 JERUSALÉM (Reuters) – Israel solicitou nesta quarta-feira a um monitor global da fome que retire uma avaliação segundo a qual a Cidade de Gaza e áreas vizinhas sofrem fome extrema com tendência de agravamento, classificando o relatório como “profundamente falho”. O sistema Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês) disse na sexta-feira que 514.000 pessoas — cerca de um quarto dos palestinos em Gaza — estão passando fome extrema, e o número deve aumentar para 641.000 até o final de setembro. Após quase dois anos de guerra em Gaza, Israel tem repetidamente rejeitado tais conclusões, considerando-as falsas e tendenciosas, a favor do grupo militante palestino Hamas. O diretor-geral do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Eden Bar Tal, escreveu ao IPC nesta quarta-feira pedindo a retirada do relatório até que o órgão conclua uma revisão. “O relatório é profundamente falho, não é profissional e está gravemente fora dos padrões esperados de um órgão internacional ao qual foi confiada uma responsabilidade tão séria”, escreveu ele. Na carta, ele acusa o IPC de se afastar de seus próprios padrões e regras, acrescentando ver indícios de que os dados foram inventados, escolhidos a dedo ou ignorados. “Esperamos que o IPC conduza uma revisão urgente e transparente desse relatório, que aborde as violações metodológicas e evite enganar a comunidade internacional, o público e os formuladores de políticas”, escreveu ele. O IPC não forneceu comentários imediatos sobre a carta israelense. Iniciativa que envolve 21 grupos de ajuda, agências da ONU e organizações regionais financiadas pelo Reino Unido, Canadá, União Europeia e Alemanha, o IPC registrou fome extrema quatro vezes no passado — na Somália em 2011, no Sudão do Sul em 2017 e 2020 e no Sudão em 2024. Segundo Bar Tal, se um novo relatório não for apresentado dentro de duas semanas, Israel vai continuar com sua contestação e pedir a doadores do IPC que interrompam o apoio financeiro. Muitos governos europeus e organizações internacionais pediram a Israel que permita mais acesso à ajuda humanitária em Gaza. O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas israelenses, tenente-general Eyal Zamir, reuniu-se nesta quarta-feira com a diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos da ONU, Cindy McCain. De acordo com uma declaração militar, ele enfatizou o compromisso de Israel em evitar a fome e permitir que a ajuda humanitária chegue aos habitantes de Gaza. O Ministério da Saúde de Gaza disse nesta quarta-feira que mais 10 pessoas morreram de desnutrição e fome extrema, aumentando o total de mortes por essas causas para 313 pessoas, incluindo 119 crianças, desde o início da guerra de Gaza, em outubro de 2023. Israel contesta os óbitos divulgados pelo Ministério da Saúde do enclave, administrado pelo Hamas. (Reportagem de Lili Bayer)
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