O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), repreendeu o ex-ministro Aldo Rebelo durante seu depoimento como testemunha na ação que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado articulada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A audiência ocorreu nesta sexta-feira (23) e foi marcada por momentos de tensão.

Rebelo, que também foi presidente da Câmara dos Deputados, foi questionado se o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria colocado tropas à disposição de Bolsonaro durante o período pós-eleição de 2022. Em sua resposta, ele relativizou o conteúdo da fala atribuída a Garnier, afirmando que seria necessário considerar as nuances da “força de expressão” da língua portuguesa.

Leia também

Valdemar diz que Eduardo Bolsonaro deve retornar ao Brasil após licença nos EUA

Filho “03” do ex-presidente deixou o país em fevereiro alegando perseguição do STF; dirigente do PL participa de evento em São Paulo

Líder do PT quer prisão de Eduardo Bolsonaro por atentado à soberania nacional

Lindbergh alega que o objetivo de Eduardo é o de “constranger” a Corte, deslegitimar o ministro

“Quando alguém diz ‘estou frito’, não significa que está em uma frigideira. Quando diz ‘estou apertado’, não está literalmente sob pressão. Da mesma forma, dizer ‘estou à disposição’ não precisa ser lido ao pé da letra”, afirmou Rebelo.

A argumentação irritou o ministro Moraes, relator do caso, que interrompeu o depoimento: “O senhor estava na reunião quando o almirante Garnier disse a expressão? Então o senhor não tem condição de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos”, afirmou o magistrado.

Rebelo respondeu prontamente: “Em primeiro lugar, a minha apreciação da língua portuguesa é minha e eu não admito censura.” A troca seguiu com Moraes elevando o tom: “Se o senhor não se comportar, o senhor será preso por desacato.”

A Primeira Turma do STF iniciou nesta sexta-feira a oitiva das testemunhas de defesa de Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, e de Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil. Ambos são réus no processo que apura a tentativa de subversão institucional após a derrota de Bolsonaro nas urnas.

Desde segunda-feira (19), o Supremo ouve testemunhas da acusação e da defesa. Já prestaram depoimento o ex-comandante do Exército Freire Gomes, o ex-comandante da Aeronáutica Baptista Júnior e um diretor da Polícia Rodoviária Federal, entre outros.