A expressão “data dependence” (dependência de dados) ganhou destaque no debate sobre a política monetária dos Estados Unidos. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, vem reforçando que as decisões do banco central americano estão cada vez mais atreladas aos indicadores econômicos, especialmente os de inflação e emprego. Por isso, o mercado acompanha de perto cada novo dado. Nesta semana, os números do mercado de trabalho dos EUA impactaram diretamente as expectativas para os juros básicos e apontaram para um ritmo mais moderado no afrouxamento monetário. Na terça-feira (1), o relatório Jolts mostrou uma abertura de vagas maior do que o esperado entre julho e agosto. Na quarta, o relatório ADP destacou um aquecimento na criação de empregos em setembro. Para completar, o Payroll, divulgado hoje, superou as previsões, com um crescimento expressivo no número de postos de trabalho. Diante disso, o consenso de um corte mais modesto – de 25 pontos-base – nos juros americanos se fortaleceu. De acordo com o CME FedWatch, às 15h desta sexta-feira, 95,7% dos participantes do mercado estão apostando nessa redução na próxima reunião do Fomc, em 7 de novembro. Há uma semana, ou seja, antes dessa bateria de indicadores, eram 67,9% e, em 27 de setembro, as opiniões ainda estavam divididas entre cortes de 25 e 50 pontos-base. Juros nos EUABeto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, diz que “o Payroll coloca o ponto final” na discussão sobre o próximo corte de juros na reunião do Fomc, que termina no mesmo dia em que o Copom anuncia o próximo movimento da Selic. “O dado praticamente converge as expectativas para uma queda de 25 pontos”. Além de perseguir uma meta de inflação, o mandato do Federal Reserve ainda prevê a garantia de um mercado de trabalho sustentável. A autarquia vem se mostrando confortável com os dados de inflação, por isto, um ritmo acelerado nos cortes de juros pode não ser interessante para o emprego. É o que explica Marcos Moreira, sócio da WMS Capital. O dado de hoje também afasta o receio de uma recessão nos Estados Unidos. “Não vemos sinais claros disto para justificar que a política monetária do Fed está atrasada”, comenta Moreira. Agora, é de se esperar um “PIB forte, mas com inflação mais alta, cenário que o brasileiro conhece bem”, diz Saadia. Próximos indicadoresEsta semana foi decisiva para criar consenso no mercado sobre o próximo corte de juros porque concentrou a divulgação dos principais dados de emprego até a próxima reunião do Fomc. Até lá, o único dado aguardado com maior expectativa é o CPI (índice de preços ao consumidor).
Mesmo com o Payroll de outubro saindo na semana anterior à reunião do Fomc, o próximo relatório só muda o plano de ação do Fed “se vier uma catástrofe, com dados muito fracos”, segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. Já o CPI, tido como o indicador preferido do Fed na formulação da política monetária, também se torna secundário considerando uma inflação convergindo – ainda que lentamente – para um nível confortável e “só mudaria mudará a projeção de juros se vier muito acima das expectativas”, diz Moreira. O próximo debateApós a reação imediata ao Payroll, Borsoi projeta que o mercado pode rever as projeções de juros para o ano que vem. Para ele, dois cortes de 25 pontos em 2024 são quase certos, mas um mercado de trabalho pujante pode atrapalhar os planos de quem espera juros baixos em 2025. O economista vê um Fed “mais propenso ao cenário de menor corte de juros” para não atrapalhar o mercado de trabalho, além de projetar que o primeiro ano de mandato de Kamala Harris ou Donald Trump pode trazer estímulos fiscais inflacionários, daí a necessidade de não cortar tanto a taxa dos Fed Funds. |
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