A reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU convocada no domingo para discutir os ataques com drone e mísseis do Irã contra Israel foi marcada por apelos para que que a tensão no Oriente Médio não passe por uma escalada. Mas não deixou de explicitar os diferentes pontos de vista sobre a crise. Enquanto Israel e aliados como Estados Unidos, Reino Unido e a França condenaram a atitude de Teerã por ter ultrapassado uma linha divisória que poderia escalar o conflito, a Rússia e China destacaram que Israel provocou a retaliação iraniana ao bombardear o consulado do país em Damasco, no Líbano. A sessão de emergência foi realizada após um pedido urgente de Israel após o que descreveu em uma carta como um “ataque direto” lançado pelo Irã de mais de 200 veículos aéreos não tripulados (drones), mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos contra Israel, “em clara violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional”. Em uma carta separada, o Irã afirmou que realizou a série de ataques militares contra objetivos militares israelenses no exercício do direito inerente à autodefesa, conforme descrito no artigo 51 da Carta, e em resposta às recorrentes agressões militares israelenses, particularmente seu ataque armado em 1º de abril de 2024 contra instalações diplomáticas iranianas em Damasco. O secretário-geral das Nações Unidas abriu a reunião afirmando que a paz e a segurança regionais, e até globais, estão sendo minadas a cada hora. “Agora é o momento de desanuviar e desescalar”, defendeu. O secretário-geral disse que, de acordo com os últimos relatos, vários mísseis teriam atingido o território israelense. Um deles danificou uma instalação militar israelense no sul do país. E que, no geral, alguns civis ficaram feridos. “É hora de sair da beira do abismo”, afirmou, enfatizando a necessidade vital de evitar qualquer ação que possa levar a grandes confrontos militares em várias frentes no Oriente Médio. Quando a palavra foi aberta para discussão, as opiniões se dividiram. Vários delegados, entre eles, os representantes da Coreia do Sul, Moçambique, Serra Leoa, Argélia, Equador, Japão, Suíça e Malta alertaram contra a aceleração da espiral de violência na região, apelando a todas as partes para que exerçam a máxima contenção. A Eslovênia condenou tanto o ataque de Israel contra o consulado iraniano como os ataques retaliatórios de Teerã contra Israel, sublinhando que a sequência destes eventos ameaça escalar para um conflito mais amplo de “alcance imprevisível”. EUA, Reino Unido e FrançaJá o representante dos Estados Unidos condenou veementemente o ataque “sem precedentes” a Israel por parte do Irã e dos seus representantes militantes, cuja intenção era “causar danos significativos e morte”. Para ele, o Conselho não deve deixar que as ações do Irã fiquem sem resposta, acrescentando que, durante demasiado tempo, o Irã violou flagrantemente as suas obrigações legais internacionais ao armar o Hezbollah, armar, facilitar e permitir ataques houthis e transferir drones para a Federação Russa. “Além disso, o Irã foi cúmplice do ataque de 7 de outubro contra Israel, pois forneceu financiamento e treinamento significativos para a ala militar do Hamas e, portanto, contribuiu para a atual crise em Gaza”, disse o representante americano. O porta-voz da França também condenou o ataque lançado pelo Irã contra Israel, afirmando que Teerã “cruzou um novo limiar em sua ação desestabilizadora, arriscando uma escalada militar”. Seu homólogo do Reino Unido disse que a escala e a natureza do “ataque hediondo representava graves riscos para a segurança e a estabilidade dos cidadãos em todo o Oriente Médio. Rússia e ChinaEntretanto, o representante da Federação Russa observou que, embora o Secretário-Geral tenha reagido imediata e publicamente e condenado as ações do Irã, não se propôs informar o Conselho em 2 de Abril, quando foi convocada uma reunião de emergência sobre os ataques israelitas contra as instalações consulares em Damasco. Ele pediu ao chefe da ONU que seja mais ativo em relação a “temas não menos turbulentos” no Oriente Médio, incluindo os ataques regulares de Israel contra a Síria e o Líbano. O delegado da China descreveu o ataque de 1º de abril às instalações diplomáticas do Irã na Síria como uma grave violação do direito internacional e uma violação da soberania de ambos os países. Ele observou a declaração do Irã de que sua ação militar foi uma resposta à agressão de Israel contra suas instalações diplomáticas e “o assunto pode ser considerado concluído”. IsraelO representante de Israel, por sua vez, lembrou que o ataque do Irã foi lançado de seu solo, bem como do Líbano, Iêmen, Síria e Iraque. Ele disse que seu país pediu repetidamente ao Conselho que tomasse medidas concretas contra Teerã, alertando que “suas ambições hegemônicas de dominação global devem ser interrompidas antes que conduza o mundo ao ponto de não retorno, que seria uma guerra mundial”. Segundo ele, o mundo assistiu a uma escalada sem precedentes, servindo como a prova mais evidente do que acontece quando os avisos não são ouvidos. Ele disse ainda que a estratégia de Teerã tem sido cristalina, ao financiar e treinar representantes terroristas estrangeiros em todo o mundo para executar seu esquema “assassino de dominação”. No entanto, ele ressaltou que o mundo está “silencioso” há anos.
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