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Economia

Gigante chinesa do delivery Keeta chega ao Brasil e obriga Ifood a reajustar valores

- 01/06/2025 4 Visualizações 4 Pessoas viram 0 Comentários
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Com investimento de R$ 5,6 bilhões, a chinesa Meituan chega ao Brasil com a Keeta, sua marca de entregas, num mercado dominado por iFood, 99Food e Rappi. A disputa já traz promessas de melhores condições a entregadores e restaurantes.

A partir de hoje, o iFood pagará, no mínimo, R$ 7,50 por entrega feita de moto ou carro, e R$ 7 para bicicletas, em rotas de até 4 km. A partir daí, serão pagos R$ 1,50 por quilômetro adicional. Entregas extras na mesma rota geram mais $ 3 cada.

Nicolas Santos, representante da Aliança Nacional dos Entregadores, defende o reajuste das taxas mínimas para R$ 10 e R$ 2,50 por quilômetro. Ele também considera injusto o valor das rotas agrupadas:

“Se faço entregas na mesma rota, recebo R$ 7,50 pela primeira e só R$ 3 pela segunda. Deixo de ganhar R$ 4,50.”

O iFood cobra de restaurantes 12% de comissão no Plano Básico e 23% no Plano Entrega, com mensalidades de R$ 130 e R$ 150, respectivamente. Também há um plano com mensalidade fixa, sem comissão.

Concorrência

No Rappi, desde o fim da semana passada, entregadores recebem R$ 10 por entrega das 18h de sexta-feira às 11h de segunda-feira, com adicional de R$ 1,60 por quilômetro rodado a partir do quinto. Nos demais dias e horários da semana, a taxa mínima continua sendo de R$ 7. A empresa diz também não estar cobrando tarifas de intermediação para estabelecimentos.

Prestes a voltar às atividades após 3 anos parada, a 99Food dá um pagamento mínimo de R$ 250 para quem faz 20 corridas por dia, como pelo menos cinco de comida. Segundo entregadores, há taxa mínima de R$ 8 (até 4km) e R$ 2,50 a partir daí. Se tiver entregador próprio, o restaurante tem isenção da taxa de comissão e da mensalidade, pagando só pela transação financeira (3,2%). Se optar pela entrega via 99, há uma taxa de delivery de 4,5%, mais 3,2%.

A Keeta planeja montar uma rede com cem mil entregadores no país, mas não deu detalhes.

As vozes dos entregadores

Nas ruas, praças e restaurantes, os entregadores mostram as condições reais que passam, enfrentando jornadas longas, dificuldades estruturais e insegurança. Por outro lado, também esperam que a competição crescente no setor possa trazer melhorias nas condições de trabalho e na remuneração.

Jonatas Moreira, de 27 anos, trabalha há quatro anos no delivery e atua exclusivamente pelo iFood. Ele, que trabalha no mínimo seis dias por semana, cerca de 11 horas por dia, aponta desafios para conseguir alcançar a meta diária de R$ 120.

“Algumas coisas parecem bobas, mas não são. Tipo subir ladeiras. O esforço é muito maior, mas o pagamento continua o mesmo. Eu espero que com novas plataformas a gente consiga melhorar isso.”

Gabriel Dias, de 20 anos, está há seis meses no delivery, desde quando largou um emprego CLT em um mercado. Nesta semana, ele sofreu um acidente enquanto fazia uma entrega: um pedestre distraído atravessou a faixa, e ele, ao tentar desviar, bateu no meio-fio e caiu, machucando a perna. Hoje, Dias tem dificuldade para pedalar.

“Não recebi suporte da empresa, nem para um remédio. Não estou conseguindo dormir devido à dor e ao incômodo do machucado. Ou a coberta agarra na ferida ou as moscas pousando no machucado”, diz.

Gabriel é pai da pequena Laura Gabriele, de oito meses, e tenta conciliar a rotina exaustiva do trabalho com o tempo para a filha, que “quer ver o pai”.

Jhonatan Alves, 38 anos, era funcionário CLT, mas voltou a trabalhar no delivery, ramo que conheceu na pandemia. Para ele, a liberdade do trabalho é o que mais conta. Sua maior preocupação é a segurança, principalmente por causa da bike que utiliza para fazer as entregas, adquirida por R$ 6.700 em 18 parcelas — ele está na quarta. No celular, Jhonatan acompanha vídeos que mostram as estratégias usadas por criminosos para roubar veículos de entregadores, o que o deixa constantemente alerta.

“Os caras sempre arrumam um jeito. É com cortador de cadeado, roubo à mão armada… A gente nunca está totalmente seguro quando está fazendo uma entrega. Tem que estar sempre atento. Às vezes, é o tempo de você ir entregar o lanche. Quando volta, sua bicicleta não está mais onde você deixou.”

Amsterdan Sousa, 34 anos, faz turnos de 12 horas por dia, seis dias por semana, divididos entre seis horas como freelancer e seis horas fixas em um restaurante. Ele demonstra otimismo com a entrada da Keeta e outras plataformas no Brasil.

“Já tinha passado da hora de outras empresas competirem. E essa concorrência tem tudo para beneficiar os entregadores, já que somos a base e o pilar principal das plataformas digitais. Uma remuneração mais justa, um suporte mais assertivo e distribuição de EPIs já é um bom começo.”

Roberto Neves, de 59 anos, trabalha 12 horas por dia, de segunda a segunda, e acredita que os trabalhadores do delivery deveriam ter mais direitos adquiridos.

“Os aplicativos deveriam ceder mais e não pensar só em si, entendeu? Acho que deveria investir em equipamentos para os trabalhadores — mochilas, baús, capa de chuva, bota… suporte para colocar o telefone, um carregador decente para carregar o celular.”

‘Poucos controlando a vitrine’

Para Ingrid Devisate, vice-presidente executiva do Instituto Foodservice Brasil (IFB), o mercado de delivery no Brasil funciona “como um grande shopping digital de alimentação, com poucos controlando a vitrine”. Segundo ela, a competição acontece em três frentes: “atrair o consumidor final com promoções, cupons e tempo de entrega; convencer os restaurantes com visibilidade, ferramentas de gestão e taxas competitivas; e reter os entregadores oferecendo melhores condições de trabalho, remuneração e bônus”.

Ela destaca que o grande desafio das plataformas é “equilibrar essa equação, pois os públicos envolvidos têm interesses distintos, e todos são essenciais para um crescimento sustentável”. Para os restaurantes, a competição é ainda mais complexa.

“A plataforma se comporta como um sócio, mas sem dividir os riscos da operação, o que dificulta a negociação de melhores margens.”

O modelo brasileiro, para Ingrid, é bastante distinto de outros países.

“Na China, plataformas como Meituan possuem ecossistemas integrados que vão além do delivery, com frota própria e uso de inteligência artificial. Nos Estados Unidos, várias redes investem fortemente em delivery próprio, enquanto na Alemanha o modelo foca na rastreabilidade e conformidade trabalhista. Já o Brasil, depende mais das grandes plataformas, tem alta informalidade e uma complexidade tributária que dificultam o desenvolvimento do delivery próprio.”

Procurado, o Rappi diz ver a concorrência como benéfica para o mercado e declarou estar “fazendo o investimento na vertical de restaurantes durante os próximos 3 anos (os estabelecimentos não vão pagar taxas até 2028)”.

A 99Food destaca, entre diversas ações para conquistar os parceiros, um investimento de R$ 50 milhões nos próximos cinco anos para criar pontos de apoio aos motociclistas.

O iFood, por sua vez, tem entre suas várias iniciativas uma linha de crédito especial (iFood Pago) para os restaurantes.




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