A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta terça-feira (19) a Operação Contragolpe, revelando um plano elaborado e articulado por militares das Forças Especiais e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro para supostamente impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), a partir de janeiro de 2023. O esquema incluía a captura e a possível morte do ministro do STF Alexandre de Moraes, além dos homicídios de Lula e Alckmin. Batizado de “Punhal Verde e Amarelo”, o plano, segundo as investigações, apontou para reuniões clandestinas, uso de técnicas militares avançadas e planejamento logístico detalhado. Entre novembro e dezembro de 2022, o grupo teria planejado ações golpistas em encontros com figuras de alto escalão do governo do então presidente Jair Bolsonaro e criado um gabinete paralelo para administrar o país após uma possível ruptura democrática. Até agora, cinco pessoas foram presas, incluindo militares de elite e um policial federal. As investigações seguem envolvendo figuras próximas ao ex-presidente Bolsonaro, mas ainda sem denúncia formal contra ele. Confira, a seguir, o que já se sabe sobre a possível trama contra Lula, Alckmin, Moraes e a tentativa de golpe, com base nas investigações da Polícia Federal, a partir da Operação Contragolpe, além das reações e primeiros desdobramentos. “Punhal Verde e Amarelo”O planejamento denominado “Punhal Verde e Amarelo” descreve ações específicas para assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. A operação foi concebida com nível técnico militar detalhado, incluindo o uso de explosivos, envenenamento e armamento pesado. A execução deveria ocorrer em 15 de dezembro de 2022, antes da posse, e faria parte de uma estratégia maior para impedir a consolidação do novo governo. A PF destacou que o plano possuía características terroristas, com riqueza de detalhes sobre recursos necessários e possíveis consequências. O documento foi impresso no Palácio do Planalto e levado para o Palácio da Alvorada, residência oficial de Jair Bolsonaro, embora ele não tenha sido formalmente acusado. Tentativa de assassinato de Alexandre de MoraesO grupo golpista iniciou o monitoramento de Alexandre de Moraes logo após uma reunião realizada na casa do general Braga Netto, em novembro de 2022. Mensagens e documentos indicam que técnicas militares de anonimização foram empregadas, como o uso de códigos e linhas telefônicas habilitadas com dados de terceiros, para dificultar o rastreamento. Além do planejamento detalhado de captura, teria um plano de assassinato do ministro. As investigações, porém, não esclarecem porque o plano não foi executado, apenas que houve um recuo da ação, por parte dos investigados. Plano de envenenamento de LulaO envenenamento foi identificado como uma das principais estratégias para eliminar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. O planejamento, parte da operação “Punhal Verde e Amarelo”, incluia o uso de substâncias químicas letais como método discreto e eficiente para interromper a transição de governo. Tentativa de assassinato de Geraldo AlckminO assassinato de Geraldo Alckmin incluiu uma estratégia para desarticular completamente a chapa presidencial vencedora, da eleição de 2022. A eliminação de Alckmin, combinada com a de Lula, visava criar um vácuo político que permitisse ao grupo golpista tomar o controle do país. Organização e LiderançaInvestigações apontam que reuniões estratégicas ocorreram na casa do general Braga Netto, ex-ministro e aliado de Bolsonaro. Participaram dessas reuniões Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e outros militares, incluindo os majores Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima. Nessas reuniões, foram discutidas as táticas operacionais e as diretrizes do plano golpista. A liderança do grupo seria atribuída aos generais Braga Netto e Augusto Heleno, que coordenariam um “Gabinete de Crise” para gerenciar o país após a execução do golpe. Documentos revelam que esse gabinete teria como objetivo consolidar a ruptura democrática e criar respaldo legal para as ações ilegais. Operação “Copa 2022”O grupo utilizou um aplicativo de mensagens criptografadas, Signal, onde mantinham um grupo denominado “Copa 2022”. Os participantes adotaram códigos baseados em países, como “Japão” e “Gana”, para manter o anonimato. Linhas telefônicas habilitadas com CPFs de terceiros foram usadas para dificultar o rastreamento de mensagens. As conversas indicam que o grupo era altamente organizado e utilizava protocolos militares de sigilo, como exfiltração e ocultação de informações. No dia planejado para a ação, as mensagens detalhavam pontos de encontro, transporte e estratégias para evitar detecção pelas autoridades. Ação da Polícia FederalA Operação Contragolpe prendeu cinco suspeitos diretamente ligados ao planejamento do golpe: quatro militares e um policial federal. Entre eles estava o general da reserva Mário Fernandes, apontado como figura-chave no planejamento e execução. Todos os envolvidos pertenceram a um núcleo de elite com treinamento técnico-militar avançado. As investigações indicam que o grupo tinha acesso a recursos logísticos e financeiros de alto nível. Além disso, os militares presos estavam diretamente ligados à elaboração do plano, o que reforçava a tese de envolvimento das Forças Armadas no esquema golpista. Jair BolsonaroRelatórios indicam que Bolsonaro teria dado aval para ações golpistas até o último dia de seu mandato, em 31 de dezembro de 2022. Áudios e mensagens recuperadas mostram que ele discutiu o plano com aliados e acompanhou o andamento das ações. Contudo, até o momento, Bolsonaro não foi formalmente acusado. A impressão do documento “Punhal Verde e Amarelo” no Planalto, sob seu governo, reforça suspeitas de que o então presidente sabia do planejamento. Apesar disso, sua defesa alega ausência de provas concretas de envolvimento direto. Reação InstitucionalO Supremo Tribunal Federal reagiu prontamente ao expor a gravidade dos fatos e autorizar prisões. O ministro Alexandre de Moraes destacou que o plano golpista representava uma ameaça direta à democracia e ao Estado de Direito. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, classificou as revelações como “estarrecedoras”. Ele enfatizou que as instituições democráticas estavam funcionando e que as atitudes golpistas não têm espaço no Brasil. Filho do ex-presidente, Flavio Bolsonaro afirmou que, “por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime. E para haver uma tentativa é preciso que sua execução seja interrompida por alguma situação alheia à vontade dos agentes. O que não parece ter ocorrido.” Enquanto isso, a reação de Lula, ao saber da suposta trama, foi de “surpresa e indignação“, segundo o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, que comunicou ao presidente sobre a operação. Técnicas e RecursosO grupo utilizou técnicas de anonimização, como a habilitação de linhas telefônicas em nome de terceiros, para manter o sigilo. Esses métodos, comuns em operações militares, foram empregados para coordenar os movimentos e evitar a identificação dos envolvidos. As ações foram planejadas com precisão militar, incluindo exfiltração, uso de códigos e criação de pontos de resgate. Delação de Mauro CidApós a operação, a Polícia Federal solicitou a anulação da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, por possível omissão de informações. Cid participou de reuniões sobre o plano golpista, conforme as investigações, e trocou mensagens com outros envolvidos, mas negou envolvimento direto. A PF acredita que ele não cumpriu integralmente o acordo de delação e solicitou a revogação de benefícios, como redução de pena. O caso será analisado pela Procuradoria Geral da República. O ministro do STF Alexandre de Moraes marcou para quinta-feira (21), às 14h, um novo depoimento do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. (Com Agência Brasil, Reuters e Estadão Conteúdo) |
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