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Economia

Por que a Bolsa brasileira tem forte queda apesar da deflação em junho?

- 11/07/2023 10 Visualizações 10 Pessoas viram 0 Comentários
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Conforme esperado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na manhã desta terça-feira (11) uma deflação medida pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, a primeira observação de inflação negativa desde setembro de 2022, com baixa de 0,08% frente maio.

Apesar do dado apontando deflação, abrindo portas para o início do corte de juros e que impulsionaria a Bolsa, o Ibovespa registra uma sessão de forte queda, com baixa de 1,30%, a 116.432 pontos, por volta das 11h30 (horário de Brasília) desta terça-feira (11), enquanto os juros futuros tem ganhos. Já o dólar comercial sobe 0,35%, a R$ 4,899 na compra e R$ 4,900 na venda.

No mercado de juros futuros, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 tinha alta de 12,81% para 12,86%; a do DI para janeiro de 2025 avançava de 10,745% para 10,84%. Já para janeiro de 2027 tinha alta de 10,155% para 10,235%.

Mas o que explica esse movimento?

Em primeiro lugar, o dado do IPCA foi ligeiramente menos expressivo do que o esperado. A mediana das expectativas era de uma deflação de 0,10%. Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 3,16%.

Ainda que abaixo dos 3,94% observados nos 12 meses até maio e até mesmo do centro da meta, que é de 3,25%, o dado reforçou a projeção de um início do ciclo de corte de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de forma mais amena do que era esperado, levando a um reajuste de expectativas. Se no fim da semana passada, logo após a aprovação da reforma tributária na Câmara, havia uma divisão maior do mercado sobre um corte de 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto em agosto, as apostas de um corte menor voltaram a prevalecer.

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Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, aponta que, com isso, as ações de consumo doméstico, como varejistas e construtoras, registram as maiores baixas do Ibovespa, com queda entre 4% e 5% de Petz (PETZ3), EzTec (EZTC3), CVC (CVCB3), Via (VIIA3), entre outras, enquanto bancos também caem forte.

Para a equipe de economia da XP, em síntese, a composição do IPCA e suas medidas agregadas reforçam o ‘primeiro estágio’ da desinflação no Brasil, puxado por alimentos e bens industriais.

No entanto, as métricas de serviços seguem rodando muito acima da meta de inflação e reforçam a visão da casa de que o Banco Central iniciará o ciclo de flexibilização cautelosamente com um corte de 0,25 ponto percentual em agosto, seguido de cortes de 0,50 ponto a partir de setembro, encerrando o ano em 12,0%. “Mantemos nossa projeção de 4,7% para o IPCA de 2023 e de 4,1% para o IPCA de 2024”, avalia a XP.

Para os economistas, não houve surpresas baixistas significativas em relação às suas projeções, que se espalharam pelos itens alimentícios e industriais.

Conforme o esperado, a deflação de junho em relação a maio foi puxada por automóveis novos (-2,76%), gasolina (-1,14%), gás de botijão (-3,82%) e alimentos, com destaques para carnes (-2,10%), leite e derivados (-1,28%), frutas (-3,38%) e óleos e gorduras (-5,32%). Como antecipado pelo IPCA-15, tivemos contribuições altistas em aluguéis e taxas (1,24%), passagem aérea (10,96%), além de energia elétrica (1,17%).

Na mesma linha, a Levante Corp aponta que o resultado de junho foi muito influenciado pelas deflações de alimentos, combustíveis e automóveis novos.

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Porém, nessa lista, apenas o subitem veículos novos faz parte dos núcleos de inflação. Com isso, os núcleos da inflação foram positivos, variando na média em 0,20%. “Além disso, o impacto baixista na inflação de junho deverá se dissipar ao longo dos próximos meses, fazendo a inflação acumulada em 12 meses voltar a superar 4% em algum momento do 3T23, e se aproximar de 5% no fim do ano, de acordo com as edições mais recentes do Relatório Focus”, aponta a Levante.

Para a casa de análise, no caso recente do IPCA, a grande discussão é até quanto a queda da inflação se deve a um movimento geral de desaceleração da economia e quanto é resultado de um movimento pontual derivado da retirada de impostos sobre os combustíveis. A interpretação dessa questão vai definir a trajetória dos juros ao longo do segundo semestre.

“Por isso, apesar da inflação negativa de junho, não devemos esperar uma forte redução nas taxas de juros no curto prazo. É quase um consenso que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá reduzir os juros na próxima reunião, agendada para agosto. As projeções estão divididas quase que igualmente entre cortes de 0,25 e de 0,50 ponto percentual. No entanto, ainda é um ponto em aberto qual será a estratégia do Copom depois disso”, aponta a equipe de análise.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, também reforça que seguem preocupando as medidas da inflação de serviços e serviços subjacentes, que permanecem elevadas e não condizentes com a meta do BC. Além disso, a média dos núcleos, que desacelera em relação ao mês anterior também veio acima das expectativas.

“O resultado não deve ser capaz de alterar nossas expectativas de cortes de juros para o restante do ano, mas afasta a ideia de que os primeiros cortes possam ser já mais agressivos, de 50 pontos-base. O ciclo deve se iniciar com cortes mais graduais, de 25 pontos-base”, avalia Mercadante.

Enquanto isso, a pressão política sobre o BC continua. Em live na manhã desta terça-feira (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar Roberto Campos Neto em relação à política monetária restritiva adotada pelo Banco Central. Ele disse que o presidente do Banco Central era “tinhoso”, mas que a inflação está caindo e logo a Selic também irá cair.

Cabe ressaltar que os novos diretores do Banco Central, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, assinarão seus termos de posse na quarta-feira pela manhã e passarão depois disso a exercer os cargos a que foram nomeados, informou a autarquia nesta terça, o que confirma que ambos participarão do encontro de agosto do Copom.

Reforma tributária também no radar

O noticiário sobre a reforma tributária também ganha destaque. Após a aprovação no fim da semana passada pelo Senado, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cogitam fatiar a PEC da reforma tributária. Sabendo de prováveis alterações por parte dos senadores, o projeto seria dividido em duas partes. Com a medida, o que for consenso entre as Casas segue para a promulgação e os pontos sem um acordo continuarão sendo debatidos no Congresso.

Para Basotto, do Simpla Club, fatiar a reforma pode ser um risco, porque o Senado pode aprovar o que for de consenso e adiar a tramitação de pontos até mais importantes da reforma.

Já no fim da manhã, a Reuters informou, citando fontes, que o líder do MDB do Senado, Eduardo Braga (AM), será o relator da reforma tributária na Casa. A escolha pelo nome de Braga, que já foi governador do Amazonas, teria sido acertada em jantar na véspera com a presença do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (União-AP), disse uma das fontes.

A expectativa é que as discussões sobre a reforma tributária na CCJ, colegiado pelo qual a reforma já aprovada pela Câmara iniciará sua tramitação no Senado, só comecem após o recesso parlamentar, em agosto, segundo a agência.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), declarou-se favorável à reforma, mas cobrou medidas para a manutenção da Zona Franca de Manaus.

Apesar da queda forte na sessão, Bassotto avalia que a baixa do Ibovespa é pontual, não devendo afetar a tendência positiva para o mercado como um todo.

(com Reuters)




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