 O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a atuação clandestina dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), integravam o núcleo estratégico da organização criminosa instalada na instituição durante o último governo. O documento, entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), aponta que os dois estavam entre as figuras de alto escalão que compunham o centro decisório da operação. Esse núcleo, segundo a PF, era responsável por definir as diretrizes estratégicas da organização criminosa, determinar os alvos — entre eles opositores políticos, instituições públicas e o próprio sistema eleitoral — e colher os benefícios políticos das ações. Estrutura paralela de inteligência servia a fins políticosA investigação da PF revelou que uma organização de “alta potencialidade ofensiva” operou de forma sistemática e clandestina no interior da Abin, utilizando recursos humanos, tecnológicos e financeiros do Estado para finalidades políticas ilegais. O esquema, segundo o relatório, desviava a finalidade institucional da agência e operava à margem da legalidade. A estrutura contava com servidores da própria Abin e com policiais federais cedidos à agência, que aderiram à lógica da organização criminosa. O grupo teria atuado na espionagem de adversários, produção de dossiês e uso indevido de sistemas de monitoramento geoespacial. Carlos Bolsonaro participava da definição de alvos, diz PFA PF afirma que Carlos Bolsonaro não apenas tinha conhecimento das operações ilegais como participava ativamente da definição de alvos e estratégias. O núcleo comandado por ele e por Jair Bolsonaro seria o principal destinatário das “vantagens” indevidas do esquema, sobretudo no campo político. Além da tentativa de desestabilizar adversários e criar narrativas de ameaça institucional, o grupo teria buscado minar a credibilidade de órgãos do Judiciário e das forças democráticas, segundo os investigadores. Uso da hierarquia e dissimulação institucionalO relatório detalha ainda como os altos gestores da Abin à época se aproveitaram da estrutura hierárquica da agência para mascarar as ações ilegais sob aparente legalidade. Comandantes internos determinavam as ações a subordinados, muitas vezes por vias informais, e ocultavam a verdadeira finalidade das ordens emitidas. A PF destaca que o uso reiterado da estrutura estatal para fins ilícitos configura grave violação ao Estado Democrático de Direito. Um dos objetivos centrais da organização, segundo o documento, era garantir a permanência de Jair Bolsonaro no poder, inclusive por meios que configurariam ruptura institucional. Indiciamento e próximos passosCarlos Bolsonaro já foi formalmente indiciado pela PF por sua suposta participação no esquema. O caso está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes no STF, que agora deve decidir se transforma os indiciamentos em denúncias criminais, após manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR). O caso se soma a outros inquéritos em curso contra aliados próximos do ex-presidente, incluindo o que apura a trama golpista de 2022 e o uso de dados falsos para atacar as urnas eletrônicas.
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