O IPCA de julho que será divulgado nesta sexta-feira (11) deverá ficar pouco abaixo dos 0,10% em relação a junho, após ter mostrado uma deflação de 0,08% no mês anterior. Um repique de preços no período já era esperado pelos analistas, uma vez que as deflações do ano passado referentes à redução de impostos vão exercer seus efeitos até setembro, mas uma queda na alimentação no domicílio e variações amenas de serviços e dos núcleos devem compensar essa alta. Pesquisa feita pela Reuters com 21 economistas aponta que a mediana das projeções está em 0,07% na margem. O IPCA anualizado deve avançar de 3,16% para 3,93% segundo essas estimativas, exatamente pela base fraca de julho de 2022. Claudia Moreno, economista do C6 Bank, por exemplo, trabalha com uma projeção de inflação mensal de 0,09%, e alta de 3,96% na leitura anual. Para a média dos núcleos da inflação, olhada com lupa pelo Banco Central para a definição de sua política monetária, a estimativa é de alta de 0,15%, enquanto os serviços devem ter variação de 0,26%. “Nada que chame muito a atenção, mas também não tão fraco”, comenta. Sobre os itens que devem de estacar no indicador, Claudia cita a gasolina, com alta projetada de 4,3% no mês e contribuição de 20 pontos-base, motivada pela volta da cobrança do PIS/Cofins sobre combustíveis. Os preços dos automóveis novos, por sua vez, devem ter subido 2% no mês (contribuindo com 6 bps) após o fim dos efeitos do programa de descontos pelo governo federal. Puxando o indicador para baixo, devem se destacar a alimentação no domicílio (-0,61%) e a energia elétrica (-3,8%), mas essa última por conta do efeito do bônus de Itaipu, que deve acabar retornando mais à frente. “Estamos chegando no período daquelas desonerações, com queda de ICMS em energia elétrica, combustíveis e telecomunicação. Com a saída desses números negativos do ano passado entrando agora, esperamos ver uma elevação da inflação no acumulado de 12 meses”, diz. Claudia destaca que esse movimento deve continuar nos próximos meses, com a projeção para agosto passando para 4,6% e, a de setembro, para 5,3%. Para a inflação de serviços, a expectativa da economista do C6 Bank é que ela continue pressionada até o final do ano. “A dinâmica da inflação de serviços é muito influenciada pelo mercado de trabalho, que a gente está vendo num patamar de taxa de desemprego baixa, em torno de 8%, ante uma média histórica de 10%”, explica. Como não há previsão de que e inflação de serviços vá desacelerar muito à frente e o BC colocou essa como uma das condições para uma possível velocidade maior de cortes de juros, a projeção do C6 Bank é que o ritmo de 50 pontos-base de cortes será mantido até o final do ano. Beto Saadia, diretor de Investimentos da Nomos, prevê um IPCA muito próximo de zero nessa divulgação. Para ele, o índice deve registrado uma composição significativamente mais construtiva, com menor pressão no setor de serviços subjacentes (com alta de 0,35%), quanto dos produtos industriais, que devem sofrer influência da política de descontos em automóveis. Ao menos para este mês, o diretor da Nomos não acredita num repique de preços. “A desaceleração da inflação por conta do aumento de juros e queda do preço dos combustíveis e alimentos no mercado global mais do que compensara as reonerações”, comenta. Forças opostasAndré Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi, por sua vez, projeta um IPCA de 0,07% em julho, o que levará o acumulado nos últimos 12 meses para 3,94%. Essa aceleração anual vai se dar por conta do efeito base, já que sairá da conta a deflação de julho de 2022, que chegou a -0,68%. O economista afirma que, novamente, a leitura do indicador trará um equilíbrio de forças opostas. “De um lado, teremos deflação em alimentação no domicílio (-0,70%) e industriais (-0,13%), enquanto teremos leituras positivas para serviços (0,36%) e monitorados (0,33%)”, lista. No caso de monitorados, ele ressalta que vai haver queda em energia elétrica, por conta da Tarifa Bônus de Itaipu, mas que haverá alta expressiva em gasolina. “Diria que a aceleração frente a leitura mensal de junho se dará por conta do avanço em gasolina e por uma deflação menor em alimentos e industriais. Para os núcleos, Nunes projeta que o chamado Ex-0 (que exclui alimentação no domicílio e monitorados) permaneça muito próximo do patamar de junho, em 0,16% ante 0,13%. No acumulado dos últimos 12 meses, esse núcleo deve recuar de 5,3% para 5,0%. No caso dos serviços, também é esperada uma desaceleração na margem (para 0,36% ante 0,62%), puxada por itens voláteis, mas também por uma dinâmica mais positiva para serviços subjacentes, assim como foi visto na divulgação do IPCA-15 Sobre o comportamento da inflação de administrados, o economista do Sicredi cita o caso dos combustíveis, em especial a gasolina. “Temos acompanhado uma recuperação no preço do petróleo no mercado internacional. Caso ainda estivesse em vigor a paridade internacional de preços, seria um gatilho para que a Petrobras ajustasse os preços nas refinarias”, comenta. Cupom exclusivo InfoMoney Expert XP 2023 Garanta 5% de desconto no seu ingresso da Expert XP 2023. Cadastre-se e receba o seu cupom Ele lembra que a própria companhia já informou uma defasagem de 13%, embora em outras métricas e acompanhamentos, essa defasagem seja (a Abicom estima uma defasagem superior a 20%). “Possivelmente, a resistência mostrada no Boletim Focus (dos administrados) deve-se a uma crença predominante no mercado de que a Petrobras não repasse essa defasagem ou, caso o faça, seja parcial”, avalia. A opinião é partilhada por Claudia do C6 Bank. “A gente está vendo uma elevação do preço da gasolina lá fora, que poderia puxar o preço aqui dentro. Mas no nosso cenário, não colocamos elevação do preço da gasolina. Não deve subir até o final do ano”, diz. Sobre a possibilidade de a dinâmica inflacionária permitir ao BC elevar o ritmo de cortes de juros, Nunes diz que essa chance não é desprezível, embora não se trate do cenário base. “Ainda vemos um mercado de trabalho bem aquecido. Por outro lado, as últimas leituras tem mostrado um movimento mais benigno no qualitativo.” Leonardo Costa, economista da ASA Investments, projeta um IPCA de 0,06% no mês e de 3,93% em 12 meses, com os serviços subindo 0,17% em julho ante junho e desacelerando para 5,62% na leitura anual. “O saldo qualitativo deve ser benigno, com desaceleração no núcleo de serviços”, prevê. Ele comenta que a inflação de serviços é bastante inercial, com pouca chance de alguma surpresa relevante para baixo ou pata cima. “Com o mercado de trabalho ainda bastante aquecido, uma surpresa para baixo nesse grupo parece ainda mais improvável”, afirma. Para os preços administrados, Costa vê algum risco de reajustes na gasolina, devido à enorme defasagem entre o preço doméstico e o internacional dos combustíveis. Núcleos ainda altosÉtore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, tem uma projeção de inflação um pouco mais alta, de 0,09% no mês e de 4,0% na comparação anual. “Os núcleos e serviços continuarão a ceder em 12 meses ainda que sigam em patamar muito elevado, todos ao redor de 6%”, prevê Sobre o comportamento dos preços administrados, Sanchez lembra que eles possuem grande inércia, o que faz com que os reajustes de 2023 reflitam sobremaneira os quase 6% do headline em 2022, “além das reonerações que tivemos esse ano, produto de uma política de desonerações insustentáveis no ano passado”. Sobre a possibilidade de o BC acelerar os cortes para além dos 50 pontos-base prometidos, ele vê chance real, uma vez que considera que há “grande subjetividade” no termo usado pelo BC para admitir essa hipótese (“substancialmente mais benigno”). A projeção do Itaú é de que a inflação de julho tenha acelerado para 0,10%, com pressões de alta vindas de veículos e gasolina. “Apesar da baixa leitura sequencial, a taxa anual deve subir para 4,0%, ante 3,2% em junho, devido à menor base de comparação após a desoneração do ano passado”, diz o banco em relatório. Em relação aos núcleos de inflação, o banco acredita que tanto serviços quanto bens vão desacelerar na margem. Rafael Costa, economista do time de estratégia macro da BGC Liquidez, projeta um IPCA de 0,08% em julho e uma taxa anualizada de 3,95%. A estimativa é de um avanço de 0,43% para os preços monitorados e uma deflação de 0,04% para os livres. “Esperamos que os preços dos alimentos registrem deflação de 0,87% no mês, ante -1.07% em junho. Se essa leitura for confirmada, será uma deflação bastante forte para o padrão do período. Apesar de esperarmos uma deflação até fraca para os preços dos alimentos in natura, a deflação em outros segmentos, como nas carnes, mais que compensa isso”, afirma. Para os preços industriais, a projeção é de alta de 0,04%, ante -0.58% em junho. “O item automóvel novo, que registrou deflação 2.76% no IPCA de junho como consequência do programa do governo federal de descontos para carros populares, deve voltar a registrar inflação (+1%) nessa leitura e é um dos drivers, levando o grupo de industriais de volta para terreno positivo”, comenta. Para a inflação dos serviços, a BGC Liquidez projetamos variação fraca, de +0.28% no mês, em parte por conta de variações de itens que se repetem do IPCA-15 para o fechado do mês como: aluguel residencial (-0.05%) e empregado doméstico (+0.29%). “Esperamos que os serviços subjacentes registrem inflação de 0,27%, com o segmento de alimentação fora do domicílio apresentando inflação de 0,40%, leituras baixas para o período. Caso essas projeções para as inflações de serviços e serviços subjacentes de fato ocorram, certamente melhorarão nossa perspectiva para a desinflação do grupo”, diz Costa. Ele comenta ainda que o grupo de serviços tem apresentado uma desinflação lenta e que isso tem sido uma grande fonte de preocupação pelo Banco Central. A BGC aponta uma preocupação no cenário de curto prazo relacionada à excessiva diferença entre os preços de venda da gasolina e do diesel praticados pela Petrobras em suas refinarias e as referências internacionais. “Estamos incorporando nas nossas projeções de IPCA que a Petrobras aumente o preço da gasolina em 5% a partir do início da semana que vem, apesar de não descartar que o reajuste venha ainda essa semana e seja um pouco maior que 5%”, alerta. Ele destaca que gasolina tem um peso de aproximadamente 5% no IPCA, o item com o maior peso individual de todos os itens que compõem o índice. “Pelas nossas contas, um aumento de 1% no preço de venda da gasolina praticado pela Petrobras em suas refinarias gera um impacto altista próximo de 0,02 ponto percentual no IPCA”, calcula.
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