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Cenário externo impacta Bolsa brasileira e mingua rali de junho: o que monitorar?

- 26/06/2023 18 Visualizações 18 Pessoas viram 0 Comentários
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Na penúltima semana de junho, e do primeiro semestre de 2023, o Ibovespa teve sua sequência de altas praticamente interrompida. A percepção de que bancos centrais mundo afora irão reforçar suas lutas contra a inflação derrubou o índice e foi apontado por especialistas como um dos principais motivos para o enfraquecimento.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, falou em audiência no Congresso norte-americano que vê neste ano mais duas altas da fed funds, hoje no intervalo de 5% a 5,25%. Já no Reino Unido, o Bank of England (BoE) surpreendeu o mercado ao subir sua taxa de juros em 50 pontos-base, para 5%, quando o consenso era de 25 pontos-base. Na semana imediatamente anterior, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, havia afirmado que ainda há um “caminho a ser percorrido” após anunciar uma alta de 25 pontos-base nas taxas básicas de juros na região, para 3,5%.

As movimentações reacenderam o temor de que, com o cenário de alta de juros para conter a inflação, o mundo possa entrar em uma recessão. Isso impactou os ativos de risco e as rendas fixas mundo afora.

Do início de junho até a última quarta, o Ibovespa acumulava uma alta de 11,1%. Desde então, o índice recuou cerca de 2,5%, ainda que acumulando ganhos de 8,5% no mês.

“Uma política monetária mais dura traz a perspectiva de desaceleração da atividade econômica global. O mercado está lendo como um driver para desinflacionar globalmente, e aqui dentro também”, fala Marcelo Guterman, especialista de investimentos da Western Asset. “Apesar de o mercado de juros estar refletindo isso de maneira bastante forte, a Bolsa brasileira sofreu um pouco. Mas é preciso, também, qualificar um pouco o que é Bolsa”.

O especialista da Western destaca que enquanto ações de exportadoras de commodities, com pesos importantes no Ibovespa, recuaram, ativos ligados ao mercado brasileiro avançaram, no aguardo de um recuo das taxas de juros – sendo que uma economia mundial mais enfraquecida pode abrir mais espaço para isso.

Nem mesmo a sinalização mais dura do Comitê de Política Monetária local (Copom) quanto à trajetória da Selic no Brasil, na última quarta, mudou a tendência. A curva de juros recuou, com o DI para 2027, por exemplo, saindo de 10,53% para 10,37% ao longo da semana, e as ações de varejistas avançaram, enquanto os papéis ordinários da Vale (VALE3) recuaram cerca de 5% nos últimos cinco dias.

Queda das commodities tira pressão inflacionária, mas pode derrubar o fiscal

Apesar do recuo recente das taxas de juros, as projeções para o Ibovespa e para o cenário brasileiro também dependem do futuro das commodities. E, nessa frente, especialistas divergem levemente.

“Acho que o minério já caiu bastante e o petróleo caiu também. Isso ajuda, porém, no cenário interno. Provavelmente a Petrobras  PETR4 vai aproveitar esse espaço para derrubar mais ainda os preços aqui, o que dá uma mãozinha aí de curto prazo na inflação e para o Banco Central”, explica Guterman.

Do outro lado, há quem aponte que o recuo acentuado do preço dos produtos não manufaturados possa impactar o fiscal brasileiro. As commodities, historicamente, têm importância na balança comercial do país e, decorrentemente, nas contas públicas. Soja, petróleo e minério, nessa ordem, são os bens mais vendidos do Brasil para o exterior.

Para a Western, o atual momento, porém, não é de uma recessão profunda global, mas sim de uma “desaceleração cíclica”.

“Os bancos centrais subiram a taxa de juros. Agora vão começar a parar. Estamos próximos do fim dos ciclos, apesar dessa discussão. Talvez o Fed volte a subir suas taxas, mas ninguém está falando de 6% e sim de 5,25%, 5,5%. É um fine-tuning não um aperto sem limite”, diz Marcelo.  Um aperto monetário mais forte do que o atualmente projetado, aí sim, poderia impactar mais preços das commodities mais relevantemente.

Roberto Attuch, CEO da OHM Research, vai no mesmo sentido. “Se o cenário piorar muito, obviamente teremos um impacto. Na nossa projeção, contudo, não é um caso. Trabalhos, por exemplo, com o petróleo ficando entre US$ 90 e US$ 120 no final do ano. De qualquer forma, sabemos que o Ibovespa agora é mais sensível ao crescimento global do que efetivamente ao nível de juros. Este último, apesar dos discursos mais hawkish, já estão precificados”, avalia.

De acordo com Attuch, além da questão dos juros, o que deve também ser monitorado de perto é a performance da economia chinesa.

China em foco

Do outro lado há quem já vê um sinal amarelo aceso. Se as economias mundo afora desacelerarem muito, é possível que as commodities caíam e que o fiscal brasileiro deteriore.

“A desaceleração da economia global impacta a economia brasileira, principalmente pelo lado do comércio internacional. A curva de juros brasileira pode sofrer uma nova abertura (na parte intermediária e longa) caso as contas públicas  piorem. E é justamente o que parece ser o caso, com despesas voltando a crescer acima das receitas”, comenta Richard Rytenband, CEO da Convex Research.

O novo arcabouço fiscal, de acordo com alguns especialistas, trabalha com uma perspectiva relevante de que as receitas do Governo Federal irão crescer – com os esforços para acabar controlar gastos ficando de lado no projeto. Se a arrecadação for impactada, com menor preço das commodities, é possível que o risco Brasil aumente, o que pode impactar nas taxas de juros.

“Uma boa métrica para acompanhar é o chamado Termos de Troca, a razão dos preços exportados em relação aos importados. Quando os termos de troca estão em alta, o país captura mais renda e vice-versa. Esse efeito é mais significativo em países em que a economia é muito direcionada a commodities, caso do Brasil”, diz Rytenband. “Em maio, com dados da execução orçamentária, podemos esperar um resultado primário ruim, mesmo com um bom crescimento das receitas, o ponto é justamente as despesas estarem crescendo ainda mais”, acrescenta.

A menor arrecadação e o risco fiscal podem entrar em conflito direto com a questão da menor inflação. Apesar das restrições de oferta quando o assunto é petróleo e minério, também há os juros mais altos segurando o consumo e uma China ainda cambaleante.

Para o especialista da Convex, a economia da China está desacelerando meses após a reabertura, em um movimento ainda pior do que a primeira reabertura em 2020, com diversas fragilidades expostas – principalmente o setor imobiliário.

“Um ponto importante é que a China está migrando de modelo econômico, para o que chamam de ‘Prosperidade Comum’, uma China mais fechada, mais voltada para o mercado interno (e não tanto para exportações). Esse processo também impacta as taxas de crescimento. Com isso, o Brasil pode não ter um cenário tão benigno quanto teve nas últimas décadas com a China, nosso principal parceiro comercial”, expõe.

Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Corretora, fala que os estímulos da economia da China têm destaque. “A China, cujas exportações crescem menos e as importações caem, promoveu reduções em diversas taxas de juros, como forma de manter atividade”, comenta. “As desacelerações dos PMI’s divulgados na semana passada reforçam que é provável, e não mais possível, uma recessão global do que localizada”.

Na última semana, a publicação dos índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) da União Europeia, do Reino Unido e dos Estados Unidos ajudaram na deterioração do sentimento de otimismo.

Juros puxa juros

Por fim, especialistas destacam que juros mais altos em países desenvolvidos também acabam interferindo nas decisões brasileiras.

“Havendo aumentos de taxa de juros nos EUA, naturalmente o nosso mercado aqui fica pressionado para que mantenha a taxa de juros mais alta. Não que eu concorde com isso, mas o fato é que à medida que, quando há taxas de juros mais altas em mercados que são mais estáveis, os investidores tendem a levar recursos para esses mercados e torna necessário deixar a taxa mais alta aqui também, para que o retorno de quem investe no Brasil possa valer a pena”, contextualiza Carlos Honorato, professor da FIA Business School.

O risco maior para a Bolsa brasileira, e para o Ibovespa, fica na possibilidade de a economia global ficar muito apertada. Nesse panorama, commodities recuariam, levando a uma menor inflação, o que tiraria pressão sobre os juros. Por outro lado, juros mais altos no exterior e o fiscal piorando poderiam pressionar o BC a deixar as taxas mais altas.

“Se tiver alguns movimentos que vão impactar o equilíbrio fiscal, quer dizer, menor crescimento, esse menor crescimento tende a gerar problemas de arrecadação. Problemas de arrecadação tendem a levar o governo a ter uma necessidade de aumentar os juros para se financiar. O próprio arcabouço fiscal da forma como ele foi elaborado, ele puxa a ideia de que o governo conta com um aumento de arrecadação para poder fechar suas contas”, fala Honorato.




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