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Esportes

Overtraining: excesso de exercícios prejudica saúde; saiba se você está se excedendo

- 06/09/2025 2 Visualizações 2 Pessoas viram 0 Comentários
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Em meio aos benefícios para a saúde do crescimento de esportes como corrida, natação, triatlo, entre tantos outros, especialistas alertam para dois riscos pouco falados, mas bastante prevalentes, que podem surgir quando o treino é realizado em excesso e sem os devidos cuidados, mesmo entre atletas amadores: a síndrome de overtraining e a síndrome da deficiência energética relativa no esporte (RED-S).

Os quadros foram tema importante no Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM 2025), em Gramado, que termina hoje. Um dos principais efeitos na saúde desse excesso, alertaram os especialistas presentes, é o impacto na produção de hormônios.

Ricardo Oliveira, mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Câmara Técnica de Endocrinologia do Conselho Federal de Medicina (CFM), conta que os quadros estão ligados a uma maior produção de cortisol, que é o hormônio de estresse, e a uma queda nos hormônios T3 e T4, produzidos pela tireoide e que regulam diversas funções no corpo:

— O cortisol é o principal hormônio do estresse, e o exercício por si só já é uma atividade que gera estresse, então gera uma hiperestimulação crônica. Nos indivíduos que têm síndrome de overtraining, de 40% a 75% podem ter uma alteração no ritmo circadiano do cortisol, produzindo mais à noite. A longo tempo, atletas de endurance podem ter também uma queda da testosterona. Até exercício demais pode ser veneno.

As síndromes podem acometer homens e mulheres, embora a RED-S fosse mais associada, no passado, à população feminina. Isso porque um dos primeiros sinais entre as mulheres é a amenorreia, quando ela deixa de menstruar, facilitando o diagnóstico. Isso acontece justamente pelo impacto na produção de um outro hormônio, o estrogênio.

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O overtraining e a RED-S são semelhantes, mas Andréa Fioretti, coordenadora do departamento de Endocrinologia do Esporte e Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), explica que eles se diferem na sua origem.

Enquanto o overtraining é relacionado especificamente ao excesso de exercício, ultrapassando a capacidade de recuperação do corpo, a RED-S diz respeito a um balanço energético negativo, que pode ser causado tanto pelo gasto calórico muito alto devido ao overtraining, como por uma alimentação insuficiente para suprir as calorias diárias necessárias.

— São problemas que dialogam. Na RED-S, o paciente não tem energia suficiente para funções básicas do organismo. Então ele come, mas gasta tudo o que consome no exercício, sem sobrar para as outras funções do corpo. Uma revisão da literatura com 49 estudos e 6 mil indivíduos mostrou que em torno de 45% dos atletas de alto rendimento têm alterações ligadas à RED-S. Mas ela é pouco diagnosticada — diz ela, que é especialista do Núcleo de Endocrinologia do Esporte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

No caso do overtraining, Oliveira, explica que, além de treinar demais, um fator de risco importante é ter um sono curto ou de má qualidade:

— É comum vermos pacientes que vão dormir 00h, 00h30 e acordam às 5h para pedalar porque é mais seguro nesse horário. Alguns sinais comuns de alerta da síndrome são queda de rendimento inexplicável, estar sempre fadigado, perda de massa muscular sem mudar o treino, queda de libido e alterações de humor ou sono.

Mesmo com um gasto energético alto, o emagrecimento pode não ser um sinal de alerta por muitas vezes o atleta já ter um peso baixo. Andréa explica que, nesse caso, algo comum é ele parar de ganhar, ou até perder, massa muscular, apesar de fazer musculação.

— O que o atleta tem que pensar é “estou comendo o suficiente”, “estou sendo pressionado a ter um peso muito baixo?”, “estou me esforçando muito e não consigo melhorar?”, “estou tendo muitas lesões?”, “me recupero mal da lesão?”. E é importante frisar que não é restrito a atletas profissionais. O atleta recreacional não ganha dinheiro, mas às vezes se impõe uma rotina que tem um nível de exigência parecido — afirma a coordenadora da SBEM.

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Os endocrinologistas explicam, porém, que o diagnóstico é clínico, ou seja, não envolve a dosagem dos hormônios. Os exames podem ser solicitados para servirem como um auxílio, apenas. Já o tratamento envolve adequar o balanço energético e o ritmo dos treinos, diz Andréa:

— É ajustar alimentação em relação ao que se gasta. Isso significa ou aumentar a ingestão ou diminuir o volume de treino. Apenas com isso, você muitas vezes normaliza os hormônios e consegue fazer com que o atleta melhore. O básico é a restauração dessa disponibilidade energética que vem do equilíbrio entre o que se come e o que se precisa de energia para o esporte e para viver adequadamente.

Ela alerta que dietas da moda, como jejum intermitente e sem carboidrato, não devem ser adotadas por atletas. Isso porque quem pratica atividade física com mais frequência precisa de depósito de glicogênio nos músculos, que são usados como energia no exercício:

— Sem carboidrato, ele não forma essas reservas. Então, muitas vezes, o atleta fica se entupindo de proteína quando ele precisa de uma dieta equilibrada de carboidrato, de proteína e até de gordura para produzir seus hormônios da maneira correta.

Sintomas das síndromes do overtraining e da deficiência energética:

  • Irregularidade ou interrupção da menstruação;
  • Queda no rendimento esportivo;
  • Fadiga crônica;
  • Alterações no humor;
  • Distúrbios do sono;
  • Queda de libido;
  • Aumento de lesões e
  • Perda (ou não ganho) de massa muscular.

O repórter viajou a convite do Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM 2025).




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