![]() A desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre de 2025, com alta de 0,4% na comparação com o trimestre anterior, e de 2,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, confirma os sinais de moderação já captados pelos dados setoriais. De acordo com economistas, o dado reflete o impacto da safra recorde, que teve efeito concentrado no primeiro trimestre, e está atrelado ao juro alto, ao tarifaço e à queda de investimentos. O quadro geral reforça a tendência de desaceleração da economia nos próximos trimestres, de acordo com economistas. DesaceleraçãoPara Leonardo Costa, economista do ASA, a desaceleração “vem sobretudo da normalização do agro e da queda do investimento; por outro lado, Serviços e Indústria aceleraram na margem, com transporte e extrativas em destaque”, afirma . Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da GO Associados, afirma que “agora é como se o motor do carro tivesse perdido um pouco de potência”. “A economia já não está crescendo tanto quanto no primeiro trimestre”, diz Gesner. “A razão deste fato é a agropecuária, que foi a estrela no primeiro trimestre, mas agora está tirando o pé do acelerador. Isso é natural no primeiro trimestre, que é o período de colheita, há um crescimento maior.” Rafael Perez, economista da Suno Research, destaca que os sinais de moderação após o forte crescimento no início do ano são reflexo da política monetária, que deve se estender para o segundo semestre. “A política monetária restritiva tende a impactar com mais força a atividade na segunda metade do ano, ao mesmo tempo em que o elevado endividamento das famílias, as incertezas fiscais e as turbulências externas podem adicionar riscos”, diz Perez. A economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal, afirma que o cerne da mensagem é resiliência. “A mensagem de desaceleração segue válida. O PIB só coloca em dúvida a velocidade dessa desaceleração”, afirma . O resultado vem levemente acima da mediana do mercado, que estava em 0,3% de acordo com a Bloomberg. Os dados mostram queda no agronegócio (-0,1%), no consumo do governo (-0,6%) e na formação bruta de capital fixo (-2,2%). Os serviços voltaram a acelerar na margem, em 0,6%. Consumo das famílias, emprego e rendaPerez destaca que o crescimento no consumo das famílias de 0,5% reflete as condições favoráveis do mercado de trabalho e da manutenção dos programas sociais. “A combinação de taxa de desemprego em mínimas históricas, crescimento dos salários, avanço do mercado formal têm sido um pilar de sustentação para o consumo e mitigado os efeitos dos juros elevados”, diz. Política monetária restritivaA restrição do juro alto da política monetária se reflete na Formação Bruta de Capital Fixo, que recuou 2,2% no trimestre. A perspectiva de manutenção da Selic em 15% até o início do próximo ano, somadas às condições menos favoráveis para o crédito, devem continuar limitando os investimentos e dificultando a sustentação do crescimento do setor ao longo de 2025, avalia Perez. TarifaçoA queda de 2,9% nas importações puxa parte da desaceleração da economia, reflexo da guerra comercial dos os EUA e de uma base de comparação elevada no primeiro trimestre, segundo Perez. O economista destaca que as exportações apresentaram uma alta de 0,7%, influenciadas pela safra recorde de grãos e o aumento da produção da indústria extrativa, além de uma antecipação de vendas ao exterior por conta da guerra comercial. Gastos do governoA menor expansão dos gastos do poder público no segundo trimestre reflete-se na queda de 0,6% no consumo do governo. O resultado foi influenciado pela aprovação tardia do orçamento em abril, pelo efeito calendário dos precatórios, concentrados no terceiro trimestre, e pelo menor ritmo de expansão dos benefícios sociais, analisa Perez. Indústria e serviçosO avanço de 0,6% no setor de serviços foi sustentada pelas condições favoráveis do mercado de trabalho e o avanço dos serviços empresariais. Perez destaca as Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (2,1%), Informação e comunicação (1,2%), Transporte, armazenagem e correio (1,0%). Por outro lado, segmentos mais dependentes do crédito, como o varejo (0,0%), já vêm mostrando perda de fôlego, ressalta Perez, sentindo os efeitos das taxas de juros elevadas. O segmento extrativista foi o que puxou a indústria, que avançou 5,4% com o aumento da produção de petróleo, gás e minério de ferro. Já as Indústrias de Transformação (-0,5%) e a Construção (-0,2%) recuaram, refletindo os efeitos da política monetária restritiva sobre setores mais sensíveis ao ciclo econômico doméstico. ProjeçõesOs economistas mantêm as projeções de desaceleração gradual da atividade doméstica no restante do ano, com PIB de 2,2% em 2025, segundo o ASA. Para Victal, o desempenho da economia evita leituras mais negativas sobre a atividade, e garante um carrego estatístico de 2,4% para 2025. “Isso torna a alta de 2,5% no ano mais plausível. Estamos revisando nossas projeções, mas vemos um viés altista para os 2.2% que projetávamos antes da divulgação de hoje”, diz a economista-chefe. Corte da SelicNa análise de Victal, o resultado confirma o cenário de estabilidade da Selic em patamar contracionista, o que reforça a visão de cortes apenas em 2026. |
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