![]() A criação de uma comissão para discutir a reforma do Poder Judiciário, anunciada na última segunda-feira (23) pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), repercutiu de forma intensa entre advogados constitucionalistas e juristas. Embora o grupo tenha como foco propostas técnicas para modernizar a Justiça, os debates ocorrem em meio a críticas crescentes ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a questionamentos sobre o ativismo judicial. Na avaliação da advogada Daniela Poli Vlavianos, sócia do Poli Advogados Associados, é preciso repensar a estrutura do Judiciário. “Em momentos de crise de legitimidade é quando as reformas se tornam mais urgentes. Hoje o Judiciário enfrenta críticas severas de diversos setores e discutir uma reforma agora permite que ela ocorra com base técnica, e não como resposta emocional ou oportunista”, afirma.
Ameaça à democraciaDaniela defende que o STF tem cumprido seu papel institucional diante de ameaças à democracia, e que críticas ao chamado ativismo judicial precisam considerar o contexto de omissões do Legislativo e do Executivo. “O Supremo muitas vezes precisa atuar porque é provocado. A judicialização da política não é criação do Judiciário, mas resultado da inércia dos demais Poderes.” A pluralidade da comissão formada pela OAB-SP, segundo a advogada, também pode contribuir para um debate equilibrado, capaz de distinguir propostas técnicas de eventuais retaliações políticas. Mas na opinião do advogado constitucionalista Aílton Soares de Oliveira adota, o STF tem extrapolado suas competências. “Há inquéritos que se arrastam por anos. O tribunal passou a exercer uma função quase fiscalizadora do sistema político, o que não é seu papel.” Ele, no entanto, diz que não há revanchismo na iniciativa da OAB-SP, mas sim “um resgate” da função histórica da entidade. “A OAB perdeu protagonismo nos últimos anos. A criação dessa comissão é uma retomada do seu papel institucional. Não se discute o Estado democrático de direito, mas sim os excessos de um tribunal que, em alguns momentos, atua como juiz de primeira instância.” O contexto da comissãoSegundo o presidente da seccional, Leonardo Sica, a comissão, anunciada durante reunião do Conselho Pleno da OAB-SP, visa elaborar propostas para modernização do Judiciário. A meta é entregar o projeto final ao Congresso Nacional e ao STF em junho de 2026. Integram o grupo nomes de peso do Direito brasileiro como os ex-presidentes do STF Ellen Gracie e Cezar Peluso; os ex-ministros da Justiça José Eduardo Cardozo e Miguel Reale Jr., os juristas Oscar Vilhena, Maria Tereza Sadek, Alessandra Benedito, e os ex-presidentes da OAB Patrícia Vanzolini e Cezar Britto. Durante o lançamento, Sica ressaltou que a administração da Justiça deve ser compartilhada com a sociedade e que o Judiciário, ao ganhar poder e estrutura, também precisa demonstrar eficiência, estabilidade e transparência. “Juízes têm o monopólio de dizer o Direito, mas não de administrar a Justiça. Isso deve envolver advocacia, academia, Ministério Público e sociedade civil. A palavra-chave será cooperação”, disse. Veja pontos que serão avaliados pelo grupo:
Discussão ou contenção do STF?Embora os integrantes da comissão tenham negado qualquer viés revanchista ou de contenção ao Supremo, a criação do grupo ocorre em um contexto de polarização e desgaste da imagem da Corte, especialmente em razão de inquéritos longos e decisões com impacto direto sobre a política nacional. A ministra aposentada Ellen Gracie, integrante da comissão, sintetizou o espírito do grupo: “O momento é adequado. O Judiciário está sob crítica violenta de todos os lados. Não agrada a ninguém. Precisamos debater com profundidade.” A discussão deve incluir temas como televisionamento de sessões, código de conduta para ministros, excesso de processos no STF, governança interna da Justiça, e o papel do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A expectativa dos juristas ouvidos pela reportagem é que o debate avance com equilíbrio, sem alimentar confrontos institucionais, mas também sem ignorar o acúmulo de tensões entre os Poderes. “Não é anti-STF. É pró-democracia, pró-aprimoramento institucional. A sociedade precisa confiar na Justiça, e o Judiciário precisa fazer sua parte”, resume Aílton Soares de Oliveira. Veja as principais mudanças do Judiciário1988 – Promulgação da Constituição Federal 1999 – Apresentação da PEC da Bengala 2004 – Reforma do Judiciário 2010 – Início da transmissão ao vivo das sessões do STF |
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