 Enquanto o aço exportado para os EUA enfrenta a sobretaxa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump, o aumento das importações do produto no Brasil tira espaço da produção nacional no mercado interno e pode causar uma perda de até 37,6 mil empregos nas siderúrgicas brasileiras. A projeção é do Instituto Aço Brasil, entidade que representa as indústrias do setor no país, que empregam 117 mil pessoas. Presidente do Conselho Diretor da entidade, André Gerdau Johannpeter destacou, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, que, somente entre janeiro e julho deste ano, o volume de importações de aço subiu 40%, variando de 457 mil toneladas a 3,6 milhões de toneladas. O volume representa 30% do consumo interno. “Entendemos que a importação faz parte, mas dentro de um número razoável, que é o histórico de 10% a 12% (do consumo interno). E há ainda 6,1 milhões de toneladas em produtos que contêm aço, como máquinas e veículos, que poderiam estar sendo fabricados no Brasil”, afirmou o executivo, que também é presidente do Conselho de Administração da siderúrgica Gerdau. Alta capacidade ociosaJohannpeter também apontou que, atualmente, a indústria siderúrgica nacional opera com 66% da capacidade, “muito abaixo” dos 80% esperados para o setor. Nesse cenário, o Aço Brasil estima que, se as importações continuarem em trajetória ascendente, o uso da capacidade produtiva pode baixar a 40%, forçando as siderúrgicas a eliminar cerca de 37 mil empregos. Em contrapartida, caso as indústrias consigam alcançar 80% de capacidade, 17 mil vagas poderiam ser abertas, estimou o executivo. Corte na ajuda humanitária americana: Bill Gates acusa Elon Musk de estar ‘envolvido na morte das crianças mais pobres do mundo’ O cenário é ainda mais pressionado com as tensões entre os Estados Unidos e o Brasil, desde a imposição pelo presidente americano de tarifas de 50% sobre exportações brasileiras. A indústria do aço, porém, enfrenta taxas específicas. Em março, passaram a valer 25%. Em junho, o percentual alcançou 50%. “A situação não está sustentável. Nosso maior desafio é com a importação, com risco de desemprego e investimentos, que podem ser postergados ou até cancelados, a depender da empresa”, afirmou o executivo. Exportadores de gusa articulam clientes nos EUAEnquanto isso, os produtores de ferro-gusa do Brasil que exportam o aço semi-acabado para os EUA têm mantido conversas com compradores americanos à medida em que as tensões comerciais aumentam as preocupações sobre os embarques dessa commodity essencial para a produção de aço em solo americano. Até o momento, o ferro-gusa tem sido poupado das tarifas americanas mais pesadas impostas a alguns produtos brasileiros. Mas conversas entre produtores e compradores estão em andamento e provavelmente haverá negociações contratuais caso a commodity enfrente tarifas mais altas, disse Silvia Nascimento, sócia da produtora de metais Grupo Ferroeste e diretora-executiva da siderúrgica Aço Verde do Brasil. “É perfeitamente compreensível que esse imposto (de importação) seja de responsabilidade do cliente americano. Mas, se as coisas mudarem, eles vão querer sentar e negociar (preço)”, disse ela às margens de uma conferência do setor em São Paulo. Enquanto o presidente americano Donald Trump impôs tarifa de 50% sobre alguns produtos brasileiros, o ferro-gusa ficou na lista de exceções, com uma taxa de 10%. O Brasil é o maior fornecedor do material para os Estados Unidos. Cerca de um terço das exportações de ferro-gusa do país no primeiro semestre deste ano teve como destino o mercado americano, segundo dados do governo. Mesmo que o ferro-gusa tenha sido favorecido por enquanto, Silvia Nascimento ainda teme que as relações entre os dois países possam “se deteriorar”. A executiva viajará em outubro para se reunir com clientes e discutir a inclusão de uma cláusula contratual para tratar da questão tarifária. A Ferroeste exporta 140 mil toneladas de ferro-gusa por ano para os Estados Unidos. (Com Bloomberg Neews)
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