Por Letícia Fucuchima SÃO PAULO (Reuters) – A EDP vai manter o Brasil como uma importante rota para seus investimentos globais no setor de energia, mesmo depois de ter fechado capital de sua subsidiária local, e avalia novas apostas no país ligadas à transição energética, como uma planta de hidrogênio verde para exportação à Europa, disse à Reuters o CEO global da companhia portuguesa. A elétrica realizou nesta semana o leilão de compra de ações para deslistar a EDP Brasil da B3, em uma operação que movimentou 4,4 bilhões de reais e elevou a 87,9% a fatia do grupo controlador no capital social total da subsidiária brasileira. Segundo Miguel Stilwell, o movimento integra a estratégia de simplificar sua estrutura empresarial e acelerar o crescimento dos negócios no Brasil, onde o grupo EDP atua com duas plataformas, sua subsidiária de negócios integrados em energia (distribuição, geração e transmissão) e a EDP Renováveis, que desenvolve e opera grandes usinas renováveis. “Investiremos cerca de 30 bilhões de reais ao longo dos próximos cinco anos, queríamos assegurar que essas duas plataformas trabalhassem o mais integradas possível…”, disse o executivo em entrevista à Reuters, reafirmando projeções recentes de investimentos no país. “Queremos criar o máximo de valor aqui e contribuir para a transição energética do Brasil.” Stilwell reforçou que a EDP — uma empresa que tem como principal acionista a elétrica chinesa CTG, com participação de quase 21% — não pretende abandonar nenhum segmento que atua hoje no Brasil, mercado que respondeu por um quarto de seu Ebitda no ano passado. Mas ele admitiu que a EDP pode se desfazer de alguns ativos visando reciclar capital para reinvestir em áreas mais interessantes, como energia solar e linhas de transmissão. Ao mesmo tempo, a companhia portuguesa já começou a explorar novas frentes no Brasil e vê condições favoráveis para deslanchar um novo projeto de produção de hidrogênio verde, combustível considerado crucial para a transição energética de setores de difícil descarbonização. “Estamos a participar de um leilão (de hidrogênio verde) na Alemanha, que seria para ter um projeto industrial no Brasil e exportar”, contou o executivo, sem fornecer detalhes sobre capacidade produtiva e investimentos potenciais. Masterclass As Ações mais Promissoras da Bolsa Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita O empreendimento deve envolver um consórcio da EDP — que entraria como fornecedora da energia renovável necessária para fabricação do hidrogênio — com empresas especializadas em outras áreas, como química e de transporte de gases, explicou ele. “Um país como o Brasil, que tem todos esses recursos naturais (para energia renovável), consegue produzir hidrogênio verde muito barato… Produzimos a primeira molécula de hidrogênio na América Latina perto da nossa central de Pecém”, disse Stilwell, em referência a um projeto-piloto já operacional da EDP no complexo cearense. A Alemanha está capitaneando o primeiro leilão da Europa para compra de amônia verde, um derivado do hidrogênio renovável. A licitação se apresenta como uma oportunidade importante para projetos no Brasil, uma vez que comprará apenas combustível renovável produzido fora dos países da União Europeia. NEGÓCIOS TRADICIONAISA EDP também está empenhada em expandir seus negócios nos segmentos tradicionais do setor elétrico no Brasil, com destaque para a área de geração, na qual vê grande potencial para a fonte solar tanto em grandes projetos centralizados, quanto nas pequenas usinas distribuídas. Stilwell reconheceu que o mercado está mais desafiador para lançamento de novos empreendimentos de geração de energia no momento, sobretudo por uma pressão na cadeia de fornecedores, mas disse que a EDP não tem tido problemas dessa natureza nos projetos no Brasil. Ele também afirmou que a companhia pode se desfazer de algumas hidrelétricas que tem em sociedade com a China Three Gorges Corporation (CTG) e a Eletrobras, mas ressaltou que não há “pressa”. Outro ativo colocado à venda é a termelétrica de Pecém, movida a carvão mineral, combustível que será progressivamente abandonado pela companhia dentro de suas metas de descarbonização. Em transmissão de energia, a companhia continuará estudando os leilões do governo e, para o certame marcado para dezembro, mira principalmente um lote de mais de 2 bilhões de reais em investimentos, disse o CEO da EDP Brasil, João Marques da Cruz, também presente na entrevista. No segmento de distribuição, a EDP aguarda agora uma definição sobre as diretrizes finais para a renovação das concessões — a EDP Espírito Santo é a primeira de 20 concessionárias a ter seu contrato expirando nos próximos anos. A proposta inicial do governo para a prorrogação contratual foi bem avaliada, disse Stilwell, que apontou também a importância das chamadas “contrapartidas sociais” no processo. “O processo está bem encaminhado, está pacífico, e acreditamos que teremos um decreto presencial para outubro ou novembro sobre esse tema”, apontou Cruz, avaliando que nesse cronograma a assinatura das renovações ocorreria até o fechamento deste ano. (Por Letícia Fucuchima)
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