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Eólicas enfrentam ‘vento contrário’ para avançar

- 12/09/2023 131 Visualizações 124 Pessoas viram 0 Comentários
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Depois de viver um ciclo virtuoso nos últimos anos, o setor de energia eólica colocou o pé no freio, inibido pela maior competitividade de outras indústrias, como a solar, e pelos preços pouco atrativos dessa modalidade de energia. Na curva até 2027, por exemplo, o valor do kilowatt-hora está em torno de R$ 100, metade do que seria um valor atrativo para novos investimentos nesta fonte.

O primeiro sinal de alerta veio dos fornecedores de equipamentos para as usinas eólicas. Entre o fim de 2022 e o início deste ano, a americana GE Renewable Energy e a alemã Siemens Gamesa, duas importantes produtoras de aerogeradores, interromperam suas atividades no país. Oficialmente, as empresas não deram detalhes da decisão, mas Marcelo Sá, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, explica que as companhias não estavam conseguindo rentabilizar o negócio no Brasil.

“Tivemos uma pressão no custo das matérias-primas na época da pandemia, quando esses fornecedores já tinham contratos fechados. Ou seja, estavam com preços travados em um momento em que seu insumo subia, e não conseguiam repassar. Isso afetou muitas companhias, que acabaram perdendo dinheiro”, resume.

Com a saída da GE e a hibernação da fábrica da Siemens Gamesa na Bahia, poucos fornecedores são capazes de atender a demanda para a construção dos 630 parques eólicos que já foram autorizados pela Aneel (49,7% da potência prevista para os próximos anos). Atualmente, três companhias fornecem aerogeradores no país: a dinamarquesa Vestas, a alemã Nordex Acciona e a brasileira Weg, que ainda dá seus primeiros passos nesta vertical. Em outra frente, a Gerdau, que possui uma joint-venture com as japonesas Sumitomo e Japan Steel Works (JSW) para a fabricação de peças para a geração de energia eólica, tem sinalizado que pretende priorizar a energia solar.

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(Karsten Würth/Unsplash)

O diretor-executivo da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, em conversa recente com o IM Business, avaliou a saída de fornecedores como uma situação “delicada”. Mas ressaltou que, no seu caso, a companhia tem conseguido fechar contratos de fornecimento de equipamentos a preços competitivos. No fim de março, a Casa dos Ventos anunciou acordo com a Vestas para a compra de 291 aerogeradores que equivalem a 1,31 gigawatt de potência. Foi também o maior acordo comercial para um projeto “onshore” da dinamarquesa – as empresas não divulgaram os valores envolvidos.

A crise acontece num momento em que o Brasil vem batendo seguidos recordes no incremento de geração de energia eólica. Somente neste primeiro semestre, a geração de energia a partir da força dos ventos foi responsável por 44,5% do incremento de capacidade instalada do país, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – 160 usinas entraram em operação no período.

Marcelo Sá, do Itaú BBA, lembra que a expansão segue sendo reflexo de projetos contratados no contexto da crise hídrica de 2021, em que o preço da energia disparou em função da menor geração das usinas hidrelétricas e da necessidade de acionamento das termelétricas. Porém, desde então, o que se viu foi uma deterioração das margens do setor.

“[A crise] Foi um soluço pontual que já se estabilizou. Basicamente não estamos vendo novos projetos serem anunciados, o que temos visto são investimentos que já foram contratados lá atrás. Todas as empresas de utilities seguraram o capex desde então”, explica.

IM Business
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Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), reconhece que 2023 está sendo um ano mais desafiador para a atividade, mas pondera que o efeito da saída dos fornecedores já foi absorvido pelo setor. “A saída de empresas desse porte não ocorre do dia para a noite. Primeiro, elas deixam de atender novos pedidos – e isso já vinha ocorrendo há algum tempo”, afirma. Gannoum diz ainda que novos fornecedores começam a se interessar pelas oportunidades no Brasil, como a americana Goldwind, que desembarcou recentemente.

 

Demanda é a chave

 

Marcelo Sá, do Itaú BBA, reforça que somente uma mudança estrutural de demanda poderá alavancar os investimentos em novos projetos de geração de energia eólica. O especialista lembra que o consumo histórico de energia no país não sugere espaço para iniciativas com capex mais alto, como é o caso dos parques eólicos.

 

Teses como a do hidrogênio verde, na qual o combustível é produzido a partir de uma fonte de energia limpa como a eólica, e a reindustrialização do país são sempre citadas, mas Sá lembra que são iniciativas que ainda vão levar tempo para ganharem escala a ponto de alterar a demanda por energia.

 

“Essas iniciativas trariam alguma mudança estrutural, mas é algo a longo prazo. Olhando essa década, é de se imaginar que os preços da energia sigam nesse patamar nos próximos anos – a não ser que ocorra um problema grave de hidrologia. Não faz sentido desenvolver projetos novos, a não ser que venham mudanças regulatórias ou alguma tecnologia mais barata”, aponta Sá.

 

Elbia Gannoum já enxerga um cenário mais otimista. Para ela, o plano de reindustrialização – ou neoindustrialização, como prefere o governo federal – tende a ganhar tração mais rápido do que se imagina. Anunciado no fim de julho, o pacote, que coloca  o Estado novamente como indutor do crescimento, prevê R$ 106,2 bilhões em recursos públicos para investimentos no setor nos próximos quatro anos e o incentivo à energia verde terá prioridade no programa.




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