![]() A espera terminou e a promessa foi cumprida. Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil se firma no mapa global da NFL, provando que a paixão pelo esporte da bola oval vai muito além das fronteiras norte-americanas. Desta vez, o espetáculo foi protagonizado por Los Angeles Chargers e Kansas City Chiefs na Neo Química Arena, do Corinthians, em uma noite que reafirmou o sucesso da estreia e alimentou o sonho de ver a liga retornar outras vezes. Se o evento do ano passado foi sobre a conquista de um espaço, a edição deste ano é sobre consolidação. O público, que já coloca o Brasil como o segundo maior mercado internacional da NFL, respondeu novamente em peso, transformando a Zona Leste de São Paulo em um vibrante caldeirão de culturas e torcidas. A experiência de quem foi ao estádio começou muito antes do apito inicial. O trajeto de transporte público, novamente o caminho mais recomendado, foi palco de encontros inusitados, misturando o cotidiano do paulistano com a empolgação dos fãs, vestidos com as cores vibrantes de seus times. Em 2024, mais de 47 mil pessoas acompanharam de perto a estreia vitoriosa dos Philadelphia Eagles sobre o Green Bay Packers, e a experiência se repetiu com o transporte público tomado por torcedores fantasiados, famílias inteiras uniformizadas e uma mistura sonora que ia de gritos em inglês a cantorias de pagode. Leia mais: “Vamos ver o que o futuro reserva”, diz Odell Beckham Jr. sobre carreira na NFL A empolgação era tanta que pessoas de todo o Brasil decidiram cruzar o país para viver a experiência. Douglas Oenning, 42 anos, e Robson Valle, 33, vieram de Curitiba. Ambos engenheiros, os amigos já haviam estado no jogo do ano anterior. “Gostamos tanto que voltamos”, contou Douglas. Para eles, a viagem é um “momento de descontração” e a oportunidade de ver de perto um esporte que, para Robson, superou o futebol tradicional. “Hoje, para mim, futebol é esse”, brincou. — Como o futebol americano tem mais contato, eu acho que é mais legal, é mais emocionante de ver. E uma coisa interessante também, por um outro lado, quem não conhece, imagina que o futebol americano é só porrada, só força, mas é muito mais estratégica do que força, muito jogo de equipe. Quem vence não é o mais forte, é o que montou uma estratégia melhor — declarou Douglas. Bruno Leto, de 42 anos, viajou de Goiânia com a família para ver de perto o jogo da NFL. Fã do esporte há uma década e torcedor do Chiefs há cinco anos, ele veio a São Paulo com a esposa e o filho, Pedro, para ver o time do coração em campo. — Acompanho a NFL há cerca de dez anos e torço para os Chiefs há cinco. No ano passado não consegui ingresso, mas neste ano deu certo. É muita emoção estar aqui com meu filho e minha esposa — disse, visivelmente empolgado. — No ano passado eu não consegui comprar o ingresso, mas nesse ano fiz questão de entrar mais cedo na fila — finalizou. Neste ano, a conexão entre o evento global e a cidade de São Paulo ganhou um contorno ainda mais humano e inspirador, materializado em um novo mural do renomado artista Eduardo Kobra. Na Rua Pedroso Alvarenga, a obra imortaliza o rosto de Paulo César Silva Pedreira, um jovem de 17 anos de Paraisópolis. A arte de Kobra celebra a jornada de Paulo César Silva Pedreira, que, através de um projeto social, participou de uma seletiva para a seleção brasileira de flag football e auxiliou nas atividades de times da NFL em visita ao Brasil. A escolha do artista não poderia ser mais simbólica: usar a imagem de um jovem atleta local, que personifica a superação e os valores do esporte, para saudar o retorno da maior liga do mundo. “Como exemplo de superação e de alguém que vive os bons valores esportivos, por meio dele eu enalteço as virtudes buscadas e vividas por um atleta. O timing é perfeito”, escreveu Kobra. A atmosfera americanaDentro e fora da arena, a imersão era total. Food trucks com culinária típica americana, uma loja com produtos oficiais e a festa no estacionamento criaram um ambiente de celebração que reuniu torcedores de todo o Brasil e do exterior. A diversidade era a marca registrada, com sotaques e idiomas se misturando em uma paixão comum. O torcedor William Santos veio diretamente de Los Angeles com três amigos, apenas para o jogo. Impressionado com a atmosfera na cidade, ele confessou que não esperava tanta paixão. “Não sabia que era tão grande”, disse surpreso. — A paixão pelo futebol americano é muito grande, torcemos para o time de Los Angeles, onde moramos. Não é a primeira vez que viajamos a outra cidade, a outro país para acompanhar o time. E agora vimos que aqui também é um esporte bem popular, que as pessoas gostam — contou o torcedor dos EUA. Como já é tradição, os intervalos foram um show à parte. A organização soube mesclar a cultura americana com o gosto local, e entre uma jogada e outra, o sistema de som da arena surpreendeu com clássicos da música brasileira — com destaque para Tim Maia, que levou o público à loucura, e Chiclete com Banana — , provando que a experiência da NFL no Brasil tem um tempero único. Das câmeras do beijo às interações com o público, cada detalhe foi feito para criar uma memória do evento. Se no ano passado o verde dominou as arquibancadas, desta vez o estádiofoi dominado pelo vermelho vibrante dos Chiefs, que trouxeram uma legião de fãs para apoiar uma das equipes mais dominantes da liga nos últimos anos. A batalha sonora das torcidas ecoou por Itaquera, com vaias e gritos da torcida a cada jogada. Elevando o evento a um patamar de festival, a trilha sonora da noite foi comandada por um trio de estrelas. A solenidade pré-jogo uniu a jovem sertaneja Ana Castela, de 21 anos, que cantou o hino brasileiro, sucedendo Luísa Sonza, que se apresentou na estreia em 2024. Ao seu lado, a sofisticação instrumental do aclamado saxofonista de jazz Kamasi Washington, um nome premiado no cenário mundial, que entregou uma interpretação do hino norte-americano. O aguardado show do intervalo ficou a cargo de um furacão colombiano: a estrela pop Karol G. Ansiosa pelo momento, a “Bichota”, como é conhecida, já havia visitado a arena dias antes, compartilhando com milhões de seguidores sua emoção por voltar aos palcos. Com um repertório que acumula dezenas de milhões de visualizações e sucessos no topo das paradas globais, a apresentação foi expressa, mas capaz de transformar o gramado em uma verdadeira festa latina, seguindo os passos de Anitta, que comandou o espetáculo no ano anterior e consolidando o evento no Brasil como uma plataforma para grandes nomes da música. Arena preparada para o espetáculoPara receber o espetáculo, a casa corintiana passou por uma transformação. Atendendo às críticas do ano anterior, o gramado foi o foco de uma reforma completa. Com a costura de novas fibras sintéticas e a renovação da estrutura pela primeira vez desde 2013, o campo agora ostenta a mesma qualidade da Copa do Mundo de 2014, garantindo mais estabilidade e segurança para os atletas. Escorregões que antes frustravam jogadas deram lugar a um tapete impecável. A estrutura também foi adaptada: arquibancadas temporárias foram erguidas, a capacidade foi ajustada para cerca de 47.800 espectadores, e toda a infraestrutura de iluminação, cabeamento e pirotecnia foi reforçada. As icônicas traves em “Y” e as marcações em jardas tomaram o lugar do campo de futebol, completando a metamorfose do estádio em um autêntico palco da NFL. Ao final da partida, a sensação entre os apaixonados pelo futebol americano era de vitória para o esporte no país. Entre a multidão, Bruna e Fernanda Bordini, torcedoras dos Chiefs de São Paulo, ficaram impressionadas com a organização do evento, comparando-o a um jogo que assistiram no SoFi Stadium, casa dos Chargers, nos Estados Unidos. “Eu tô achando a estrutura bem organizada”, disse Bruna, enquanto Fernanda, que acompanha o esporte por causa do irmão, concordava. |
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