![]() Quando fez seu follow-on — oferta subsequente de ações — em março, a Caixa Seguridade (CXSE3) queria se adequar às regras para fazer parte do Novo Mercado na B3. Só que ia além: a seguradora está tentando aumentar o interesse dos investidores estrangeiros no seu papel, o que tem rendido uma “sola gasta” aos sapatos do CEO Felipe Mattos. Ao InfoMoney Entrevista, Mattos disse que está reforçando conversas com esse perfil de investidor para explicar um negócio que considera “bom demais para ser verdade”. “Em que pese sermos uma empresa jovem, somos muito rentáveis, eficientes. Uma devolução muito grande de valor ao acionista. Temos negócios conservadores e previsíveis” disse em gravação na XP Brazil CEO Conference 2025.
Parte do desafio para atrair mais dos investidores estrangeiros à empresa passou também pela falta de liquidez das ações na Bolsa de Valores. Quando a Caixa Seguridade fez sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), seu free float — quantidade de ações livres para negociação — foi de apenas 17,25%, o que limitou a entrada de aportes internacionais. “Não adiantava apenas divulgar, precisava ter liquidez”, afirma Mattos, para quem a dificuldade em atrair esse perfil de investidor foi uma “dor” na sua chegada, em 2023. Após o follow-on no início deste ano, quando a controladora Caixa vendeu 82,38 milhões de suas ações ordinárias para movimentar cerca de R$ 1,2 bilhão, o fluxo livre de ações no mercado saltou para 20% Depois de um primeiro semestre de 2025 mais fraco no mercado imobiliário — responsável por uma parcela significativa dos resultados da Caixa Seguridade — em comparação ao segundo semestre de 2024, a expectativa para os seis meses finais do ano é boa. “Já tivemos um crescimento habitacional de 12%. Não vejo nenhum guidance distinto tanto em relação ao ano passado quanto ao que verificamos no primeiro semestre deste ano”, afirma o CEO. Leia a entrevista a seguir. InfoMoney: O senhor está gastando sola de sapato nesses dois anos como CEO da Caixa Seguridade para fazer a empresa se tornar mais conhecida entre investidores, especialmente os institucionais, já que entre os investidores pessoas físicas, a empresa já é uma das queridinhas da Bolsa. Por que isso é importante? Felipe Mattos: Ao se conhecer Caixa Seguridade, se investe em Caixa Seguridade. Em que pese sermos uma empresa jovem, somos muito rentáveis, eficientes. Uma devolução muito grande de valor ao acionista. Temos negócios conservadores e previsíveis. Ao estudar, analisar os nossos dados e ver os nossos ramos de atuação, fica fácil entender o negócio. IM: Em uma recente entrevista você disse que precisa fazer quatro reuniões com o investidor institucional até que ele se convença a investir. Essa estatística tem base na sua experiência? FM: De fato, em especial quando se fala de investidor estrangeiro, porque o nosso negócio é bom demais para ser verdade. Quando se vê a previsibilidade, a entrega, a devolução de valor para o acionista, é um negócio que se calca bastante no nosso resultado operacional muito forte, firme. Por isso que temos que gastar sola de sapato. Não explicar uma nem duas, mas várias vezes até as pessoas entenderem nossas diversas linhas de negócio, o porquê dele ser tão previsível e conseguir fazer um modelo adaptado à nossa realidade, e também o nosso foco em resultado operacional. Nosso case fica bastante interessante. IM: A Caixa Seguridade conseguiu fazer um follow-on bilionário no primeiro semestre no momento em que poucas empresas têm acessado o mercado em função das condições macroeconômicas. O que essa operação diz sobre a Caixa Seguridade e de que maneira movimentou a própria ação da companhia? FM: O que nos levou foi o respeito ao acionista. A ação é sempre uma decisão de venda, manutenção ou compra do acionista controlador — neste caso, a Caixa e, em última análise, a União. Nesse ponto, o presidente [da Caixa] Carlos [Vieira], sempre encampou a ideia e levou junto ao Ministério da Fazenda a necessidade de nós, Caixa Seguridade, nos mantermos no novo mercado da B3. Somos um case de governança no conglomerado Caixa, porque nós somos a única empresa listada. E, se estamos listados, temos que estar no ápice de governança, onde há mais transparência e mais informações aos nossos investidores. A B3 tem dois indicadores para que se atinja o Novo Mercado: free float, de 20% — e quando foi feito o IPO, nós atingimos 17,25% devido às condições de mercado. Não atendemos esse requisito, mas atenderíamos por um alternativo, que seria o ADTV, aquele volume de negociação diário da ação. Quando essas conversas começaram, estávamos no limiar para atendê-lo, mas com algum risco. E para nós também não valia atender apenas um dos dois requisitos possíveis porque nós sabemos que quanto maior a base de acionistas, maior liquidez, a tendência é que mais pessoas entrem na ação. O follow-on foi feito para atender o requisito de 20% de free float. Uma dor que tive no início, quando cheguei, era de vários investidores, especialmente estrangeiros, dizendo que eles não conseguiam entrar na Caixa Seguridade por ausência de liquidez. É um trabalho que nós fazemos bastante. Fizemos isso porque precisávamos divulgar mais a nossa empresa, mas não adiantava apenas divulgar, precisava ter liquidez. IM: Em um país com juros alto, como é o caso do Brasil, é de se esperar que o resultado financeiro de uma seguradora seja, eventualmente, até predominante. Mas no caso da Caixa Seguridade, tem um equilíbrio que pende até mais para o operacional do que propriamente para o financeiro. O que existe de caso específico para a empresa? FM: A verdade é que nós somos muito eficientes no operacional. Hoje a nossa proporção de resultado operacional está próximo a 32%. Um pouco mais alto, porque a Selic vem aumentando. Ainda assim, os 68% do operacional são muito relevantes. Atuamos em corretagem, em seguros de longo prazo e com emissão de prêmio constante, o habitacional, prestamista, o próprio residencial acoplado àquele habitacional também, mas não ficamos apenas nessas linhas. Nós temos também a própria previdência complementar, quando a gente fala em acumulação, capitalização, consórcio. Optamos por criar uma empresa específica de assistência, que não apenas está acoplada a um seguro, a um produto principal, mas em que ela é a natureza de existir para tratar esses produtos de assistência. Por exemplo, quando você chama um guincho para o seu seguro auto, na verdade, você não está acionando o seguro, você está acionando uma assistência vinculada àquele seguro. IM: Então, você atribui a essa diversificação de atividades o fato de o operacional ser preponderante em relação ao financeiro? FM: Sim, sem dúvida. Lembremos também que o negócio tem baixa exposição a risco quando comparamos com outras seguradoras. Por exemplo, o habitacional é muito mais conservador do que um seguro auto ou rural quando você compara a própria sinistralidade. IM: Uma parcela significativa do resultado da Caixa Seguridade depende do andamento do mercado imobiliário, que teve um primeiro semestre mais fraco do que havia sido o segundo semestre de 2024. Qual é a expectativa de vocês para o segundo semestre de 2025, considerando que os juros devem continuar altos por algum tempo? FM: Estamos acoplados à própria estratégia e forma de trabalho da Caixa, conhecida com muito orgulho como o banco da habitação. Também temos como um grande foco em ser a seguradora que atende a essa necessidade da população, do habitacional. A Caixa vem demonstrando desde o ano passado que pretende manter a carteira habitacional em um ritmo de crescimento como ela já vinha tendo até então. Para nós da Caixa Seguridade, e já trouxemos agora os números do primeiro semestre, a expectativa é muito boa e nós já tivemos um crescimento habitacional de 12%. Não vejo nenhum guidance distinto tanto em relação ao ano passado quanto ao que verificamos no primeiro semestre deste ano. IM: No seguro prestamista, houve um pequeno recuo nesse último trimestre. Quais foram os pontos mais importantes para esse movimento? FM: Tivemos um terceiro trimestre do ano passado muito forte em prestamista e ali começamos a avisar que esperávamos para o próximo trimestre um pouso. Nós já víamos um patamar de Selic mais elevado. Com a Selic em um patamar como vemos hoje, a renda da população comprime mais e fica mais difícil atender às necessidades. Temos a centralidade do cliente no tratamento, então se o cliente de fato necessita de um prestamista, mas não comporta na sua renda, tentamos oferecer uma solução mista. Esse é o primeiro ponto. Houve alguns outros fatos, como o período de suspensão do convênio consignado do INSS. Também a questão da exposição dos setores que emprestam para o agro. Digamos que a carteira não teve a progressão que tinha em períodos recentes. Não posso falar pelo banco, digo pelo que conseguimos entender: nós estamos retomando uma produção. O gap existente no primeiro semestre não será completamente encerrado. Não se trata de chegar ao fim do ano e dizer que o primeiro semestre foi péssimo mas o segundo compensará o primeiro. Mas posso dizer que vamos convergindo até o final do ano para uma estratégia em que retomamos esse campo, mas não será fácil. E não adianta de nada termos uma venda que não represente uma necessidade para o cliente ou em um retorno para esse cliente. A ideia da Caixa com a centralidade do cliente é ser também o banco principal dele. Como Caixa Seguridade estamos convencidos de que a nossa estratégia tem que ser cada vez mais aderente à estratégia da Caixa para manter esse cliente entro do ecossistema. |
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