![]() As pressões financeiras e a dificuldade de acesso ao crédito estão levando os brasileiros a recorrer a soluções criativas, e muitas vezes precárias, para tentar sair do vermelho. Cerca de 34% dos endividados pretendem fazer trabalhos informais em 2025 para tentar quitar suas dívidas, segundo uma pesquisa inédita do Instituto Locomotiva, em parceria com a QuestionPro. O levantamento atual mostra que houve um salto de 22 pontos percentuais em relação a 2021, quando 12% apontavam os “bicos” como alternativa. A pesquisa ouviu 1.283 pessoas em todas as regiões do Brasil, com margem de erro de 2,7 pontos percentuais, e traça um retrato da luta dos brasileiros inadimplentes para reorganizar a vida financeira e reduzir o endividamento. Uma batalha que vai além dos números e invade o cotidiano, a saúde e a autoestima. De onde vem a inadimplência?“A inadimplência no Brasil é muitas vezes analisada sob uma perspectiva de reprovação moral, mas os dados indicam que frequentemente ela não nasce do excesso, e sim da urgência. É consequência de imprevistos, perda de emprego ou renda instável”, afirma Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. O estudo mostrou que 9 em cada 10 inadimplentes adotaram ao menos uma medida para tentar pagar as contas em atraso. Além do trabalho informal, 88% pretendem renegociar dívidas, enquanto 33% cortaram gastos, 19% fazem hora extra e outros apostam na recuperação da economia, vendem bens pessoais ou recorrem a empréstimos, adiantamento salarial e até apostas esportivas. De fato, 79% dos inadimplentes atribuem o endividamento a fatores externos, como gastos imprevistos (34%) e perda de emprego (33%). Outros 35% apontam a falta de planejamento como causa, enquanto 27% citam maus hábitos financeiros. Ao todo, 60% dos brasileiros já vivenciaram inadimplência em algum momento da vida, totalizando 97 milhões de pessoas. E, entre os inadimplentes atuais, 42% enfrentam esse cenário pela primeira vez, enquanto 58% já estiveram nessa situação anteriormente. A inadimplência com mais de um ano de atraso afeta 46% desse grupo. Otimismo e resiliênciaApesar das dificuldades, o estudo mostra um cenário de otimismo crescente. Em 2025, 74% dos brasileiros inadimplentes acreditam que conseguirão quitar suas dívidas, um salto em relação aos 62% registrados em 2023. Além disso, 62% acreditam que sairão do endividamento em até um ano, o que representa aproximadamente 38 milhões de pessoas. Entre os jovens de 18 a 29 anos, o otimismo é ainda maior e 72% deles confiam que vão sair do vermelho dentro de um ano. Esse sentimento se apoia na disposição para agir. Para Meirelles, a maioria dos inadimplentes já está se movimentando para pagar suas dívida. “Mas muitos sabem que isso depende também de um crédito mais justo, de informação de qualidade e de oportunidades reais para trabalhar ou empreender”. Informação e crédito acessívelO estudo mostra que os inadimplentes não estão apenas conscientes de sua situação, mas também do que precisam para mudar de vida. Entre as principais necessidades apontadas estão:
MelhoriasAlém do acesso a recursos financeiros, os brasileiros enxergam a melhoria dos serviços públicos como aliada na luta contra a inadimplência. Assistência social e apoio psicológico (84%), bem como creches mais acessíveis ou com horário estendido (71%), foram destacados como fatores que poderiam aliviar o peso das dívidas. A inadimplência é uma experiência que afeta profundamente os brasileiros. Para 93% dos entrevistados, as dívidas impactam sua vida de forma geral. Mais do que isso: 87% relatam reflexos na vida profissional, familiar e na saúde. “Não estamos falando apenas de contas atrasadas, mas de noites mal dormidas, oportunidades perdidas e um sentimento constante de fracasso. A dívida vira um peso emocional que acompanha o brasileiro em cada escolha que ele precisa fazer”, explica Meirelles. Perfil da inadimplência e a desigualdade:
Origem das dívidas:
Realidade“O alívio financeiro passa, sim, por esforço individual, mas também por estrutura, oportunidade e apoio coletivo. O combate à inadimplência exige mais que educação financeira, exige justiça econômica”, diz Meirelles. Leia Mais: O brasileiro precisa mesmo de educação financeira? |
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