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Economia

Haddad: esquerda precisa fazer “reflexão” e apresentar um “projeto de futuro” ao país

- 17/10/2024 15 Visualizações 15 Pessoas viram 0 Comentários
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Apontado como um homens de maior confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no governo federal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), foi candidato à Presidência da República em 2018 e é sempre apontado como possível postulante à sucessão de Lula nas eleições futuras.

No entanto, segundo o chefe da equipe econômica do atual governo, caberá a Lula definir os rumos de sua própria sucessão — o mais importante, diz ele, é a esquerda ter clareza de que precisa fazer uma “reflexão” e apontar um “projeto de futuro” ao país.

Em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, nesta quinta-feira (17), Haddad afirma que a extrema-direita ocupou um espaço de protagonismo nos corações e mentes de parte da população – justamente por anunciar um “horizonte distópico” que guia as pessoas, na falta de um “horizonte utópico”.

“Em 2008, assistimos a uma crise [financeira] do neoliberalismo, e a extrema-direita começou a avançar no mundo inteiro. Seu pensamento começou a se impor. A segunda razão para que isso acontecesse é que a esquerda ainda estava saudosa de estruturas do século 20 que tinham feito água nos anos 1980. O sistema soviético, o nacional-desenvolvimentismo e a própria social-democracia europeia, que eram as três grandes estruturas com as quais partes da esquerda dialogavam, tinham desaparecido, entrado em colapso quase”, analisa Haddad.

“Sobrou para a extrema-direita, que sempre cresce em momentos de crise sistêmica, sobretudo quando a esquerda não se planeja para esse momento, como foi o caso. A esquerda não estava preparada em 2008, com um programa renovado, com um sonho renovado”, reconhece o ministro.

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“Reflexão”

Segundo Haddad, “a bem da verdade, a esquerda ainda não está dialogando com um projeto de futuro”. “Quando você não tem um sonho, um horizonte utópico que guia as pessoas, você tem um horizonte distópico. E a extrema direita é distópica”, explica.

“Você precisa se reapresentar para a sociedade. Eu falei de três estruturas que tiveram pensadores associados a elas. Havia o pessoal mais radical do Partido Comunista. Mas havia projetos sem revolução também. O Estado brasileiro desenvolvia a sua economia, a América Latina crescia, depois isso migrou para a Ásia, a social democracia funcionava”, prossegue o petista.

“Mesmo sabendo de todos os problemas desses três modelos, eles eram promessas. E a promessa sempre fez parte da política. A política é promessa. É projeto.”

De acordo com o ministro da Fazenda, “o mundo está devendo para si mesmo horizontes emancipatórios”. “E, quando isso acontece, e já aconteceu cem anos atrás, a distopia toma conta. Os clowns [palhaços] tomam conta do picadeiro. E começam a surgir esses movimentos que assustam. E nos perguntamos: ‘De onde saiu essa pessoa? De onde saiu esse sujeito? Como é que essa pessoa tem 30% dos votos?’”, questiona.

“É preciso fazer uma reflexão séria. E eu penso que a esquerda está se devendo a isso. Mais formulação teórica, mais aprendizado, mais ousadia na reflexão sobre o que é possível fazer.”

Haddad complementa: “Se a esquerda não se renovar, não se reapresentar, não se reformular, não expandir os seus horizontes, não oxigenar o debate político, não convencer que tem um horizonte de emancipação das pessoas, de mais liberdade, de mais igualdade, ela vai sofrer os efeitos da atual crise política”.

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Extremismo

Na entrevista, Fernando Haddad chama atenção para o avanço da extrema-direita no Brasil e no mundo e afirma que, hoje, a chamada terceira via “é uma fantasia”.

Eu não tenho essa ilusão. A construção de terceira via é uma fantasia que já ocorreu outras vezes. Recebi hoje a capa de uma revista que mostra os candidatos à Presidência da República da direita. São todos bolsonaristas: Michelle Bolsonaro, Tarcísio [de Freitas], [Romeu] Zema, [Ronaldo] Caiado”, diz Haddad.

“A pessoa come de garfo e faca, conversa com você, não te xinga. Mas qual é o projeto dela? É cassar ministro do Supremo? É vender patrimônio público como foi feito com a Sabesp e com a Eletrobras? É cortar direitos sociais? É colocar a democracia em xeque? É questionar voto em urna eletrônica? É defender escola cívico-militar? É proibir educação ambiental nas escolas? É questionar vacina? Para mim, é extremismo”, opina o ministro.

“E tudo isso voltou na eleição municipal de 2024. O prefeito de São Paulo [Ricardo Nunes] está questionando a vacina e liderando as pesquisas. O modo bem educado, o verniz, não resolve o problema do extremismo.”

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Pós-Lula

O ministro da Fazenda também comentou o processo de sucessão de Lula, que deve se candidatar a um novo mandato em 2026 – possivelmente seu último ato na cena política do país.

“O Lula estava preparando a sucessão dele. Primeiro, com o [ex-ministro da Fazenda Antonio] Palocci. Aconteceu o que aconteceu [ele foi investigado e preso por corrupção e deixou a política]. O [ex-governador de Pernambuco] Eduardo Campos era uma aposta do Lula. Aconteceu o que aconteceu [ele morreu em um acidente de avião em 2014]. Teve depois o impeachment da Dilma [Rousseff]. Você não desenha a história. Tem o imprevisto, o acaso. Tem muita coisa, né?”, afirmou.




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