A decisão judicial que condenou a mineradora Samarco e suas donas Vale (VALE3) e BHP a pagarem R$ 47,6 bilhões por danos morais coletivos no desastre ambiental de Mariana (MG) mostra às empresas “o tamanho do problema” que elas devem enfrentar caso as ações continuem tramitando na Justiça, afirmou à Reuters o procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior. A condenação pela Justiça Federal, na semana passada, ainda em primeira instância, tratou apenas dos danos morais coletivos, cujos valores corrigidos pela inflação — conforme prevê a decisão — podem ultrapassar os R$ 90 bilhões, segundo o procurador-geral, que acompanha o caso como representante do Ministério Público estadual. Ele também ressaltou que outros diversos temas ainda precisariam ser definidos. Para Soares Júnior, o acordo ainda é o melhor caminho para pacificar a questão. “Ainda tem muitas instâncias pela frente e terão novas decisões ainda”, afirmou. “Faltam [decisões relacionadas a] meio ambiente, saúde, atingidos, danos [econômicos] para municípios, Estados e União, então a soma vai dar muito alta”. O rompimento da barragem da Samarco, uma joint venture da brasileira Vale com a anglo-australiana BHP, ocorreu em novembro de 2015 e liberou uma onda gigante de rejeitos de mineração que matou 19 pessoas, deixou centenas de desabrigados e atingiu florestas e o rio Doce, em toda a sua extensão, até o mar no Espírito Santo. Procuradas, Samarco, Vale e BHP informaram que ainda não foram notificadas sobre a decisão judicial e reiteraram o compromisso com a reparação integral dos danos causados pelo rompimento. Em dezembro, as negociações para um acordo de repactuação, de um termo inicial para reparação dos danos — assinado entre as mineradoras e autoridades ainda em 2016 — foram paralisadas, quando valores apresentados pelas mineradoras foram considerados muito aquém do necessário por autoridades. O retorno das conversas agora está marcado para o próximo mês. “Nós temos uma [nova] reunião em fevereiro. No final do ano passado teve uma em que as coisas não funcionaram. Eles colocaram um valor muito aquém das expectativas”, afirmou o procurador-geral mineiro. “E essa decisão [judicial] chegou, e é uma decisão que de certo modo mostra para as empresas o tamanho do problema que elas estão”. Soares Júnior evitou detalhar a proposta financeira feita pelas empresas nas negociações, alegando que o processo está em sigilo, mas reportagens locais apontaram que a oferta foi de R$ 42 bilhões, pouco mais do que os cerca de R$ 38 bilhões fechados em acordo pelo rompimento de barragem da Vale em Brumadinho, em janeiro de 2019. A segunda tragédia deixou 270 mortos, mas atingiu uma área muito menor. O procurador-geral de Justiça de Minas Gerais adiantou que as reuniões técnicas, do que precisa ser feito, já foram praticamente concluídas. O que está pendente agora é a definição de valores e prazos, principalmente. Para Soares Júnior, um acordo no caso de Mariana traria muito mais previsibilidade para as mineradoras, que deixariam de ficar expostas a decisões judiciais, ao passo que as tarefas de compensação e reparação de danos também poderiam ocorrer de forma mais célere, organizada e eficaz. Paralelamente, corre na Justiça de Londres um processo sobre o caso, de 36 bilhões de libras (mais de R$ 220 bilhões na cotação atual), relacionado ao pior desastre ambiental da história do Brasil. “Nós não queremos que fique nada além do que é devido, mas também nada aquém. Acordo é sempre um acordo, é sempre algo que não vai ser 100% do que cada um queria”, afirmou o procurador. “As pessoas estão sofrendo desde ontem e essas decisões judiciais ficam sujeitas a recursos, que vão chegar lá muito amanhã. Então nós queremos cuidar do hoje, porque as pessoas estão passando todas essas dificuldades.” Fim da fundação Renova Até dezembro passado, tinham sido destinados R$ 34,7 bilhões de reais às ações de reparação e compensação a cargo da Renova, informou a Vale anteriormente. |
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