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Judiciário

Os 3 primeiros sinais do governo sobre a política fiscal em 2024 (e o que esperar)

- 25/03/2024 19 Visualizações 18 Pessoas viram 0 Comentários
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O Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias (RARDP) referente ao primeiro bimestre de 2024, divulgado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento e pelo Ministério da Fazenda na última sexta-feira (25), deu importantes sinalizações sobre os rumos da política fiscal do governo no ano e a viabilidade do cumprimento das metas estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Apesar de manter, por ora, o objetivo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de zerar o déficit primário em 2024, o documento mostrou uma revisão nas projeções para receitas e despesas, indicando a necessidade de bloqueio de R$ 2,9 bilhões em despesas orçamentárias para respeitar o limite de gastos determinado pelo arcabouço fiscal. Além disso, foi apresentada uma nova estimativa para o resultado primário do governo central: déficit de R$ 9,3 bilhões (ou 0,1% do PIB), ante projeção inicial de superávit de R$ 9,1 bilhões, conforme a peça orçamentária. O novo número, contudo, está dentro da margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB (ou R$ 28,8 bilhões) para o cumprimento da meta, autorizada pelo marco fiscal.

O relatório, porém, não foi capaz de dissipar o ceticismo do mercado financeiro quanto às projeções feitas pela equipe econômica para o comportamento de receitas e despesas ao longo do ano e sua capacidade do governo federal de entregar o tão almejado equilíbrio das contas públicas.

Para Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, o recado geral do documento é que os números estão “mais realistas”. Mas ele sustenta que, ao longo do ano, a combinação de bloqueio e contingenciamento orçamentário precisará convergir para um corte de gastos mais robusto, já que, na sua avaliação, as despesas com previdência social seguem subestimados em cerca de R$ 20 bilhões e ainda haveria um excesso de otimismo com o comportamento das receitas.

Visão semelhante teve a equipe de análise econômica do Bradesco, que diz que, mesmo com o ajuste promovido na linha de gastos com benefícios previdenciários, suas estimativas são de um rombo “bastante superior”. A casa projeta um déficit primário de 0,7% do PIB no ano, mas reconhece que “os dados de arrecadação de janeiro e fevereiro colocam um viés de melhora” no cenário.

Na avaliação de Tiago Sbardelotto, economista da XP, o primeiro relatório bimestral do ano trouxe “informações mistas”. “A revisão nas receitas como concessões e imposto de renda/CSLL refletiu premissas mais realistas sobre os efeitos das medidas de aumento de receita, especialmente em relação aos ganhos com a revisão das concessões ferroviárias e a mudança nos subsídios sobre ICMS e juros sobre capital próprio (JCP)”, diz.

“No entanto, ainda observamos premissas otimistas sobre: 1) a revogação da isenção de impostos para o setor de eventos (Perse) e os cortes de impostos sobre a previdência social para os municípios, cujos efeitos foram incluídos no relatório, mas têm forte oposição política; 2) as estimativas para o CARF e transações tributárias (R$ 97,5 bilhões), que não apresentaram efeitos até fevereiro; 3) os ganhos na revisão das concessões ferroviárias, ainda longe das expectativas do mercado. Com relação aos gastos, notamos que os benefícios previdenciários e de assistência social (BPC/LOAS) continuam subestimados em cerca de R$ 20 bilhões, de acordo com nossas estimativas”, continua.

A XP mantém a projeção de um déficit de R$ 74,5 bilhões (0,6% do PIB) no ano. A casa acredita que o governo federal apresentará novas medidas para aumentar a receita no próximo relatório bimestral, para manter o déficit abaixo de R$ 13 bilhões − o que permitirá um novo aumento de gastos de R$ 15,7 bilhões. Com o novo espaço adicional, será possível acomodar despesas previdenciárias subestimadas e reduzir a necessidade de bloqueios adicionais ao Orçamento − além de empurrar para o segundo semestre a provável discussão sobre revisão da meta de déficit zero.

Veja os 3 principais sinais trazidos pelo Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do primeiro bimestre:

1. Novas projeções para receitas

As estimativas para a receita primária total recuaram R$ 31,457 bilhões (de R$ 2,720 bilhões previstos na LOA para R$ 2,688 bilhões no primeiro RARDP), sendo R$ 17,746 bilhões das administradas pela Receita Federal (exceto RGPS e líquida de incentivos fiscais) e R$ 22,276 bilhões das não administradas.

No primeiro grupo campo, os principais destaques foram a redução do Imposto de Renda (R$ 37,474 bilhões) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (R$ 10,322 bilhões), ambas afetadas por novas estimativas para os efeitos das as alterações promovidas no regramento das subvenções para investimento e dedutibilidade dos Juros Remuneratórios sobre o Capital Próprio (JCP).

Por outro lado, houve um aumento nas projeções para a contribuição para o PIS/PASEP (R$ 6,193 bilhões), a Cofins (R$ 3,436 bilhões) − ambos afetados pela restrição do governo às compensações de créditos tributários, assunto ainda em discussão no Congresso Nacional −, o Imposto de Importação (R$ 3,343 bilhões), afetado pela elevação de alíquotas médias, e o IPI (R$ R$ 3,178 bilhões). Além da arrecadação líquida para o Regime Geral de Previdência Social (R$ R$ 8,564 bilhões). Todos afetados por mudanças nos parâmetros macroeconômicos do Ministério da Fazenda (incremento do PIB, queda de inflação e juros e aumento da massa salarial) e em resultados de arrecadação acima do previsto até o momento.

Já do lado das receitas não-administradas pela RFB, a redução foi resultado de revisões nas projeções para arrecadação com Exploração de Recursos Naturais (R$ 14,488 bilhões), em razão das expectativas para a taxa de câmbio (de 5,08 R$/US$ para 4,92 R$/US$) e o preço do barril do petróleo (de US$ 83,51 para US$ 82,49), e com concessões e permissões (R$ 12,803 bilhões), afetadas pelas receitas de renegociação de contratos do setor ferroviário − por conta de possível reprogramação do cronograma de pagamentos ao longo de 2024 e 2025. Do lado positivo, destaque para a elevação da receita de dividendos e participações (R$ 2,234 bilhões), da Contribuição do Salário Educação (R$ 1,816 bilhão), e das Receita Próprias e de Convênios (R$ 1,235 bilhão).

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2. Novas projeções para despesas

Já as projeções das despesas primárias apresentaram um aumento de R$ 1,602 bilhões em relação aos valores contidos na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024. O movimento ocorreu mesmo com a retirada de apoio financeiro a Estados e Municípios da conta (R$ 8,139 bilhões), provenientes da perda de arrecadação do ICMS com leis complementares aprovadas na gestão anterior, que foi antecipado em 2023.

De acordo com o relatório, os principais aumentos de projeções de despesas foram com sentenças judiciais e precatórios (R$ 7,814 bilhões), benefícios previdenciários (R$ 5,567 bilhões) − justificado pelo fato de a projeção inicial da LOA não ter considerado a execução completa de 2023 e pelas estimativas de gastos do governo terem sido revistas para baixo pelo Congresso Nacional, além de uma aceleração da concessão de benefícios para redução da fila de requerimentos −, créditos extraordinários (R$ 4,103 bilhões), despesas com Fies (R$ 2,631 bilhões) e abono e seguro desemprego (R$ 1,608 bilhões).

No sentido oposto, além da antecipação da ajuda aos entes subnacionais, também ganham destaque as reduções de despesas com pessoal e encargos sociais (R$ 4,600 bilhões) e subsídios, subvenções e Proagro (R$ 1,839 bilhão).

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3. Arrecadação com novas medidas

Outro destaque do relatório bimestral foi a apresentação de uma revisão (para cima) dos efeitos gerais esperados com medidas arrecadatórias pelo governo. A lei orçamentária anual previa receita adicional de R$ 167,599 bilhões com as medidas, enquanto o documento fala em R$ 168,330 bilhões no acumulado de 12 meses.

Algumas das ações já foram aprovadas pelo Congresso Nacional − como a retomada do voto de qualidade a favor da União no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) ou a mudança nas regras para subvenções de ICMS. Ambos os casos têm despertado ceticismo no mercado financeiro, com economistas indicando não ter visto impactos significativos das medidas sobre a arrecadação federal nos dois primeiros meses do ano. Para o primeiro, a estimativa do governo caiu de R$ 35,348 bilhões para R$ 25,862 bilhões. Já para o segundo, foi de R$ 54,714 bilhões para R$ 55,647 bilhões.

O caso em que os efeitos regulatórios mais foram sentidos nas contas públicas até o momento envolve a lei que alterou as regras para aplicações financeiras mantidas por brasileiros no exterior (“offshores”) e que instituiu o chamado “come-cotas” sobre fundos exclusivos. No primeiro caso, o governo estima arrecadar R$ 5,639 bilhões (ante R$ 7,049 bilhões projetados na LOA). Já no segundo, foi mantida a projeção de R$ 13,280 bilhões.

Outras medidas indicadas no relatório ainda dependem do aval dos parlamentares, como o caso da limitação para compensações de créditos tributários − o que adiciona um ingrediente de incerteza relevante sobre os cálculos. O governo espera arrecadar R$ 24 bilhões apenas com essa medida, que não foi estimada na LOA.

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As novas estimativas seguem muito mais otimistas do que as de agentes do mercado financeiro, que, apesar de verem maior realismo nas contas do governo, mantêm a aposta em um déficit superior a 0,5% do PIB em 2024 e a expectativa de que a meta fiscal seja revista ao longo da execução orçamentária.




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