![]() O mercado de apostas esportivas tornou-se uma das principais fontes de receita do futebol moderno. E a Copa do Mundo de Clubes da FIFA é um reflexo evidente dessa tendência. Dos 32 times que participaram da primeira fase do torneio global, nada menos que 17 possuem algum tipo de parceria com casas de apostas — mais da metade. Entre eles, destacam-se clubes tradicionais como Internazionale, Porto, Benfica, PSG, Real Madrid, Bayern de Munique, Chelsea e os quatro grandes brasileiros: Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Botafogo. Leia também: Mundial de Clubes escancara rixa entre velha e nova mídia no Brasil No Brasil, o domínio das bets é total. Todos os clubes da Série A exibem algum tipo de patrocínio do segmento, sendo que, para Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Botafogo, os contratos são de máster — o espaço mais nobre da camisa. Argentina segue o mesmo caminho, com Boca Juniors e River Plate também ostentando marcas de apostas como principais patrocinadoras. “A presença das casas de apostas é uma realidade irreversível do futebol atual, fruto de um mercado maduro e regulamentado em muitos países. A tendência é de consolidação ainda maior nos próximos anos”, afirma Filipe Molon, diretor comercial da Ana Gaming, empresa presente em quatro clubes da elite brasileira. Europa segue caminhos distintosSe na América do Sul o envolvimento com as bets é direto e visível, na Europa a relação é mais variada. A Itália, por exemplo, soma dez clubes da primeira divisão com algum tipo de vínculo com empresas do setor — mas apenas a Internazionale, finalista da última Champions League, ostenta a marca no peito. Na Inglaterra, berço do modelo moderno de parcerias com casas de apostas, a presença ainda é massiva, embora caminhe para restrições. Das 20 equipes da Premier League, 15 têm alguma parceria com bets. Seis usam o patrocínio no máster (Aston Villa, West Ham, Brentford, Wolverhampton, Fulham e Everton). Os gigantes como Manchester City, Chelsea, Arsenal e Liverpool mantêm vínculos, mas sem exibir os nomes no uniforme. A partir da temporada 2026/27, será proibida a exibição dessas marcas na parte frontal da camisa na Premier League — embora ainda seja permitida nas mangas, placas publicitárias e painéis. “A proibição parcial na Inglaterra mostra um esforço de equilíbrio entre a preservação da imagem do futebol e o reconhecimento da importância econômica do setor”, analisa Ricardo Bianco Rosada, fundador da consultoria brmkt.co. A Championship, segunda divisão inglesa, segue o exemplo da elite. Nada menos que 12 dos 24 clubes têm contratos com casas de apostas, um reflexo da importância financeira desses patrocínios para equipes que recebem menos em direitos de transmissão e premiações. Leia também: Times de futebol temem perda de R$ 1,6 bi com alteração na lei das bets Na Alemanha, 11 dos 18 clubes da Bundesliga são parceiros de bets, mas a presença nos uniformes é tímida: apenas o Holstein Kiel tem exposição na camisa, e mesmo assim, na manga. Já a Espanha impõe as maiores barreiras: desde 2020, está proibido o uso de marcas de apostas nas camisas dos times da La Liga. Barcelona, Real Madrid e outros cinco clubes ainda mantêm vínculos, mas restritos a ações fora dos uniformes. Segundo Leonardo Henrique Roscoe Bessa, consultor do Conselho Federal da OAB e sócio do Betlaw, escritório especializado no setor de jogos, a regulamentação é essencial para separar empresas sérias de oportunistas. “Ela garante segurança para os consumidores e também oportunidades para novos investimentos. O Brasil, com sua legislação recente, tende a se consolidar como um dos mercados mais importantes do mundo no setor”, diz. Portugal segue modelo brasileiroO país europeu que mais se aproxima do Brasil em termos de exposição é Portugal. Dos 18 clubes da Primeira Liga, 12 contam com patrocínios de apostas, sendo 11 deles com a marca estampada na área máster da camisa. Benfica, Porto e Sporting lideram esse movimento. A presença marcante das bets em Portugal se explica por uma legislação mais permissiva e por uma busca constante dos clubes por receitas extras, diante das limitações financeiras do campeonato. Outro exemplo de internacionalização das casas de apostas brasileiras é o Milan. O clube italiano fechou um acordo inédito com a empresa brasileira Reals, que se tornou Parceira Regional Oficial de Apostas do clube na América Latina. “Esse contrato é um marco para o setor no Brasil, pois mostra que já somos capazes de competir globalmente. A Reals foi a primeira operadora brasileira a fechar um patrocínio com um gigante europeu”, destaca Rafael Borges, CEO da Reals. América Latina mantém protagonismoNa América do Sul, o envolvimento das casas de apostas é mais direto e intenso, especialmente no Brasil. Desde que o setor começou a ser regulamentado, em 2018, e com a definição das regras em 2024, os clubes passaram a considerar as bets como fontes estratégicas de receita. Segundo Renê Salviano, CEO da agência Heatmap, especializada em marketing esportivo, esses contratos são fundamentais para a saúde financeira das equipes, sobretudo as da Série B. “As bets representam uma das principais fontes de receita para os clubes fora da elite. Elas viabilizam contratações, pagamentos de salários e ainda ajudam a fortalecer a marca dos clubes. Além disso, há ativações que aproximam os torcedores, como programas de fidelidade e benefícios para sócios”, ressalta Salviano. Apesar do avanço, o setor ainda enfrenta desafios, principalmente relacionados à imagem pública e à responsabilidade social. Segundo Alex Rose, CEO da empresa inglesa InplaySoft, as operadoras devem equilibrar exposição com ética. “Apoiamos ligas e clubes que promovem entretenimento responsável. A proteção dos apostadores é tão importante quanto a visibilidade da marca”, afirma. |
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