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Economia

Como famílias de alta renda planejam a sucessão patrimonial? Conheça as estratégias

- 29/08/2025 5 Visualizações 5 Pessoas viram 0 Comentários
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Pessoas de alta renda que procuram serviços financeiros costumam priorizar uma melhor rentabilidade e um atendimento personalizado. No entanto, na hora de planejar a sucessão patrimonial (transferência de bens e recursos entre gerações) esse público costuma pensar pouco nas melhores estratégias, segundo Sharon Halpern, especialista em wealth management, sócia e private banker da Blackbird Investimentos.

“Muitos clientes nem sabem que existe algo como planejamento sucessório. Isso porque não gostam de pensar quando isso vai acontecer. No Brasil, esse tipo de planejamento ainda é uma prática culturalmente incipiente, diferente de países como os Estados Unidos, onde a questão é mais natural e abrangente”, afirma Halpern.

De acordo com o Relatório Global de Riqueza 2025 do banco suíço UBS, o Brasil atingiu o número de 433 mil milionários, liderando o ranking na América Latina e ocupando a 19ª posição mundial. Esse crescimento expressivo mostra a importância cada vez maior de estratégias eficazes para o planejamento sucessório.

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Segundo Halpern, para montar um planejamento sólido, é fundamental entender o contexto completo da pessoa.

“É necessário levar em conta a estrutura familiar, o volume de patrimônio, as fontes de renda, se a pessoa é CLT, empreendedora, se possui aluguéis ou outras atividades geradoras de receita. Tudo isso impacta diretamente nas estratégias a serem adotadas”, afirma.

Além disso, é essencial compreender qual o objetivo do titular do patrimônio — se é deixar dinheiro para os filhos ou não, exemplifica Sharon, destacando que o planejamento deve respeitar esse tipo de desejo.

As soluções para organizar e proteger o patrimônio para o futuro são diversas e costumam ser combinadas conforme as necessidades específicas de cada família.

Nesse sentido, o planejamento sucessório é altamente personalizado, ou seja, não tem “receita de bolo” aplicável a todos os casos, pois envolve contexto financeiro, objetivos e estrutura de cada família.

O InfoMoney destaca a seguir as quatro principais estratégias usadas por famílias de alta renda para planejar o futuro e a sucessão patrimonial: a previdência privada, o seguro de vida, os investimentos no exterior e a criação de holdings imobiliárias.

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1. Previdência privada

A previdência privada é uma ferramenta bastante utilizada em planejamentos sucessórios, principalmente pela facilidade na transferência dos recursos aos beneficiários.

Existem dois principais tipos disponíveis no mercado: o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), e a escolha entre eles depende do perfil do investidor e da situação tributária.

Em ambas as modalidades, o investidor pode escolher entre a tabela regressiva ou progressiva de tributação, que impactam no valor do imposto a ser pago.

A previdência costuma ser mais adequada para pessoas em fases mais avançadas da vida, que possuem maior previsibilidade de aporte e riscos reduzidos de sinistro (ocorrência do risco previsto no contrato) precoce.

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Vantagens e desvantagens

Uma das principais vantagens é que os recursos aplicados via previdência não entram em inventário, processo que pode ser longo e oneroso, ou seja, os beneficiários recebem o valor diretamente, com maior agilidade. Além disso, funciona bem como uma reserva de longo prazo que pode complementar a transferência de patrimônio.

Contudo, Halpern explica que por mais que ele seja um ótimo instrumento, não é recomendado usar apenas ele como estratégia.

“Imagine que você se compromete a aportar R$ 100 mil por mês para acumular R$ 1 milhão e garantir esse valor para os herdeiros no futuro. Mas se a pessoa, por exemplo, faz o aporte por dois meses e morre logo em seguida, os beneficiários vão receber apenas R$ 200 mil, e não o valor total planejado.”

Isso pode ser um problema, já que a previdência exige um período de acumulação para atingir seu pleno benefício. “A gente vai usar apenas a previdência quando não for possível fazer um seguro, no caso de pessoas que já ultrapassaram a idade limite para contratar”, afirma Halpern.

Para perfis mais jovens, essa modalidade pode ser usada para complementar outros instrumentos de sucessão, como um seguro de vida, garantindo uma base financeira mais consistente no longo prazo.

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2. Seguro de vida

O seguro de vida tem ganhado cada vez mais destaque como ferramenta estratégica dentro do planejamento sucessório e da gestão patrimonial, especialmente entre famílias de alta renda. 

Segundo dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados), autarquia federal que regula e fiscaliza o setor segurador, o mercado brasileiro de seguros de pessoas (que inclui o seguro de vida, acidentes pessoais e educacional, entre outros) arrecadou mais de R$ 105 bilhões no primeiro trimestre de 2025, um crescimento de 2,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. 

Segundo os especialistas, o principal benefício do seguro de vida dentro do planejamento sucessório é a liquidez imediata que ele oferece aos beneficiários.

“Nos últimos anos, o seguro de vida foi se modernizando ao ponto de ser reconhecido como uma ferramenta de liquidez para as famílias que já têm patrimônio constituído e precisam garantir que os herdeiros terão de fato recursos para dar os primeiros passos na organização do processo de inventário”, aponta Larissa Althoff, diretora de parcerias estratégicas da MAG Seguros.

Diferente de outros ativos, o capital segurado (valor máximo que a seguradora se compromete a pagar aos beneficiários em caso de um sinistro) não entra no processo de inventário, o que acelera o pagamento dos custos relacionados — que podem atingir até 20% do patrimônio — e evita disputas judiciais ou bloqueios, pois o seguro é impenhorável e intransferível.

O seguro de vida é especialmente indicado para pessoas jovens e de meia-idade, que conseguem contratar uma cobertura alta a um custo menor. Já para pessoas mais velhas, o seguro pode não ser tão acessível em termos de custos e coberturas, e outras estratégias como a previdência podem ganhar relevância, como mencionado no tópico anterior.

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Tipos de seguro

Existem várias modalidades de seguro que podem ser adaptadas ao planejamento sucessório, entre eles o temporário, o seguro para acidentes e doenças, e também o whole life (vida integral), que tem ganhado o mercado.

“Com o número de milionários no Brasil batendo recordes, o seguro de vida deixou de ser proteção e virou estratégia. O Whole Life é um tipo de ferramenta que pode transformar patrimônio em legado.”

— Larissa Althoff, da MAG Seguros

O Whole Life é um tipo de seguro vitalício que garante proteção até o fim da vida, sem necessidade de renovação. Ele tem como principais caracterísitcas:

  • prêmio nivelado: o valor pago mensalmente não sofre reajuste por idade, apenas correção pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor);
  • sem reserva: ao contrário de outros produtos, não acumula reserva, o que reduz o custo em até 30%;
  • possibilidade de quitação: permite pagar por um período determinado (10, 15, 20, 25 ou 30 anos) e manter a cobertura vitalícia;
  • impenhorável e intransferível: protege o capital contra bloqueios judiciais e disputas familiares;
  • livre de impostos: o capital segurado não entra no inventário e não sofre tributação direta como o ITCMD.

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Erros mais comuns ao contratar um seguro

Ao contratar um seguro, é fundamental estar atento a alguns pontos importantes. O primeiro é não encarar o seguro como um investimento para retorno financeiro. O segundo é evitar contratar coberturas inferiores ao necessário para proteger adequadamente os herdeiros. Por fim, escolher corretamente o tipo de seguro, evitando, por exemplo, o temporário, que não é renovado automaticamente ao fim do prazo e pode deixar o titular desprotegido.

O mais importante é não fugir do planejamento sucessório.

“Muita gente acha que sucessão é um problema distante, o que é um erro grave. Planejar cedo evita surpresas e disputas.”

— Sharon Halpern, da Blackbird Investimentos

Entre os profissionais que podem ajudar nesse planejamento estão os advogados e os planejadores financeiros, que podem compreender toda a complexidade tributária, patrimonial e de investimentos e ajustar o seguro e outras ferramentas específicas.

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3. Investimentos no exterior

Investir no exterior é outra estratégia cada vez mais considerada por famílias de alta renda que buscam diversificação e proteção patrimonial em seu planejamento sucessório. Segundo Sharon Halpern, da Blackbird, essa opção é recomendada principalmente para quem possui um volume significativo de recursos para investir.

Isso porque é necessário ter pelo menos cerca de US$ 300 mil (equivalente a cerca de R$ 1,6 milhão) alocados fora do país, sem contar o custo de manutenção (que ultrapassa os US$ 2 mil anuais). Importante destacar que esse valor deve ser uma parcela dos seus investimentos totais, não a totalidade do patrimônio.

Entre os benefícios do investimento no exterior estão a diversificação cambial, acesso a mercados e ativos internacionais, além de proteção contra instabilidades econômicas e políticas locais que podem impactar o patrimônio no Brasil.

Por outro lado, essa estratégia exige uma estrutura mais complexa e custos adicionais — especialmente relacionados à manutenção e à gestão dos investimentos — que a tornam pouco viável para quem tem patrimônio mais modesto.

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4. Holding

Outra estratégia utilizada por famílias que possuem um patrimônio significativo na hora do planejamento sucessório é a holding.

 Trata-se da criação de uma empresa que detém os bens, facilitando a organização, a gestão e a transferência desses ativos entre gerações.

“Essa estratégia não é para todos; é mais adequada para quem tem um volume de imóveis que justifique os custos e a complexidade da estrutura”, explica Halpern.

Uma das principais vantagens da holding é a simplificação da sucessão. Em vez de os herdeiros receberem imóveis diretamente — o que pode gerar conflitos sobre divisão e vendas — eles passam a receber cotas da empresa, que já estão previamente distribuídas segundo a vontade dos titulares. Isso evita disputas e facilita o processo de partilha.

Por outro lado, a estruturação e manutenção de uma holding têm custos consideráveis, como despesas contábeis, jurídicas e de registro

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