uma das dificuldades é debater, ao mesmo tempo, o Projeto de Lei que regulamenta o mercado de carbono, que foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente do Senado no início do mês e agora está em discussão na Câmara, e o texto que regulamenta o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE). Isso pode fazer com que questões inerentes ao mercado voluntário de carbono, que já estavam pacificadas, voltem ao debate e impliquem em uma demora maior na aprovação no Congresso. A representante do Mapa enalteceu, no evento da Fiesp, o potencial agrícola brasileiro. Miranda disse que o país é “o dono da bola e o dono do campinho” quando o assunto envolve a produção de alimentos, e por isso será sempre ouvido em fóruns internacinais. Para Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas, “o mercado de carbono não é um fim em si mesmo”. “Ele é um instrumento e, como tal, serve para algumas coisas e não serve para outras. Um debate deve considerar quais são os limites deste instrumento e, de outro lado, onde queremos chegar”, frisou, durante participação no evento. Impasse na CâmaraNa quinta-feira (26), o deputado federal Aliel Machado (PV-PR) foi designado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para ser o relator do proposta que deverá apensar os dois projetos em discussão na Câmara. Representantes do agro ouvidos pela reportagem do InfoMoney acham que o movimento pode fazer com que haja um “universo de jabutis” entre as emendas a serem apresentadas. Durante a tramitação no Senado, só houve consenso entre os parlamentares, na Comissão de Meio Ambiente, em torno de uma proposta de regulamentação do mercado de carbono. E o acordo só foi selado após representantes da bancada ruralista conseguirem que o setor não fosse enquadrado nas exigências previstas no texto. Eles temem um aumento de custos e perda de competitividade e dificuldades para verificar as emissões. No emaranhado de proposições sobre o tema, a Câmara já adiou duas vezes, nos últimos dias, a realização de uma audiência pública sobre o Projeto de Lei 588/2020 — uma terceira proposta sobre o assunto. Além disso, fontes do governo ouvidas pela reportagem indicam que o Ministério da Fazenda pode enviar, embreve, mais um Projeto de Lei sobre o mercado de carbono para o Congresso. A reportagem procurou o Ministério da Agricultura para entender qual é o posicionamento do governo em relação à tramitação dos projetos que regulamentam o mercado de carbono, mas não obteve resposta. No evento da Fiesp, a secretária do Mapa evitou dar declarações à imprensa sobre o assunto.
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