Ao comentar a disputa eleitoral na Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou, nesta terça-feira (14), que o país vizinho precisa de um presidente que “goste de democracia”, “respeite as instituições” e valorize a integração regional para fortalecer o Mercosul.
“Eu não posso falar de eleição na Argentina porque é um direito soberano do povo. Mas eu queria pedir para vocês, que se lembrem de que o Brasil precisa da Argentina e de que a Argentina precisa do Brasil; dos empregos que o Brasil gera na Argentina e dos empregos que a Argentina gera no Brasil, do fluxo comercial entre dois países e de quanto nós podemos crescer juntos. Para isso é preciso ter um presidente que goste de democracia, que respeita as instituições, que goste do Mercosul, que goste da América do Sul e que pense na criação de um bloco importante”, destacou.
A declaração do presidente brasileiro ocorreu durante o programa semanal ‘Conversa com o Presidente’, após ser questionado pelo jornalista Marcos Uchôa sobre o futuro da relação entre os países após o resultado do pleito, cujo segundo turno ocorrerá no próximo domingo (19).
No país vizinho, o economista Javier Milei, que se define como libertário e é dono de um discurso contrário à integração regional pelo Mercosul, disputa a Casa Rosada contra o atual ministro da Economia de Alberto Fernández, o peronista Sergio Massa. No primeiro turno, o candidato apoiado pelo governo terminou à frente do seu opositor: 36,8% dos votos, contra 29,9%. Mas as pesquisas têm indicado uma disputa acirrada entre os dois.
Durante a entrevista desta terça, o presidente brasileiro não citou nomes de candidatos, apesar de, nos bastidores, haver preferência do governo brasileiro por uma vitória de Sergio Massa. O PT, partido de Lula, já se manifestou a favor do candidato peronista na disputa.
Por outro lado, um triunfo de Javier Milei poderia inflar os ânimos de bolsonaristas que se identificam com o candidato. No primeiro turno, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), esteve em Buenos Aires e chegou a dar entrevistas a emissoras locais apoiando o candidato da oposição.
Lula lembrou que o primeiro país que visitou antes de tomar posse para o seu primeiro mandato, após vencer as eleições de 2002, foi a Argentina, à época comandada por Eduardo Duhalde. O presidente brasileiro também citou a relação entre os homólogos Raúl Alfonsín e José Sarney, no fim da década de 1980, que deu origem à criação do Mercosul, além do diálogo estabelecido por ele em gestões anteriores com os ex-presidentes Nestor e Cristina Kirchner.
Ao defender a estabilidade na relação entre os países, Lula exaltou o fluxo comercial entre Brasil e Argentina, e argumentou que a solidez de uma aliança regional é importante para que as nações da América do Sul consigam melhores condições para negociar com blocos econômicos de outros continentes.
“Hoje o mundo está dividido em blocos. É o bloco europeu, é o bloco asiático. Precisamos criar o nosso bloco para negociar comercialmente com o resto do mundo. Poderemos fazer um acordo da América do Sul ou do Mercosul com a China, com a União Europeia, com os Estados Unidos. Agora, para isso, temos que estar juntos. Se a gente briga, a gente não vai a lugar nenhum”, disse.
“Nós precisamos estar juntos, sem divergência. Quando a gente tiver divergência, senta numa mesa, negocia e acaba com a divergência. Foi assim que convivi com a Argentina até agora”, completou.
Ao final do programa, Lula ressaltou que a escolha do novo presidente argentino cabe à população local, mas argumentou pela importância da construção de um projeto de integração da região. “Eu só queria pedir ao povo argentino: na hora de votar, pense na Argentina. É soberano o voto de vocês, mas pensem um pouco no tipo de América do Sul, América Latina e Mercosul que vocês querem criar. Juntos, nós seremos fortes. Separados, nós somos fracos”, disse.
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