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Economia

El Niño afeta produtividade, mas impacto nos preços agrícolas é incerto

- 05/12/2023 13 Visualizações 12 Pessoas viram 0 Comentários
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O efeitos do fenômeno climático El Niño no setor agrícola brasileiro já são evidentes na safra 2023/2024, com projeções de produtividade menor em várias culturas e regiões, mas ainda não é possível precisar se essa condição pode exercer pressões inflacionárias no ano que vem, com choques nos preços de alimentos e da ração animal.

Segundo a ata da última reunião do Copom, os diretores do Banco Central ressaltaram a incerteza do momento com relação ao impacto do fenômeno do aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, tanto em relação à sua magnitude quanto à sua duração, mas o Comitê preferiu incorporar um impacto relativamente pequeno do El Niño em suas projeções de inflação de alimentos.

Pelo menos em relação à sua duração, há um grau maior de certeza por parte dos especialistas. “Por enquanto, a gente tem uma previsão de um El Niño forte – e alguns até falando em muito forte – e atuando com esses grandes efeitos até janeiro. A partir de janeiro até abril, deve diminuir sua intensidade, mas ainda vai perdurar”, projeta Danyella Bonfim, assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O El Niño já vem mostrando sua cara desde junho passado, quando começaram a ser registradas fortes tempestades, como os ciclones extratropicais da região Sul, com perdas na produção de grãos local, na fruticultura e horticultura, além de algumas infraestruturas.

Na sequência, várias regiões do país sofreram com onda de calor (foram oito, no total), com o registro de temperaturas acima de 40 graus e vários recordes históricos. A região Norte se deparou então com sua maior seca em 40 anos.

Segundo Danyella, a condição de forte calor, somada ao estresse hídrico, passou a prejudicar as atividade agrícolas por conta de atrasos no plantio. O plantio da soja e do milho de 1ª safra foi o mais afetado por essas condições climáticas adversas.

“Muito produtor segurou suas atividades. Alguns arriscaram e tiveram de fazer o replantio, tiveram de repetir a operação. Consequentemente isso gera custos extras. Além da questão do replantio, tem a dificuldade na germinação da soja, por conta do solo quente”, explica.

Alívio com a volta das chuvas

Somente nas últimas semanas as chuvas chegaram com maior intensidade, principalmente na região Centro-Oeste. O Estado do Mato Grosso, por exemplo, conseguiu adiantar um pouco as operações nas duas últimas semanas e está mais em linha com o que foi visto no ano passado, diz a assessora técnica da CNA.

“As chuvas a partir deste mês devem começar a regularizar no Centro-Oeste e Sudeste. Mas, mesmo assim, os números não são significativos, devido a todo o déficit hídrico”, pondera.

Mas outras regiões como a Matopiba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), que nesta época deveria estar adiantando as atividades, não estão conseguindo por conta dessas más condições climáticas.

A região Sul também teve prejuízos por atraso no plantio. Com o agravante que a safra de trigo já estava sendo colhida, o que acelerou algumas perdas de qualidade. As estimativas da Conab estão sendo reduzidas em mais de 800 mil toneladas nos últimos dois levantamentos estatísticos.

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Além da perda de produtividade, ainda não totalmente projetada, o atraso no plantio da soja acaba por comprometer a janela de plantio para a 2ª safra, especialmente do milho.

“O milho, com a janela de plantio menos favorável, pode ser exposto a essas condições climáticas não favoráveis e pode ter perda na produtividade. E está vindo de um cenário de redução de área, por conta da instabilidade, dos preços baixos”, afirma.

Impacto nos preços

O que isso pode representar nos preços, uma vez que há um risco de pressão nas cotações das commodities? Para Danyela, é natural esperar que a atual situação possa ter um impacto por conta da redução da oferta, mas ela adverte que isso vai depender do tipo da cultura e também do cenário internacional, uma vez que o El Niño não afeta a todos os países da mesma maneira.

Marcos De Marchi, economista chefe da Oriz Partners, concorda e destaca o caso da Argentina, onde se espera uma produção mais forte de grãos, após uma quebra de safra entre 2022 e 2023.

“Mesmo que a gente tenha uma redução, vai ter uma produção a mais forte da Argentina. Então acho que não é o caso para uma grande oscilação nos preços dos grãos”, prevê. De Marchi aposta em algumas pressões pontuais em hortaliças e leguminosas, por conta da ocorrência de chuvas além do esperado em alguns momentos.

O último Monitor Agro do Bradesco também apontou que o plantio no Brasil e na Argentina acelerou com chuvas mais regulares no final de novembro, enquanto nos Estados as safras de soja e de milho já foram praticamente colhidas.

O relatório citou o último estudo da NOAA, a agência americana de acompanhamento oceânico e atmosférico, que confirmou a expectativa de um El Niño de intensidade forte, com  presença até o segundo trimestre de 2024.

“Mas o fenômeno deve perder força a partir do primeiro trimestre do próximo ano, o que pode levar a alguma normalização do clima no primeiro semestre. O instituto também começa a sinalizar um resfriamento das águas do pacífico em meados do ano. A probabilidade de neutralidade climática é majoritária”, diz o texto do Bradesco.

Especificamente para o Brasil, a análise é que a melhora das chuvas levou ao avanço do plantio, mas que a safra de soja seguia atrasada em algumas praças. “O atraso ocorre principalmente no Nordeste, que ainda tem expectativa de um clima mais seco, com chuvas irregulares nos próximos dias”, diz o Bradesco.

Enquanto isso acontece, o banco diz que chamou a atenção a alta de mais de 40% dos preços de feijão nos últimos trinta dias. “O clima seco e com chuvas irregulares está levando ao atraso de plantio da 1ª safra de feijão. Isso deve comprometer a produtividade e os preços reagiram em mercado apertado”, afirma o banco.

No mesmo sentido, preços de arroz seguiram em trajetória de alta, com entressafra e algum atraso no plantio. E o preço de trigo acumulava até o relatório alta de mais de 20% em trinta dias, com baixa qualidade no produto nacional.

Dentre os mercados internacionais mais apertados, um destaque é café, com nova alta de preços no mês. É lembrado que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) apresentou nova estimativa de safra para o Vietnã, com números menores. “Além disso, o calor excessivo no Brasil durante a florada pode comprometer a oferta global”, diz o Bradesco.

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