Após um início de ano mais difícil para boa parcela dos multimercados, que terminaram o primeiro semestre com ganhos atrás do CDI, uma das apostas de gestores para os produtos no segundo semestre está em posições que possam se beneficiar do começo do processo de flexibilização monetária. “Desenvolvidos não encerraram e países em desenvolvimento podem iniciar o ciclo de afrouxamento monetário. É muito mais fácil de pegar e é provável que ocorra entre o segundo semestre deste ano e o primeiro semestre do ano que vem”, conta o co-CEO e portfólio manager da Alphatree Capital, Jonas Doi. Atualmente, a casa possui uma posição aplicada em juro brasileiro e está com uma alocação vendida em dólar contra real, ou seja, apostando no enfraquecimento da moeda americana diante da divisa brasileira. Além de posições em juros, a casa detém uma aposta na desvalorização da moeda chinesa contra o dólar. “Diferentemente de 2021 quando os países estavam em sintonia na subida de juros, agora eles estão perdendo isso. Europa e Estados Unidos estão subindo as taxas, enquanto a China está com uma política monetária mais frouxa”, defende o profissional. O executivo pondera que o volume de saída de dinheiro do gigante asiático também tem sido significativo. Leia mais Apostas em açõesMas há quem veja mais oportunidade em ações. Mesmo após um semestre de avanço para a Bolsa, a expectativa é que ela seja o “cavalo de troia” dos próximos meses, na avaliação do CIO da Suno Wealth, João Arthur Almeida. O especialista considera que há menos “gordura” para obter ganhos com o fechamento, ou seja, com a queda dos juros futuros. Logo, posições em juros não devem ser o grande destaque. Por outro lado, a Bolsa estaria com os múltiplos mais comprimidos e a queda da Selic tenderia a beneficiar o recuo das despesas financeiras das empresas e incentivar investimentos. “Agora, quem está chegando atrasado, paga um pouco mais caro [mas] compra menos incerteza”, pondera Almeida. Apesar de defender que a Bolsa deve ser o grande trunfo, o profissional lembra que os gestores ainda estão com uma alocação mais baixa nessa classe de ativos, porque ainda há muita incerteza em relação à sustentabilidade fiscal do país e por não ser possível descartar eventuais mudanças de rota. “A ala mais racional do governo está bem forte. Tivemos a melhora da nota do Brasil pela S&P [Global Ratings] e isso tende a fortalecer essa ala e a reduzir a chance de uma guinada no curto prazo”, observa o profissional. Um dos papéis que podem continuar se destacando são os de empresas do tipo small caps (companhias de menor valor de mercado). O especialista lembra que elas costumam ser mais alavancadas, ou seja, com um nível mais elevado de endividamento e que tendem a performar bem em um ciclo de retomada com a queda dos juros. Infraestrutura e aérea “fora do radar”Já na Exploritas, as apostas estão em ações mais ligadas à infraestrutura e soluções ambientais, com destaque para Hidrovias do Brasil (HBSA3), Sabesp (SBSP3) e Ambipar (AMBP3), por exemplo, como explica o sócio-fundador da gestora, Daniel Delabio. Uma das maiores posições do Exploritas Alpha América Latina FIM hoje está em Hidrovias do Brasil, que acumula uma alta de pouco mais de 39% no ano até o fechamento da última segunda-feira (3). Outra aposta montada recentemente está em Copa Holdings, que tem como subsidiária a Copa Airlines. Delabio justifica que a companhia deve ser beneficiada pela retomada de viagens internacionais impulsionada pela valorização de moedas de países emergentes. Já do lado interno, o gestor destacou a capacidade que a companhia tem em oferecer conexões em países estratégicos da América Central, como o Panamá. De olho na ArgentinaPara além de ações, a casa também está com uma alocação comprada (que se beneficia da valorização) em títulos de dívida corporativa de companhias da Argentina – depois de zerar uma posição em ações do país. Segundo o gestor, os preços dos títulos caíram, enquanto os de ações subiram. Apesar da troca, o executivo diz que pode voltar ao mercado acionário argentino, caso os preços voltem a recuar e haja uma troca de governo. Os “hermanos” devem voltar às urnas em outubro deste ano para escolher um novo presidente. Todos os pré-candidatos já foram definidos. O atual presidente, Alberto Fernández, não vai concorrer. Mauricio Macri, que o antecedeu na Casa Rosada, também não, e nem a atual vice-presidente, Cristina Kirchner, que foi presidente por dois mandatos. O principal embate deve ser, mais uma vez, entre o peronismo de esquerda (herdeiros políticos de Juan Perón, que foi presidente da Argentina três vezes no século passado) e a centro direita. Posições em EUA também devem trazer ganhosOutras posições que também devem trazer bons retornos são alocações vendidas em Bolsa americana e vendidas em dólar contra moedas mais defensivas, como a libra esterlina, por exemplo, afirma o CIO da Kinea Investimentos, Marco Freire. O executivo explica que a resiliência do consumo, combinada a um nível de poupança acumulado mais alto e a um mercado de trabalho resiliente, ajudaram a postergar a desaceleração nos Estados Unidos nos últimos meses. Porém, ele afirma que os indicadores de quantidade de horas trabalhadas e os pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos já começaram a registrar uma piora nos últimos números, o que sugere que o mercado de trabalho já passou a sentir os efeitos da desaceleração econômica. De olho na queda da atividade econômica no país, o mercado acionário americano também tende a sofrer, contrariando o forte avanço visto nos últimos meses. No acumulado do primeiro semestre, o S&P 500, por exemplo, apresentou alta de quase 16%, enquanto o Nasdaq subiu 32%. |
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