A regulamentação das apostas no Brasil já apresenta seus primeiros frutos expressivos. Dados divulgados pela Receita Federal mostram que, entre janeiro e maio deste ano, a arrecadação com a tributação das casas de apostas superou a marca de R$ 3,026 bilhões. Somente no mês de maio, o governo arrecadou R$ 814 milhões, estabelecendo um novo recorde mensal para o setor.

A marca é ainda mais significativa se considerada a expectativa inicial do governo, que estimava uma receita bruta anual com taxas variando entre R$ 8 bilhões e R$ 20 bilhões, com uma média prevista de R$ 12 bilhões por ano. Ou seja, em apenas cinco meses, o setor já atingiu mais de 25% da projeção média anual, o que evidencia o rápido crescimento e a força econômica dessa indústria emergente.

Apostas superam segmentos tradicionais da economia

O desempenho do mercado de apostas regulado já supera, em arrecadação tributária, setores consolidados da economia brasileira. No mesmo período, o setor educacional gerou R$ 516 milhões em tributos, o comércio varejista arrecadou R$ 507 milhões e a fabricação de máquinas e equipamentos, R$ 408 milhões.

“O início da regulação trouxe mais previsibilidade e segurança para o setor, além de abrir portas para investimentos mais robustos e parcerias mais sólidas. Embora ainda haja ajustes a serem feitos, os primeiros meses mostram um mercado em amadurecimento, onde quem prioriza boas práticas tende a se consolidar com mais força”, avalia André Baldavira, Head de Marketing da GingaBet.

Potencial de crescimento e alerta para o mercado ilegal

Mesmo com os bons números, especialistas do setor alertam que ainda há um enorme espaço para crescimento — e riscos a serem combatidos. Segundo Igor Sá, CMO e COO da HiperBet, o aumento da tributação sobre o GGR (Gross Gaming Revenue) de 12% para 18%, aliado à entrada de novas operadoras no mercado, pode elevar ainda mais a arrecadação. No entanto, ele também chama atenção para um obstáculo relevante: o mercado ilegal.

“O que é importante destacar é que, para a manutenção desse caminho de evolução de recolhimento de tributos, também é fundamental o acompanhamento e banimento das operações ilegais, de maneira mais firme e efetiva, para impedir que estes recursos se percam no mercado clandestino”, afirma Sá.

Um estudo da LCA Consultores, realizado entre abril e maio deste ano com apoio do IBJR (Instituto Brasileiro de Jogo Responsável), revela que o Brasil ainda perde R$ 10,8 bilhões por ano com o funcionamento de plataformas ilegais de apostas. O levantamento mostra que 61% dos entrevistados admitiram ter apostado em sites não regularizados neste ano — muitas vezes, sem saber dos riscos envolvidos.

Além disso, 78% dos apostadores dizem ter dificuldade para identificar se uma plataforma é legal ou ilegal, e 72% relatam que nem sempre conseguem verificar a regularidade dos sites. Um dado ainda mais preocupante: 73% dos apostadores disseram ter usado pelo menos uma plataforma ilegal em 2025, mesmo após a regulamentação.

Regulamentação X alta de impostos

O CEO da InPlaySoft, Alex Rose, reforça que a regulamentação traz benefícios concretos, como geração de empregos, arrecadação e movimentação da economia. No entanto, ele destaca que o excesso de tributação pode causar o efeito reverso, incentivando a ida do público ao mercado ilegal.

“O setor de apostas esportivas contribui significativamente para o orçamento do país, pois impulsiona a economia nacional, gera empregos e paga impostos. Regulamentar o setor é importante para o crescimento da economia local e gera um impacto muito positivo para a União. O que não pode acontecer é um valor de imposto muito alto, pois isso acabará levando a população a recorrer a operadores ilegais”, alerta Rose.

Já Fellipe Fraga, CBO da EstrelaBet, reforça a necessidade de olhar para os números como prova de que o setor precisa ser tratado com planejamento estratégico.

“Pela primeira vez, temos dados consolidados que revelam o impacto real da arrecadação no mercado de apostas regulado – mais de R$ 3 bilhões apenas nos cinco primeiros meses do ano. Isso marca um divisor de águas e mostra que estamos lidando com um setor que deve ser tratado com seriedade e estratégia”, afima.

“Ainda assim, esses números poderiam ser ainda mais expressivos se houvesse uma repressão mais eficiente ao mercado ilegal, que drena receitas e compromete a concorrência leal”, complementa.

Cultura do “jogo responsável”

O avanço do mercado regulado também acende um alerta sobre a importância da educação e conscientização do apostador. Daniel Fortune, influenciador especializado em jogo responsável, destaca que o crescimento do setor deve vir acompanhado de ações que promovam a segurança dos usuários.

“O mercado de apostas já é uma realidade consolidada no Brasil, e os números confirmam isso. Com esse avanço das apostas online, torna-se ainda mais urgente promover uma cultura de educação, consciência e apoio ao jogador. Incentivar o jogo responsável é fundamental para garantir a confiança do público, oferecer segurança a quem aposta e construir um ambiente mais saudável e sustentável para todos os envolvidos”, comenta.

O que esperar dos próximos meses

Se mantido o ritmo atual, a arrecadação de tributos com apostas poderá ultrapassar a média projetada pelo governo ainda em 2025. Com o avanço da regulação, aumento da fiscalização e entrada de novas operadoras legalizadas, o Brasil se consolida como um dos mercados mais promissores do mundo no segmento de apostas esportivas e jogos online.

Ao mesmo tempo, será preciso atenção redobrada para equilibrar arrecadação, combate ao mercado ilegal e proteção ao consumidor. O setor está diante de uma oportunidade histórica — e os próximos passos serão determinantes para garantir que esse crescimento se traduza em desenvolvimento sustentável, justo e seguro para todos.