 A nova polêmica de anúncio e recuo de medidas econômicas – desta vez com o pacote do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) da semana passada — voltou a expor o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que serviu novamente como um bombeiro num incêndio. Cientistas políticos ouvidos pelo InfoMoney avaliam que, para preservar o presidente Lula, Haddad acaba tendo de absorver o ônus desses momentos de desencontro das decisões do governo. Depois do recuo em parte dos aumentos das alíquotas do IOF o ministro da Fazenda afirmou nesta segunda-feira (26) que o governo tem até o fim desta semana para decidir como compensará a arrecadação. Leia também: “Governo não tem problema de corrigir rotas”, diz Haddad sobre IOF
Para o cientista político e analista da Dharma, Creomar de Souza, o ministro da Fazenda é a pessoa dentro do governo a quem cabe dar as notícias ruins. “ Tenho impressão que Haddad vem sofrendo um processo de desgaste desde setembro do ano passado. Quando a agenda do Haddad começa a perder vigor, o mercado e atores políticos passaram a ver que Haddad não está mais no círculo mais próximo a Lula”, explica.
Segundo Rafael Cortez, da Tendências, obviamente tenta-se preservar o presidente Lula e com isso Haddad é a figura que acaba aparecendo. “Ele paga um custo de ser o ministro que tem que aumentar a arrecadação, mas é parte do ônus do cargo,” avalia o cientista político.
No entanto, Cortez aposta que, no ajuste orçamentário de 2025, o governo ainda parece seguir na direção que o ministro Haddad colocou, não houve mudança de meta nem alteração metodológica. “Mas há dúvidas que o mercado vai ficar por conta destas cenas de um novo equilíbrio,” afirma.
Para o especialista, é no segundo semestre que vai ser possível medir o quanto o projeto de reeleição contaminou a agenda econômica e em particular a politica fiscal. Recuos na economia Já Creomar de Souza enumera uma série de episódios em que a equipe econômica precisou voltar atrás: primeiro teve a taxação das “blusinhas”, ou seja dos produtos importados da China, depois o recuo nas novas regras do Pix e agora mais este recuo em relação às alíquotas do IOF.
“Em todas estas crises a gente tem um motivador que passa basicamente pelo fato de que o governo não tem um processo de coesão decisória e que nenhum tipo de estratégia naquilo que envolva identificação, análise e mitigação de risco pra si mesmo” analisa Souza.
Para ele, a cada recuo passa a percepção de que é um governo sem convicção, não tem coragem de bancar suas próprias decisões, se elas sofrerem muita pressão. É um governo que a cada estresse dá um passo atrás,” complementa.
O ministro Haddad, na opinião do cientista político, “tenta se posicionar como este cara que quer estabelecer um debate naqueles parâmetros que ele considera mais ilustrados. Ele quer falar de justiça tributária, por exemplo. Mas apanha de todo mundo”, conclui.
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