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Economia

TCU sugere revogar ou alterar cinco gastos tributários que somam R$ 102,7 bi

- 26/08/2025 6 Visualizações 6 Pessoas viram 0 Comentários
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Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que cinco dos 14 principais gastos tributários do país são considerados de alto risco por terem falhas graves estruturais ou de governança, com resultados negativos.

Entre eles, estão a isenção de investimentos como da poupança e de setores imobiliário e do agronegócio, que deve entrar na pauta do Congresso após o governo editar uma Medida Provisória prevendo cobrança de impostos sobre alguns destes ativos.

Também entraram no radar do TCU as deduções do IRPF com educação e saúde, estímulos ao setor automotivo, informática, automação, Zona Franca de Manaus e áreas de livre comércio. Juntos, eles somam R$ 102,7 bilhões.

Gastos tributários somam R$ 544,5 bi

Ao todo, os gastos tributários do Brasil somam R$ 544,5 bilhões, o que equivale a 4,89% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Esses gastos tributários se referem às renúncias fiscais, ou seja, aos setores em que o governo dá isenção ou redução de imposto para incentivar determinadas atividades econômicas ou beneficiar uma parcela da população.

O assunto foi tema de debate na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (26), no seminário “Gastos Tributários: Caminhos para a Eficiência”.

O senador Efraim Filho alertou que os gastos tributários têm se revelado maiores que o estimado, após a promulgação da Lei 14973/2024 que exige que empresas declarem à Receita Federal os benefícios que usufruem.

“Os valores têm se revelado superiores ao que era estimado, podendo ultrapassar R$ 800 bilhões anuais”, afirma. Ele alertou também que 80% do orçamento federal está comprometido com gastos obrigatórios que, se continuarem crescendo, “vão chegar a um momento em que vão engolir o que ainda resta de capacidade de investimento.”

Maiores gastos tributários

Entre os maiores gastos tributários, está o Simples Nacional, que unifica oito tributos federais, estaduais e municipais para micro e pequenas empresas. Em 2025, este programa representará a renúncia de R$ 120,97 bilhões em recolhimento de impostos.

Em seguida, estão os incentivos ao agronegócio (agricultura e agroindústria), com a desoneração de produtos da cesta básica e também de fertilizantes e defensivos. Essas políticas somam R$ 83,05 bilhões.

O terceiro maior gasto tributário está na dedução do rendimento tributável, que permite abater despesas com saúde e educação da base de cálculo do IRPF, com R$ 34,76 bilhões.

Gastos tributáriosValor (R$ bi)% do total
Simples Nacional120,9722,22
Agricultura e Agroindústria (desoneração da cesta básica e fertilizantes e defensivos agrícolas)83,0515,25
Rendimentos Isentos e Não Tributáveis – IRPF59,9610,46
Entidades Sem Fins Lucrativos45,548,36
Deduções de Rendimento Tributável – IRPF34,766,38
Desenvolvimento Regional30,015,51
Zona Franca de Manaus e Áreas de Livre Comércio29,895,49
Poupança e Títulos de Crédito – Setor Imobiliário e do Agronegócio22,194,08
Medicamentos, Produtos Farmacêuticos e Equipamentos Médicos20,433,75
Benefícios do Trabalhador18,443,39
Pesquisas Científicas e Inovação Tecnológica8,821,62
Microempreendedor Individual – MEI8,761,61
Informática e Automação8,131,49
Setor Automotivo7,771,43
Financiamentos Habitacionais6,451,18
Perse – Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos5,661,04
Embarcações e Aeronaves3,890,71
Programa Mover3,80,7
Outros 46 gastos tributários28,925,31
Total544,5100
Fonte: Gastos Tributários e o Desafio Fiscal do Brasil/TCU

Falhas de estrutura e governança

O TCU avaliou essas políticas de acordo com o grau de risco, e fez um ranking com os principais gastos tributários. A metodologia envolve a avaliação do impacto, eficácia, transparência, gestão e rigidez política ou jurídica do benefício, em que são somados pontos para chegar a um grau de risco.

Neste ponto, os gastos tributários avaliados como de maior risco são a isenção de investimentos como poupança e títulos de crédito imobiliário e do agronegócio, deduções de saúde e educação do IRPF, estímulos ao setor automotivo, informática, automação, Zona Franca de Manaus e áreas de livre comércio.

Para o TCU, a isenção do IRPF sobre rendimentos em poupança e títulos de crédito (LCI, LCA, CRI, CRA), feito para estimular esses investimentos vinculados à áreas de desenvolvimento do país, é um benefício de alto risco por conter falhas graves de
governança e ausência de avaliações. O TCU avalia que não há evidências que comprovem que estes investimentos não ocorreriam sem o incentivo. A manutenção foi desaconselhada pelo TCU, que sugere a revogação ou “alteração profunda e urgente”.

Os estímulos para o setor automotivo também foram classificados como de alto risco. Esta política, que visa estimular o desenvolvimento da indústria no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, possui “falhas estruturais e graves, incluindo ausência de diagnóstico prévio”, com impacto muito baixo ou negativo na geração de empregos “com custo fiscal altíssimo”, afirma o relatório.

As deduções com gastos de educação e saúde foram avaliadas como de alto risco ao orçamento porque o programa apresenta “falhas estruturais graves” por concentrar 88% dos benefícios nos 20% mais ricos, além de “sua incoerência com as políticas universais de saúde (SUS) e educação (PNE)”. Para o TCU, os recursos poderiam ser alocados em políticas de maior impacto social, como o SUS.

Gastos TributáriosRiscoNotaAvaliaçãoRecomendação
Poupança e Títulos de Crédito – Setor Imobiliário e do AgronegócioAlto11Falhas graves de governança; resultados nulos; ausência de avaliaçãoRevogação ou alteração profunda e urgente
Setor AutomotivoAlto11Falhas estruturais graves; resultados negativos; ausência de avaliaçãoAlteração profunda e urgente
Deduções de Rendimento Tributável – IRPFAlto10Falhas estruturais graves; resultados negativos; alta viabilidade de reforma; uso ineficiente e refressivo de recursos públicosAlteração profunda ou revogação
Zona Franca de Manaus e Áreas de Livre ComércioAlto10Falhas estruturais graves; resultados negativos; ausência de avaliação; extinção inviável por barreiras políticas e constitucionaisAlteração profunda
Informática e AutomaçãoAlto10Falhas estruturais graves; resultados controversos; insuficiência de avaliações sistemáticasNão prorrogar após vigência (2029)
Rendimentos Isentos – IRPF (Aposentadoria por Moléstia Grave)Médio9Ausência de acompanhamento permanente, falta de benefícios à sociedadeRevogação
Benefícios do TrabalhadorMédio9Ausência de acompanhamento; falta de adicionalidade dos resultados avaliados; dispersão dos gastos com regras distintas e problemas específicosControle, redução ou eliminação
Rendimentos Isentos – IRPF (Aposentadoria 65+)Médio9Ausência de acompanhamento permanente; falta de benefícios esperados; cumpre o caráter objetivoSem recomendação
Agricultura e Agroindústria (fertilizantes e defensivos agrícolas)Médio9Resultados negativos e ausência de avaliações sistemáticas; baixa viabilidade de revogação devido a barreiras políticas e constitucionaisReforma
Entidades Sem Fins LucrativosMédio8Falhas gravíssimas de governaça e resultados controversos; extinção inviável por barreiras políticas e constitucionaisReforma
Simples NacionalMédio7Falhas de governança e resultados controversos; extinção inviável por barreiras constitucionaisReforma
Agricultura e Agroindústria (Cesta Básica)Médio7Falhas de governaça e resultados negativos; extinção inviável por barreiras constitucionaisReforma
Desenvolvimento RegionalMédio7Custo elevado e falhas críticas de equidade e governançaNão prorrogar após vigência (2033)
Medicamentos, Produtos Farmacêuticos e Equipamentos MédicosMédio7Falhas relevantes de governança; resultados controversos; extinção inviável por barreiras constitucionais e políticasAlteração profunda
Microempreendedor Individual – MEIMédio7Formalizou trabalhadores autônomos e integrou à Previdência, mas enquadra pessoas fora do escopoRevisão de alíquota e combate à pejotização
Pesquisas Científicas e Inovação TecnológicaBaixo6Apesar das relevantes falhas de governança, os resultados positivos comprovados e a existência de múltiplas avaliações mitigam os riscosAlteração para aprimoramento
Fonte: Gastos Tributários e o Desafio Fiscal do Brasil/TCU




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