![]() A disputa sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, uma das novas fronteiras da indústria petrolífera brasileira, colocou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em rota de colisão com o Ibama e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. A Petrobras quer explorar um poço a 175 km da costa do Amapá e mais de 500 km da foz do Rio Amazonas, mas enfrenta resistência por conta de riscos ambientais e desafios técnicos. Na última quarta-feira (12), Lula criticou abertamente a demora do Ibama em conceder a licença para que a estatal possa realizar os estudos de viabilidade. “Se depois a gente vai explorar, é outra discussão. O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo”, disse o presidente, em entrevista à Rádio Diário FM, de Macapá. O embate acontece em um momento delicado para o governo. Em novembro, Belém sediará a COP-30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, onde o discurso internacional será focado na redução dos combustíveis fósseis. Enquanto isso, Lula pressiona para viabilizar um novo polo de extração de petróleo na Amazônia. Petrobras quer explorar área promissoraA exploração da Margem Equatorial é uma aposta da Petrobras para expandir a produção de petróleo no País. Estudos indicam que a região pode conter entre 10 e 30 bilhões de barris de petróleo, o que poderia elevar a produção nacional em mais de 1,1 milhão de barris por dia a partir de 2029. A estatal argumenta que, além de garantir a segurança energética do Brasil, a extração impulsionaria a economia local, gerando empregos e fomentando setores como hotelaria e alimentação. O presidente Lula também vê na exploração uma oportunidade para captar mais recursos via royalties, especialmente para estados amazônicos como o Amapá. O projeto, no entanto, enfrenta forte resistência do Ibama e de ambientalistas. Em maio de 2023, o órgão ambiental negou o primeiro pedido de licença ambiental da Petrobras, alegando que a operação representava riscos ambientais elevados. Entre os principais fatores para a negativa, estão:
Tensões entre Lula e Ibama – e desgaste com MarinaDesde o início de seu mandato, Lula tem defendido a expansão da produção petrolífera. A pauta ganhou ainda mais força com a eleição de Davi Alcolumbre (União-AP) à presidência do Senado, visto que a entrada de royalties do petróleo poderia fortalecer seu reduto eleitoral no Amapá. Apesar da resistência do Ibama, o governo federal busca formas de viabilizar a exploração. Em agosto de 2023, a Advocacia-Geral da União (AGU) publicou um parecer sugerindo que a questão fosse levada à Câmara de Conciliação da Administração Pública Federal (CCAF) para um acordo entre Petrobras e Ibama. Marina Silva se posicionou contra a medida, alegando que “não existe conciliação para questões técnicas”. Em outubro de 2024, 26 técnicos do Ibama rejeitaram os estudos apresentados pela Petrobras e recomendaram o arquivamento definitivo do processo de licenciamento. No entanto, o presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, abriu espaço para que a Petrobras complementasse as informações. Para contornar os entraves, a Petrobras propôs a construção de uma nova base de apoio em Oiapoque (AP), a cerca de 170 km do poço, para melhorar a resposta a emergências. As obras começaram em dezembro de 2024 e a inauguração está prevista para março de 2025. Agora, em fevereiro de 2025, Lula voltou a pressionar o Ibama e afirmou que pretende “destravar” a licença ambiental. O presidente minimizou a participação de Marina Silva no impasse e direcionou suas críticas ao Ibama, dizendo que a demora do órgão é “inadmissível”. A fala do presidente gerou forte reação dentro do órgão ambiental. Servidores acusam o governo de interferência política e afirmam que o processo de licenciamento está sendo conduzido sob pressão, em vez de seguir critérios técnicos. Contradição antes da COP-30O debate sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial também gera uma contradição no discurso do governo sobre transição energética. Lula já afirmou que o Brasil quer ser uma referência global na área, mas reconheceu em fevereiro de 2024 que, enquanto a transição não estiver consolidada, o País precisa explorar seu potencial petrolífero. O presidente argumenta que Suriname e Guiana já exploram petróleo na região, a apenas 50 km da costa brasileira, e que os recursos dessa extração poderiam financiar a proteção da floresta amazônica. “O dinheiro dessa extração vai nos garantir os recursos para cuidar da nossa floresta”, disse Lula. O embate dentro do governo levanta dúvidas sobre a blindagem política de Marina Silva. O Ibama é comandado por Rodrigo Agostinho, aliado de Marina e nome de sua confiança. Há especulações sobre uma possível troca no comando do órgão, o que poderia aprofundar o desgaste da ministra e gerar uma crise na agenda ambiental do governo. Com a COP-30 se aproximando, a disputa interna se torna ainda mais sensível. Um eventual avanço da exploração petrolífera na Margem Equatorial poderá gerar repercussão negativa internacional, colocando em xeque a credibilidade do Brasil como líder na pauta ambiental. |
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