 O investidor e guru do mercado financeiro Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, maior gestora de fundos hedge do mundo, alerta que os Estados Unidos, sob o comando de Donald Trump, estão mergulhando no modelo de política autocrática dos anos 1930, mostra reportagem do Financial Times desta terça-feira. Dalio é um dos raros grandes nomes do setor financeiro crítico a Trump. Ele afirma que investidores estão se calando porque temem retaliações do presidente americano. E que o que o mundo assiste atualmente, neste segundo mandato do republicano, é um paralelo político e social do que foi visto nas décadas de 1930 e 1940 no mundo. Políticas cada vez mais extremistas estão sendo implementadas nos EUA em decorrência de lacunas em diversas frentes, resultando em um “colapso de confiança”, pontua o gestor. Interferência na iniciativa privadaUm dos pontos que Dalio destaca é a entrada do estado na iniciativa privada, marcadamente com o anúncio dos EUA levando uma fatia de 10% do capital da Intel, fabricante de chips, exemplo de “liderança fortemente autocrática” e movida pelo desejo de controlar as áreas financeira e econômica, frisou o investidor ao FT. As ameaças feitas por Trump à autonomia do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) são outro aspecto destacado por fundador da Bridgewater, enquanto o governo americano abriu artilharia contra uma das governadoras do órgão. O presidente americano tem Lisa Cook, a única mulher e a primeira negra no colegiado do Fed, sob sua mira, acusando-a de irregularidades em contratos de financiamento imobiliário. O objetivo é substituí-la no board, num esforço para obter maioria de votos e abrir caminho para baixar a taxa de juros. Fazer isso, disse Dalio ao FT, “minaria a confiança no Fed na defesa do valor do dinheiro e tornaria menos atraente a posse de ativos de dívida em dólar, o que enfraqueceria a ordem monetária como a conhecemos”. Não à toa, ocorre hoje uma migração de investidores dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, para o ouro. O metal bateu recorde nesta terça-feira e acumula alta de 30% em 2025. ‘À beira de uma crise de dívida’Na ponta, o investidor sublinha que os EUA estão hoje à beira de uma crise de dívida, resultado de anos de déficits e crescimento não sustentado da dívida, num cenário que já vinha piorando o quadro fiscal do país. Para Dalio, o aumento da dívida vai fazer com que a economia americana — com artérias cada vez mais obstruídas — sofra um “ataque cardíaco” dentro de um a três anos, gerado pelos “grandes excessos agora projetados como resultado do novo orçamento”. O desequilíbrio fiscal também vai forçar a emissão de dívida, mas a demanda não vai manter o mesmo nível da oferta. E o cenário será de um Fed encurralado pela credibilidade fiscal americana enfraquecida diante do mercado. A instituição ficaria entre permitir que a taxa de juros suba, levando a crise de inadimplência, ou “imprimir moeda e comprar a dívida que outros não comprarão”. De acordo com o investidor, os dois cenários lesariam a moeda americana. Avanço do populismoO Fed enfrentaria uma escolha difícil, já que o mercado começou a duvidar da credibilidade fiscal dos EUA, acrescentou Dalio. “Permitir que as taxas de juros subam e haja uma crise de inadimplência, ou imprimir dinheiro e comprar a dívida que outros não comprarão.” Ambos os caminhos prejudicariam o dólar, disse ele. Outro alerta de Dalio é sobre riscos à democracia. Ele explica que quando a desigualdade sobe, o populismo, tanto de direita quanto de esquerda, avança para além de limites a serem resolvidos pelo processo democrático. “Assim, as democracias enfraquecem e a liderança autocrática aumenta, à medida que uma grande porcentagem da população deseja que os governantes assumam o controle do sistema para que as coisas funcionem bem para eles”, afirmou o gestor ao FT.
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