![]() A mira de Donald Trump se voltou de vez contra o Brasil? Os últimos dias foram de escalada nas tensões entre EUA e o governo brasileiro, o que justifica inclusive a recente queda dos ativos domésticos, como a Bolsa brasileira e o real, após recordes positivos na última semana. Apenas nesta quarta, o Ibovespa cai mais de 1% e o dólar também avança quase 1%, aproximando-se novamente dos R$ 5,50. A escalada maior se deu nesta quarta, após a divulgação mais cedo de uma nota pela assessoria de imprensa da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, em que fala de “perseguição política” contra Jair Bolsonaro, ecoando declarações recentes do presidente do EUA, Donald Trump, em apoio ao ex-presidente brasileiro. “Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação”, disse a embaixada. Itamaraty convocou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, para que o representante diplomático explique essa manifestação. No início da semana, em reação à mensagem de Trump em defesa a Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, sem citar o nome do presidente americano, que o Brasil é um “país soberano” que não aceita “interferência ou tutela de quem quer que seja”. Em meio a esse imbróglio, quase que paralelamente Trump afirmou que o Brasil não tem sido bom para seu país e que deverá anunciar novas tarifas sobre produtos brasileiros entre esta quarta e quinta-feira (10). “O Brasil, por exemplo, não tem sido bom para nós, nada bom”, disse Trump a repórteres em um evento com líderes da África Ocidental na Casa Branca nesta quarta. “Vamos divulgar um número para o Brasil, creio eu, no final desta tarde ou amanhã de manhã.” Trump disse que as taxas tarifárias anunciadas nesta semana foram baseadas em “fatos muito, muito significativos” e no histórico passado. Na terça (8), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já tinha avaliado que existe um “grau de incerteza” nas declarações do presidente dos Estados Unidos sobre elevação de tarifas que precisa ser avaliada ao longo do tempo. Ele reforçou que o Brasil está focado em promover um trabalho técnico junto ao governo norte-americano. Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o incômodo recente de Trump que culminou nas últimas declarações ocorreu principalmente em meio ao encontro dos BRICs entre domingo e segunda-feira. No próprio domingo à noite, Trump anunciou que uma tarifa adicional de 10% seria cobrada de países que “se alinharem às políticas antiamericanas do BRICS”, sem dar mais detalhes. Cruz avalia que o incômodo maior teria se dado pelo trabalho do grupo em buscar alternativas ao dólar e aos sistemas de pagamentos dos Estados Unidos. Conforme aponta o estrategista, diferentemente de crises passadas, a Guerra na Ucrânia e as sanções ao Irã tiveram efeitos menores no comércio entre os países que compõem o bloco em relação a outros períodos, justamente por seguirem comprando produtos um dos outros. De qualquer forma, esse foco maior dos EUA contra o Brasil tem um impacto negativo para as empresas do país, principalmente as exportadoras para os EUA. Malek Zein, analista de ações da Eleven Financial, avalia que uma possível taxação do Brasil numa alíquota de 10%, que é o que tinha sido ventilado até o momento, não teria impacto de uma forma estrutural no mercado brasileiro. “Observando a composição do mercado brasileiro, ele é predominantemente influenciado por commodities e pelo setor financeiro. O Ibovespa, em grande medida, reflete essa dinâmica”, avalia, apontando que as commodities estão excluídas deste acordo tarifário, não levando a um impacto direto para a Bolsa nacional. “De modo geral, o mercado como um todo seria afetado de forma limitada, com impactos maiores concentrados, sobretudo, na indústria. Para as empresas que exportam bens não-commodities, os impactos seriam localizados em alguns setores, com destaque para a indústria em geral, mas estes setores não representam uma parcela expressiva no mercado acionário”, avalia o analista. Cabe ressaltar, contudo, que as tarifas para commodities já têm afetado algumas ações da Bolsa brasileira, como foi o caso da WEG (WEGE3) na véspera. Ontem, Trump afirmou que iria anunciar uma tarifa de importação de 50% sobre o cobre. Na visão de analistas do UBS BB chefiados por Alberto Valerio, a notícia seria negativa para a WEG, dada a exposição de cerca de 25% da companhia ao mercado norte-americano. “Nós assumimos que o cobre representa cerca de 10% a 20% do custo dos produtos vendidos (CPV)”, afirmaram em relatório enviado a clientes nesta terça-feira. “Portanto, estimamos um impacto negativo de 0,7 ponto percentual na margem, caso metade do cobre utilizado pela WEG nos EUA seja importado, o que representaria um impacto negativo de 3,5% no lucro líquido estimado para 2026.” Neste cenário de incertezas, o dólar avança ante o real, especialmente pressionado pelas novas ameaças tarifárias e intensificando o temor local sobre o impacto na economia brasileira, destaca Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. “Os aumentos das tensões comerciais volta aos holofotes e contribui para um movimento de aversão ao risco dos ativos locais, agravada pelo desempenho negativo do Ibovespa e reforçando o movimento defensivo do mercado cambial, em uma pregão com liquidez reduzida devido ao feriado em São Paulo”, aponta o analista. (com Reuters e Estadão Conteúdo) |
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