Perícia preliminar da Laspro Consultores Ltda., empresa designada pela Justiça para analisar as informações sobre o pedido de Recuperação Judicial da SouthRock, aponta a necessidade de proteção contra credores para a gestora das marcas Starbucks, Subway, Eataly e TGI Fridays no Brasil, “para a manutenção das atividades e da função social das requerentes”. A consultoria, no entanto, destacou a ausência de informações importantes para uma análise aprofundada e uma conclusão definitiva sobre o pedido. Ela também apontou diversos problemas na contabilidade da SouthRock, como transferências de valores entre empresas do grupo. A conclusão está no documento apresentado pela Laspro ao juiz Leonardo Fernandes dos Santos, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, na segunda-feira (13). Ele havia determinado a perícia sobre os números da empresa para decidir se aceita (ou não) o pedido de Recuperação Judicial, em que a SouthRock alega dívidas de R$ 1,8 bilhão. O IM Business teve acesso à perícia, que tem mais de 200 páginas e foi juntada aos autos do processo. Na folha 11.980, a Laspro afirma que “análises preliminares apontam para a necessidade do processo recuperacional para a manutenção das atividades e da função social das requerentes, especialmente das sociedades operacionais neste primeiro momento”. A consultoria se refere às empresas que têm receita e sustentam a operação do grupo, como o Starbucks, o Eataly e a rede de restaurantes em aeroportos (BAR). O grupo SouthRock colocou diversas empresas no pedido RJ, inclusive CPNJs não-operacionais, que segundo a perícia preliminar são sustentados pelas “sociedades operacionais”. “Não remanescem dúvidas de que há atividade a ser preservada com relação às sociedades operacionais, a saber, STARBUCKS BRASIL, AMERICANA, BRAZIL HIGHWAY, WAHALLA, EATALY BRASIL, BRAZIL AIRPORT, SÃO PAULO AIRPORT, RIO AIRPORT, BRASILIA AIRPORT, SUL AIRPORT e BELO HORIZONTE AIRPORT”, afirma a consultoria. Fundada em 2015, a SouthRock se especializou no desenvolvimento de restaurantes de aeroportos, por meio da Brazil Airport Restaurants (BAR), e em grandes marcas consolidadas fora do Brasil, como Starbucks, Subway e Eataly. A gestora fechou um acordo de licenciamento com a Starbucks em 2018, para ser operadora exclusiva das unidades da marca no país, e em maio de 2022 assumiu a gestão do Subway — que não foi incluída no pedido de RJ. O documento diz também que “os custos e as despesas operacionais vêm absorvendo significativa parcela das receitas auferidas nos últimos anos, acarretando descasamento de fluxo de caixa e aumento considerável do endividamento”, segundo a documentação contábil e financeira das empresas que foi analisada. Transferências entre empresasA Laspro pontua, no entanto, que “parte da documentação trazida aos autos do processo pelas requerentes merece ser retificada e/ou complementada”. Diz ainda que, “antes de apresentar o parecer conclusivo acerca de eventual consolidação processual e substancial”, “por cautela, deverão as requerentes prestar esclarecimentos adicionais em relação às sociedades não-operacionais, atualmente sem faturamento”. A perícia destaca que empresas operacionais do grupo tomavam empréstimos e repassavam os valores para outras, “de forma a fomentar a atividade empresarial como um todo”, e por isso “há indicativos de vínculos econômicos constatados entre as requerentes”. Diz também que as “sociedades operacionais” (Starbuck e Eataly, entre outras) “demonstram normalidade na operação”, mas “ao que tudo indica, os faturamentos obtidos até junho de 2023, foram redirecionados para o adimplemento de gastos operacionais e financeiros de todo o grupo empresarial, incorridos no mesmo período, apresentando, no geral, situação deficitária no primeiro semestre”. Para o advogado Gabriel de Britto Silva, especializado em direito empresarial, “no decorrer do laudo é expressamente indicado que os custos e as despesas operacionais vêm superando as receitas e que o fôlego financeiro para que o grupo continue a operar advém da captação de recursos por meio de empréstimos e financiamentos. “Isso claramente não é solução”, afirma o advogado. “Só cria uma aparente e frágil viabilidade da operação e um consequente aumento crescente e contínuo do rombo”. Ele também chama a atenção “para o fato de que Starbucks e Eataly vêm tendo os seus faturamentos redirecionados para o adimplemento de gastos operacionais e financeiros das demais sociedades empresariais de todo o grupo”. “Uma das soluções para a viabilidade do plano de recuperação, poderá ser o desmembramento do grupo, com a atuação da Starbucks e do Eataly de forma autônoma, independente e dissociada das demais sociedades empresárias, considerando que as demais empresas vêm sugando a riqueza gerada por elas”. Empresas fora do pedido de RJA Laspro também destaca, no documento, que outras empresas do grupo não foram incluídas no pedido de RJ, como as empresas SOUTHROCK FOODS S/A, SAVANNA PARTICIPAÇÕES S/A, SUBWAY BRASIL PARTICIPAÇÕES S/A, SUBWAY DO BRASIL LTDA., SR N PARTICIPAÇÕES S/A e SPORT PARTICIPAÇÕES S/A, mas que no momento não entraria no mérito sobre a inclusão forçada no processo. Ela destaca que “a existência de transações financeiras entre empresas do grupo que não foram incluídas no bojo da Recuperação Judicial não é fator determinante” para a análise do pedido de proteção, mas diz que o processo “deve ser permeado pelos princípios da transparência e da ampla publicidade”. Por isso, recomenda ao grupo SouthRock que, “no momento oportuno, apresente os esclarecimentos necessários aos credores e demais interessados, juntando maior detalhamento sobre como se dão as operações financeiras e o tráfego de recursos financeiros intragrupo, especialmente em relação àquelas sociedades que não integraram ao procedimento recuperacional”. Dois dia após a apresentação da perícia prévia, o escritório TWK Advogados (Thomaz Bastos, Waisberg e Kurzweil), que representa a SouthRock e suas empresas no processo, pediu ao juiz da 1ª Vara de Falências de SP que o Eataly, um centro gastronômico de luxo na Avenida Juscelino Kubitschek, em São Paulo, fosse excluído do pedido de Recuperação Judicial. A solicitação tem apenas uma página e não inclui uma justificativa. Ainda não há decisões sobre os pedidos — nem da RJ da SouthRock, nem da desistência do Eataly. IM Business Newsletter Quer ficar por dentro das principais notícias que movimentam o mundo dos negócios? Inscreva-se e receba os alertas do novo InfoMoney Business por e-mail. |
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